Titanic: o documentário angustiante da Netflix impulsionado por tragédia
Produção de 2003 mergulhou ao fundo do oceano com equipamentos de ponta para revelar imagens detalhadas do naufrágio
Em 2001, poucos anos após o sucesso estrondoso de Titanic (1997), o diretor do filme, James Cameron, e uma equipe de especialistas mergulharam a uma profundidade de quase quatro quilômetros nas águas geladas do atlântico norte para captar imagens do próprio navio naufragado em 1912. A expedição, feita em dois submarinos russos de alta tecnologia, foi registrada no documentário Os Fantasmas do Abismo, que integra a lista de filmes mais vistos na Netflix essa semana — ocupa a quinta posição do top 10 neste momento.
Lançado em 2003, o documentário foi impulsionado ao topo pela tragédia do submersível Titan, que implodiu no fundo do oceano matando todos os cinco tripulantes. Criado pela Ocean Gates, o veículo improvisado tentava chegar aos destroços do Titanic quando o casco cedeu à pressão da água. O filme de Cameron mostra o que os tripulantes teriam visto se tivessem chegado ao destino em segurança e retornado à superfície para contar a história.
Assistir ao filme, no entanto, não é exatamente confortável. “Deixe seu testamento pronto e oficializado, pague seu seguro de vida, escreva um bilhete de despedida para a família. É esse o tipo de coisa que passa pela sua cabeça”, diz o cineasta Bill Paxton (1955-2017) antes de entrar no submarino. Na descida, Paxton parece angustiado, e pergunta constantemente ao especialista que o acompanha sobre dados de oxigênios e a situação atual. Quem assiste, vive com ele a angústia de saber que, se tudo der errado, não há escapatória da imensidão azul.
As imagens, no entanto, são monumentais. Repousado no fundo do oceano há mais de um século, o Titanic é como uma cidade fantasma. Com o auxílio de duas câmeras robôs projetadas para a missão, Cameron adentra os corredores do navio e revela camas reviradas, objetos pessoais dos passageiros e lustres monumentais cobertos por quilômetros de água e microrganismos. Em um dado momento, os tripulantes atestam que o Titanic é o cemitério daqueles que partiram no naufrágio, como um repouso final no fundo inóspito do oceano.
Paxton era estreante nas profundidades, mas aquela não era a primeira vez de James Cameron no fundo do mar. Diretor de Titanic, o cineasta desceu ao local pela primeira vez em 1995, para gravar imagens para o filme que arremataria 11 prêmios no Oscar. A expedição foi minuciosamente planejada e contou com submarinos de ponta, o que não era o caso do Titan. De lá para cá, Cameron mergulhou ao naufrágio 33 vezes. Com especialistas presentes, as expedições deixaram de legado um conhecimento vasto e inédito sobre a tragédia, mas também inspiraram descidas irresponsáveis ao fundo do oceano para fins puramente turísticos de curiosos fascinados com o Titanic — como a que acabou em um novo desfortúnio na última semana.