Renato Góes de ‘Pantanal’: ‘Busco entender os defeitos dos personagens’
Protagonista da primeira fase da novela, ator fala a VEJA sobre filme gravado em casa durante a pandemia com a esposa, Thaila Ayala
Renato Góes se despediu de José Leôncio, protagonista da novela Pantanal, nesta semana, quando o folhetim global saltou para sua segunda fase. Ele sai de cena para a entrada de Marcos Palmeira, que assume o papel que marcou a carreira de Claudio Marzo nos anos 90. Góes, porém, não se dedicou somente à Pantanal nesse período. No segundo semestre de 2020, o ator produziu e estrelou o longa Inverno, lançado recentemente no Telecine. Na trama, Rodrigo e Beatriz, vividos pelo casal da vida real Renato e Thaila Ayala, recebem uma amiga em casa durante a pandemia. Quando o nome da mulher é divulgado em uma lista de mortos da Covid-19, Rodrigo fica obcecada em solucionar o mistério, enquanto a relação com a esposa desanda. Feito de maneira independente, o longa, quem diria, ganhou um empurrãozinho da participação de Góes em Pantanal. “É legal porque um impulsiona o outro”, contou a VEJA. Confira a entrevista:
Inverno foi lançado recentemente no Telecine, mas você acabou de estrelar a primeira fase de Pantanal. Como é viver esses dois universos, por assim dizer, “ao mesmo tempo”? É legal porque um impulsiona o outro, e ambos condizem com as coisas que eu tento fazer na minha vida. Fisicamente, eu estou bem parecido na novela e no filme, e ainda assim são coisas completamente diferentes. Isso faz parte do ofício do ator e eu tenho essa inquietude de trazer coisas diferentes de dentro para fora, e não de fora para dentro. Essa experiência me proporcionou isso, e é bastante interessante para quem assiste também. Fizemos o filme de forma independente, e a novela ajuda a dar visibilidade para ele.
Os dois projetos são meio extremos. Um foi filmado todo dentro de casa, e o outro em plena natureza. Como foi ir de um para o outro? Eu gravei primeiro o filme, deveria fazer uma outra série nesse meio tempo, mas acabei não gravando. Aí sim eu entrei em Pantanal, então tive certo tempo entre uma e outra. Mas eu tive um impacto muito forte nesse sentido quando passei oito meses fazendo a preparação para o filme Legalize Já, e aí interrompi por três meses para gravar Velho Chico. Logo depois eu voltei par ao set e eram coisas completamente diferentes. É algo bem desafiador.
E o que você busca nos seus personagens? Eu costumo entender os defeitos dos personagens para não fugir deles. Até porque, acho os defeitos uma das coisas mais interessantes e até pouco exploradas. Mas eu tento me apegar também à aptidão física. Procuro me apropriar não só da ideologia cultural mas também das aptidões e virtudes de cada personagem. Tenho um respeito muito grande por quem está assistindo, principalmente quando é algo que tem uma identificação direta com um povo, com uma época ou uma região retratada.
Você e Thaila são um casal no filme, mas também na vida real. Como foi viver isso com ela? Foi difícil. O filme foi todo filmado dentro da nossa casa e estávamos atuando como um casal, então precisamos encontrar brechas para não sermos Renato e Thaila. Mas a ideia veio de um trabalho que eu já vinha fazendo com o Paulo Fontenelle, que é diretor e roteirista. Comentei com ele sobre a Thaila escrever e ela se animou de fazer isso com ele.
O filme é um thriller psicológico, mas também aborda o aborto, tema delicado. Por que essa escolha? Na verdade, não. Se fosse um tempo depois, talvez tivesse sido mais inspirado em algo real do que de fato foi, porque pouco depois a Thaila sofreu dois abortos espontâneos, antes do Francisco (filho do casal), e sofreu bastante com isso. Mas na época a gente pensava em um suspense e usar aquela casa para fazer um thriller diferente. Não pensamos em como o tema aborto bateria no espectador, porque nos preocupamos em não deixá-lo em primeiro plano. Ele aparece como uma forma de mostrar como eles são um casal mal resolvido, que não consegue conversar. A gente não queria levantar bandeiras, mas queria que o tema surgisse para colocarmos nossas ideias. A proibição [do aborto] é uma besteira. Isso só torna o acesso pior, as meninas procuram lugares absurdos e perdem a vida nesse processo.