Quem é o ‘macho em desconstrução’ do Porta dos Fundos
'Cara sensível' assumido, João Vicente de Castro vai de humorista a galã de novela — e agora estreia programa com histórias caninas fofinhas
Amante dos cães, João Vicente de Castro ostenta uma mania bem estranha: adora morder a orelha de sua vira-lata, Chica, quando ambos estão vendo TV juntinhos. “Tenho uma crise de amor e mordo a pontinha da orelha dela, que não gosta nada. Talvez a Luisa Mell bata na minha porta quando ler isso”, brincou ele em entrevista a VEJA, citando a radical ativista pelos direitos dos animais que repercute na internet ao fazer resgates polêmicos. “Tenho minhas ressalvas com a Luisa, mas admiro quem dedica sua vida a cuidar de animais”, diz. Assim, em apenas dois comentários sobre um assunto prosaico, é possível captar traços que resumem esse carioca de 39 anos. Ao desferir petardos ácidos, Castro não nega seu DNA de comediante da trupe Porta dos Fundos. Mas é também um poço de bom-mocismo — bem ao estilo que faz sucesso na era da correção política.
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O ator, cofundador do Porta dos Fundos e apresentador do Papo de Segunda, do GNT, vai expor toda a sua paixão pelos bichos a partir desta sexta-feira, 19, no comando de Quem Salva Quem?. No novo programa do mesmo GNT, ele contará histórias de superação em que cachorros mudaram a vida de seus tutores, e vice-versa — como um pit bull resgatado de um lar abusivo. Gostar de animais não é o único lado amável de Castro. Boa-pinta, dono de ideias progressistas e assumidamente sensível, ele cumpre os requisitos daquilo que hoje se convenciona chamar de “esquerdomacho”. O termo designa o homem hétero liberal que saca de discursos bonitos para conquistar as mulheres. Ainda que negue o rótulo, Castro se considera um macho em constante estado de aperfeiçoamento. “Eu me vejo mais como um homem em desconstrução, e disso tenho muito orgulho”, afirma.
No aspecto politicamente correto, é certo que ele não puxou o pai, o jornalista Tarso de Castro (1941-1991), que foi um dos fundadores do irreverente O Pasquim e ficou famoso também pelas polêmicas em que se metia, pelos hábitos boêmios e pela impressionante fileira de conquistas amorosas, algo que não é bem-visto hoje por um “homem em desconstrução” que se preze. Após a morte do pai, João foi criado pelos padrinhos, o cantor Caetano Veloso e sua esposa, a empresária Paula Lavigne. Outro detalhe da vida pessoal do artista ganhou destaque nas redes sociais. Em vídeo gravado num evento musical, sua mãe, a estilista Gilda Midani, surge beijando a cantora Maria Bethânia, de quem é companheira. Apesar da descoberta do público só agora, ser enteado da estrela da MPB jamais foi novidade para João, que prefere ser discreto sobre como funciona essa dinâmica familiar — mas lamenta ter visto ataques de ódio contra o casal. “As pessoas terem ficado chocadas é um termômetro triste da sociedade”, diz. “Não costumo ler comentários de internet, mas chegaram mensagens criminosas, homofóbicas. Uma pena, acho tão bonita essa liberdade de se amar quem quiser”, defende Castro.
Ele é ex de famosas como Sabrina Sato e Cleo Pires e mantém uma boa relação com ambas, com direito a posts com declaração de amor em aniversários. Mas esse tipo de homenagem se estende a qualquer pessoa próxima, principalmente seus amigos homens. “O João é um cara conciliador, que agrega”, resume Fabio Porchat. Solteiro, Castro deseja encontrar um novo amor e construir uma família, com filhos humanos — e de quatro patas. “Estou aberto como não estive em muito tempo. Quero dar uma sossegada”, anuncia.
Mas sua obsessão, de fato, tem sido o trabalho. Galã da novela da Globo Espelho da Vida, em 2018, Castro planeja voltar à atuação quanto antes. Está no elenco de Segundas Intenções, primeira novela da HBO Max, mas o projeto foi adiado em razão da complicada fusão da empresa com a Discovery. Por enquanto, ele se mantém firme nos vídeos do Porta dos Fundos, em que faz rir com sua verve afiada — e aposta alto no programa canino. Longe das telas, claro, ele continua um amor de pessoa.
Publicado em VEJA de 24 de agosto de 2022, edição nº 2803
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