Too Much: como a peculiar Lena Dunham se tornou musa de várias gerações
Após enfrentar maré negativa nas redes e lidar com síndrome rara, a atriz e roteirista retorna em nova série da Netflix
“Acho que sou a voz da minha geração. Ou uma voz de uma geração”, gabava-se a protagonista Hannah ao final do primeiro episódio de Girls, da HBO, em 2012. A personagem, aspirante a escritora, estava sob efeito de chá de papoula e tentava convencer os pais a sustentá-la. A fala, claro, era uma piada sobre a jovem privilegiada agarrada à zona de conforto. Mas colou: a série caiu nas graças dos millennials. Com o sucesso, a atriz, roteirista e diretora Lena Dunham, então aos 25 anos, virou porta-voz dos anseios de sua faixa etária. Aos 39, treze anos após a estreia de Girls, aquela frase se mantém profética. A série é revisitada pela geração Z e ganhou até um podcast dedicado a seus episódios com dezenas de milhares de fãs. Não tardou para a Netflix notar a oportunidade de negócios. Assim nasceu o novo seriado Too Much, disponível a partir do próximo dia 10. Apostando alto, a plataforma também já comprou um longa de Lena com Natalie Portman por 55 milhões de dólares, previsto para 2027.
Seu triunfo tem gostinho de superação: logo após Girls, ela enfrentou uma maré negativa. Antes que o termo nepo baby virasse moda, Lena — filha de uma badalada fotógrafa nova-iorquina — foi acusada de não merecer sua posição. Nas redes, retrucava as críticas com postagens cômicas que geravam mais retaliação. Tudo piorou quando um trecho de seu livro Não Sou Uma Dessas foi tirado de contexto e ela se viu acusada de molestar a irmã (aos 7, Lena notou que a parente ainda bebê estava enfiando pedrinhas nas partes íntimas e alertou a mãe, diz no livro). Com o tempo, aprendeu a medir aquilo que é sua maior força: a franqueza.
A trama de Too Much também é autoficcional. Em 2018, ela encerrou o namoro de cinco anos com o produtor Jack Antonoff e, em 2020, foi à Inglaterra dirigir o piloto de Industry. Lá, conheceu o atual marido. Algo similar acontece com Jess (Meg Stalter), que é transferida para Londres após um término de relacionamento e vive uma comédia romântica madura. Lena faz só um papel coadjuvante, decisão que surgiu da resignação, mas também do desejo de não ter o corpo dissecado. Desde 2019, ela é transparente sobre a síndrome de Ehlers-Danlos, que afeta sua mobilidade e a faz engordar. “Achava que vencer significava não se importar com o que os outros pensam. Me esqueci que vencer é se proteger e fazer o que é preciso para continuar a trabalhar”, desabafou, certa vez. Dessa forma, a voz de duas gerações encontrou o equilíbrio.
Publicado em VEJA de 4 de julho de 2025, edição nº 2951







