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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Os horizontes de Campos Neto e Galípolo

A divergência no BC não é sobre juros, mas sobre a mensagem que o atual e o futuro presidente querem passar

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 ago 2024, 09h33

Existe uma divergência clara entre o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o seu sucessor, o diretor Gabriel Galípolo. Só que ao contrário das especulações do mercado financeiro, as diferenças entre os dois não são sobre o início de um ciclo de alta dos juros a partir de setembro, mas sobre a mensagem que cada um quer passar.

Contando os dias para encerrar seu mandato depois de quase seis anos, Campos Neto tenta encerrar seu ciclo em calmaria. Ele olha para o legado depois de um período conturbado sob Jair Bolsonaro e Lula da Silva.

Prestes a ser indicado, Galípolo precisa mostrar suas credenciais para um mercado que o enxerga com desconfiança. Na linguagem dos comunicados do Copom, Campos Neto e Galípolo têm “horizonte relevantes” diferentes.

Em entrevista à Míriam Leitão, do jornal O Globo, e no evento do BTG da semana passada, Campos Neto foi “dovish”, o jargão para uma postura mais branda. “A gente sempre disse que se fosse necessário subir os juros, subiria, mas não lembro de ter falado de alta de juros”, disse. Ele se mostrou surpreendentemente otimista com o cenário externo e se eximiu de uma posição sobre a reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) de setembro. “Os economistas não estão prevendo alta (de juros) para este ano, mas o mercado sim. É importante ter calma, ter cautela nos momentos de muita volatilidade”, disse Campos Neto. Muita gente entendeu a fala de Campos Neto como um veto ao aumento de juros em setembro.

As declarações confrontam as que Galípolo fez nas últimas duas semanas, quando assumiu o papel de favorito para assumir o BC. “A minha interpretação é que posição difícil para o Banco Central é inflação fora da meta. A inflação fora da meta é uma situação desconfortável. Ter que subir juros é uma situação cotidiana para quem está no Banco Central”, argumentou Galípolo, num tom “hawkish” (agressivo). Quem ouviu Galípolo, só ficou na dúvida sobre o tamanho da alta dos juros.

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É uma ironia. Quando assumiu como diretor do BC em agosto do ano passado, Galípolo lutava contra o temor do mercado de que seria uma correia de transmissão do Palácio do Planalto. Último indicado de Bolsonaro com cargo no Executivo, Campos Neto foi transformado pelo presidente Lula no símbolo dos juros altos. As posições se inverteram.

No final do dia, a diferença real entre os dois é que Campos Neto quer reduzir as expectativas do mercado por um ciclo de três ou quatro reuniões do Copom subindo juros, e evitar deixar o cargo em dezembro sob a previsível saraivada de ataques do PT. Faz parte impor um discurso mais cauteloso.

Galípolo, por sua vez, precisa afastar as dúvidas de que como presidente do BC seria um dirigente sem coragem de subir juros. Por isso, suas declarações neste momento precisam soar agressivas.

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A estas perspectivas distintas se acrescenta a vaidade. Galípolo será indicado presidente do BC nos próximos dias e deve ser sabatinado e aprovado pelo Senado na primeira semana de setembro. A reunião do Copom de 17 e 18 setembro, portanto, terá dois presidentes, um em exercício e outro apenas esperando a troca de bastão. É previsível que Campo Neto queira exibir sua autoridade até o fim do mandato em dezembro e que Galípolo esteja ansioso para mostrar a que veio.

Mesmo assim, é altamente provável que até a reunião do Copom nos dias 17 e 18 de setembro os dois discursos se afinem e o resultado da votação seja unânime.

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