Porchat e Leo Lins: controvérsia divide famosos nas redes sociais
Humoristas e outras celebridades reagiram à discussão que surgiu depois que piadas de teor preconceituoso foram tiradas do ar
Na última semana, o comediante Fábio Porchat saiu em defesa do colega Leo Lins, depois que o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a exclusão do vídeo de um de seus shows do YouTube por conter piadas sobre pessoas negras, escravidão, perseguição religiosa, idosos e pessoas com deficiências. Nas redes sociais, Porchat defendeu o humorista descrevendo a decisão como “inaceitável”, e atestando: “Mesmo que você não goste desse comediante, mesmo que você despreze tudo o que ele diz, ele tem o direito de dizer. Ele tem o direito de ofender”. A defesa, é claro, inflamou a internet, levando outras celebridades a se manifestarem sobre o tema.
O assunto voltou à tona neste domingo, em função de outro caso de preconceito no futebol. Em meio aos ataques racistas sofridos por Vinicius Junior durante um jogo do Real Madrid contra o Valencia, na La Liga, Leo Jaime respondeu um tweet que destacava que a violência do racismo torna piadas com o tema inadmissíveis. “Não tem nada a ver com liberdade de expressão. Você tem a liberdade de dizer, se o que vc disser se enquadrar como crime você será punido. É simples. Tem regras. E há que se respeitar”, respondeu o músico sem citar nomes.
Antes disso, outras celebridades já haviam se pronunciado, e se dividido, sobre o tema. Em uma postagem no Instagram, a atriz Aline Borges compartilhou uma imagem dizendo que defender piada racista também é ser racista. “Enquanto a sua piada racista faz um monte de gente racista gargalhar, o Brasil segue assassinando um jovem negro a cada 23 minutos!!! Onde tá a graça nisso cara gente branca??”, escreveu na legenda. “Amiguinhos, alerta: cuidado para não defender discurso de ódio baseado na lei de liberdade de expressão, ok? Já estamos bem crescidinhos para sermos tão inocentes. Racismo travestido de piada continua sendo racismo”, escreveu Monica Iozzi em um story do Instagram.
Já entre os humoristas, a maioria saiu em defesa do comediante. “Não cabe à Justiça – e nem a ninguém – aprovar ou censurar piadas alheias”, publicou Antonio Tabet, um dos fundadores do Porta dos Fundos. “Tenho 20 anos de comédia e o pessoal continua falando de limite de humor, de censura. Não aguento mais. Meu saco está cheio. Pelo que acontece com o Leo, comigo, com muitos outros…”, disse Danilo Gentili em um vídeo, questionando ainda se Porchat quer publicidade. “Você colocava o dedo na cara do governo de Bolsonaro. E agora? Vai lá no Presidente, porque foi ele que sancionou. Ou vai ficar feio para sua panelinha?”, continuou ele, citando a lei que equipara o crime de injúria racial ao de racismo e prevê pena para o racismo praticado no contexto de atividade esportiva ou artística, bem como para o racismo religioso e recreativo.
Nem todo humorista, porém, saiu em defesa de Lins e Porchat. O próprio Porchat deu alguns passos para trás e disse que o limite do humor é a Constituição. “Se é crime não pode. Ponto. E lógico que quem se sentir ofendido pode e deve acionar a Justiça. A minha questão aqui é com a censura prévia”, escreveu ele depois da repercussão. “Eu defendo a liberdade de expressão e se tem gente que quer usar essa liberdade pra ofender, pena. Mas pode. Eu sou veementemente contra o que propõe essa nova lei recém-sancionada pelo presidente”, citou ele. Já João Pimenta, também membro do Porta dos Fundos, tomou um posicionamento diferente dos colegas. “A comédia brasileira não se manifesta quando: comediante preto é barrado em evento que ele era a atracação. Comediante sofre ameaça de morte por fazer piada contra nazifascista. Sai especial de comédia só com preto (Leolinho fez vídeo contra)”, escreveu. “Se vocês tivessem essa mesma disposição de defender racista pra defender quem sofre racismo, pessoas como essa na comédia nem existiriam”, apontou em outro tweet.