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‘The Serpent Queen’: a rainha mítica da França que virou piada na TV

Série do Starzplay conta a história de Catarina de Médici

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h19 - Publicado em 3 set 2022, 08h00

Durante conversa com a rainha Catarina de Médici (Samantha Morton), uma criada questiona: “Então você sacrificou seu melhor amigo, seu marido e até seu filho por poder?”. A monarca mira friamente os olhos da serviçal e explica suas motivações. “Não. Eu fiz pela minha liberdade”, responde Catarina. A célebre esposa do rei Henrique II foi, sem dúvida, cruel — mas hoje faria por merecer o epíteto de empoderada. No século XVI, não houve mulher de maior influência no mundo: após a morte do rei, ela se tornou a eminência com poder de fato sobre a França nas regências de seus três filhos, os futuros Francisco II, Carlos IX e Henrique III. Como mostra The Serpent Queen, série que estreia no Starzplay no domingo 11, Catarina teve de ralar adoidado para chegar lá.

Catarina de Médici

A produção bebe de uma tendência em alta: a exploração da vida de figuras históricas com uma veia cômica escrachada. The Serpent Queen (a rainha serpente) fica a meio caminho entre a indecorosa The Tudors, que recriava a vida do monarca inglês Henrique VIII priorizando o sexo sobre os fatos, e a sagaz The Great, que injeta humor de primeira na história de Catarina, a Grande, imperatriz da Rússia. The Serpent é um tanto caricatural ao desenhar seus personagens. Mesmo com mil licenças históricas, porém, é uma vitrine válida para se conhecer a espantosa trajetória de sua protagonista — bem defendida na tela por Samantha Morton quando adulta e, principalmente, pela expressiva Liv Hill na juventude.

Quando as mulheres governavam o mundo

Apesar de ter nascido no lendário clã dos Médici, a italiana Catarina Maria Romola di Médici (1519-1589) ficou órfã cedo e foi obrigada a se esconder num convento em período conflituoso em Roma. Resgatada por seu tio, o papa Clemente VII, teve um casamento arranjado com um dos herdeiros do trono francês, o futuro Henrique II, em meio a uma negociação geopolítica entre França e Itália. Sozinha em território desconhecido, a rainha descobriria o desprezo do próprio marido, disposto a sempre favorecer a amante Diana de Poitiers (Ludivine Sagnier). A dificuldade para engravidar piorava a situação, e a levou a mil artimanhas, incluindo a aplicação de esterco de vaca e pó de chifres de veado em sua “fonte de vida”.

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Deu certo: ela teve dez filhos, três dos quais seriam reis da França. Com a morte do marido, a escanteada Catarina vira definitivamente o jogo, conduzindo lances terríveis de perseguição religiosa e, por outro lado, exercendo o papel de patrona das artes. No meio disso, teria deixado um rastro de tortura e mortes — até por envenenamento. Ninguém é chamada de víbora por acaso.

Publicado em VEJA de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805

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