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‘Sutura’ une crime e medicina em série nacional tensa

Produção transpõe fórmula das séries médicas americanas para a realidade brasileira, explorando do crime organizado a polêmicas dos planos de saúde

Por Amanda Capuano 23 nov 2024, 08h00

A doutora Adriana Mancini (Cláudia Abreu) é uma cirurgiã renomada que transformou a medicina com o desenvolvimento de técnicas inovadoras de sutura. Mas sua vida não é só glamour: afastada do centro médico após um acontecimento traumático, ela tem dificuldades em retomar suas atividades na volta da licença. A coisa fica ainda mais tensa quando Adriana e Ícaro (Humberto Morais), novo residente do hospital, se envolvem num esquema perigoso de atendimento ilegal a criminosos. Disponível no Prime Video, Sutura segue o rastro do sucesso de Sob Pressão, da Globo, ao trazer as séries médicas — gênero mais que consagrado na TV americana — para o universo brasileiro. “Todo mundo se interessa por saúde. Eu acho fascinante”, afirma Cláudia Abreu, que confessa ser viciada nas tramas do filão. “Fazer a série me sanou muitas dúvidas e hoje tenho uma relação melhor com hospitais”, conta Morais, ressaltando que a medicina é “cheia de detalhes” desafiadores de se reproduzir em cena.

Dirigida por Diego Martins e Jessica Queiroz, Sutura bebe de fontes como Grey’s Anatomy, House e ER. Chamariz inquestionável de público, as tramas médicas conquistaram espaço cativo na televisão americana pelo ritmo dinâmico, que transita entre a resolução de casos complexos ou curiosos e a vida pessoal nada pacata dos doutores e residentes, que adiciona um toque generosos de melodrama às produções. Tanto lá fora quanto em território nacional, o hospital é cenário de cirurgias inovadoras e diagnósticos inesperados que se alternam a cada episódio. Os corredores assépticos, no entanto, também presenciam relacionamentos tumultuados entre colegas de trabalho, bebedeiras no bar vizinho ao fim do expediente, competição voraz entre residentes ambiciosos e conflitos pessoais que se desenvolvem ao longo dos episódios. “As comparações são naturais, mas acho que Sutura traz um elemento muito original de tensão, que é acompanhar essa vida paralela da Mancini e do Ícaro”, diz o diretor Martins, explicando que o dia a dia da medicina foi reproduzido na tela com o auxílio de profissionais da área. Para passar veracidade às cenas, os casos e cirurgias retratados foram estudados previamente, a fim de identificar os materiais necessários para a filmagem. Sempre havia um profissional real presente nas gravações e os dublês de mão, por exemplo, eram cirurgiões profissionais. “Mas quando tinha de suturar em planos mais abertos, a gente suturava”, brinca Cláudia, que diz que a medicina é mais do que uma profissão. “Quando você escolhe essa carreira, você escolhe um estilo de vida”, afirma a atriz.

Discutir saúde nas telas, via de regra, inclui também questões sociais. Típica nesse quesito, Grey’s Anatomy já pautou ao longo de duas décadas temas como racismo, violência policial, os custos exploratórios da saúde americana e as consequências da restrição ao aborto legal. Ambientado no sistema público de saúde, Sob Pressão explorou a realidade dos hospitais públicos brasileiros, retratando a escassez de recursos e o esforço hercúleo de médicos e enfermeiros para cumprir sua função. Tendo como cenário um hospital de elite (e fictício) de São Paulo, Sutura adiciona à mistura os planos de saúde, que têm valores cada vez mais proibitivos e coberturas indecorosas. Por meio de Ícaro, um jovem negro da periferia, a série ainda escancara a dificuldade dos pobres de chegar ao tão sonhado diploma de medicina — mas não sem alertar para os perigos de se compactuar com o crime organizado. Há um clima de emergência nacional no ar — e ele vai muito além da sala de cirurgia.

Publicado em VEJA de 22 de novembro de 2024, edição nº 2920

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