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A pergunta que historiadora, irmã de Adriana Esteves, desvenda em livro

Em conversa com VEJA, Marcia Esteves Agostinho explica sua obra ‘Por que casamos?’

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 23h06 - Publicado em 1 ago 2023, 11h00

A professora e pesquisadora Marcia Esteves Agostinho, doutoranda em História pela Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, apresenta múltiplas perspectivas sobre o matrimônio em seu recém-lançado livro Por que casamos? Sexo e amor na vida a dois (ed. Almedina Brasil). Em conversa com a coluna, Marcia, que é casada e mãe de dois filhos (um de 25 anos e uma de 23), fala dos desafios que casais assumem nesse tipo de compromisso, como o da fidelidade. Semelhante fisicamente com a irmã, a atriz Adriana Esteves, ela ainda comenta quando precisou “passar pela sua sósia” num curso de inglês.

A vida a dois está com os dias contados? Nunca! Nós humanos não funcionamos bem sozinhos. Alguma forma de arranjo “a dois” sempre existirá.

No livro você tenta responder à pergunta do título. Afinal, por que casamos? A resposta mais simples é aquela que vem da ciência da complexidade: Humanos se unem porque esse é um comportamento adaptativo. A união de dois adultos com habilidades complementares favorece a sobrevivência da prole. Dito de outra forma, o casamento faz bem para os indivíduos e para a espécie. Há, porém, várias respostas para as perguntas mais complicadas. “Por que nós dois nos casamos?”; “Por que nossos pais se casaram?”; “Por que nossos filhos têm medo de casarem?”… O livro oferece caminhos para o leitor encontrar suas próprias respostas.

Do lado histórico, quando a humanidade passou a entender o casamento como um momento importante? O casamento pode ser visto como evolução do acasalamento na espécie humana. Neste sentido, ele emergiu como resposta às pressões da vida em ambientes cada vez mais complexos. Hoje a gente pode até pensar o casamento como um “momento” ou um “rito de passagem”. Mas ao longo da história humana o casamento era principalmente um fato da vida. Todas as grandes tradições elaboraram normas de conduta em torno deste fenômeno. Afinal, ele é crucial tanto para a sobrevivência quanto para a reprodução cultural das sociedades. Nós modernos, contudo, entendemos tradição como opressão. De fato, seguir a tradição restringe nossa liberdade individual. Daí vem o dilema atual. No discurso, somos contra a instituição do casamento. Mas na prática, continuamos sonhando em encontrar alguém para compartilhar a vida.

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A monogamia é uma prática cada vez mais criticada por sexólogos e defendida pelos mais conservadores. Por que este tema ainda é um tabu na sociedade? Tenho dado muitas entrevistas e me surpreendo com a frequência com que colocam a monogamia como polêmica.  Afinal, a alternativa à união monogâmica é a poligamia. Não consigo imaginar homens e, principalmente, mulheres ocidentais defendendo o que tanto criticam com relação aos costumes orientais. Daí me dei conta de que o que é polêmico ou tabu é a infidelidade.  Este sim é o tema difícil de se falar. No livro dedico um capítulo inteiro à infidelidade.  Ali discuto sem meias-palavras os impulsos e as dores que envolvem a traição ao compromisso conjugal.

Casamento e religião ainda seguem indissociáveis? Casamento e religião são fenômenos intrinsecamente humanos. Mas não creio que sejam indissociáveis.  Nas últimas décadas, ao mesmo tempo que cresce o número de casamentos, aumenta a parcela da população que se declara “sem religião”. As estatísticas mostram que casar é mais do que uma imposição religiosa.

A ficção muitas vezes aborda os dilemas da vida a dois e reflete experiências cotidianas. Sua irmã, Adriana Esteves, está no ar com uma série de sucesso, Os outros, que fala sobre os conflitos familiares. Como você analisa esta série, sob o ponto de vista do seu livro? Esta é uma ótima ideia para um artigo! A série Os outros tem muito material para análise. O que posso adiantar é que meu livro aborda muitas das questões que estão na base dos conflitos mostrados na tela. A arte tem a função de nos despertar. De fato, a espiral de violência ou a decoração dos apartamentos podem parecer irreais para espectadores de classe média. Mas essas são escolhas estéticas que nos ajudam a acordar para situações que podem estar à nossa porta. Um livro de não-ficção como o meu tem a função complementar de fornecer conhecimentos para pensar criticamente situações como aquelas. É uma bela dobradinha: a arte despertando, a ciência elaborando.

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Vocês se parecem muito fisicamente. Já foram confundidas na rua? É verdade, especialmente quando o corte de cabelo coincide. Mas nunca chegamos a ser confundidas. Desde cedo, frequentamos ambientes diferentes. Ainda na adolescência, Adriana optou pela carreira artística e eu, pela acadêmica. Mundos muitos distintos. Nosso espaço de convívio acaba sendo apenas a família. Mas mesmo aí nossa semelhança é visível. Minha mãe gosta de contar a história da foto da Adriana na minha carteirinha. Nós tínhamos entre 10 e 12 anos e, naquele tempo, precisávamos ir a um fotógrafo profissional para tirar fotos 3×4 para os documentos. Foi quando, para fazer a matrícula no curso de inglês, eu precisei uma foto no mesmo dia. Não dava tempo. A solução foi pegar uma da minha irmã. O resultado foi que usei aquela carteirinha por quatro anos e ninguém nunca reparou que não era eu na fotografia.

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A professora e pesquisadora Marcia Esteves Agostinho – (./Divulgação)

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