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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Pedro Pascal, o latino que mexe com coração dos fãs de ‘The Last of Us’

Como o trágico caubói moderno Joel da série da HBO, o chileno faz o mundo se curvar à sua potente atuação — e charme peculiar

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h24 - Publicado em 3 mar 2023, 06h00

Na atual safra de seriados, nada se compara à excepcional The Last of Us em matéria de qualidade e tensão. Mas mesmo naquele mundo pós-­apocalíptico, onde a pandemia causada por um fungo transformou humanos em zumbis e criou uma guerra de todos contra todos, uma dúvida revela-se atroz demais para os nervos dos fãs: às portas do final da primeira temporada da produção da HBO, que se encerra em 12 de março, é nebuloso o destino de Joel, o trágico caubói moderno vivido pelo chileno Pedro Pascal. Com o abdômen ferido num embate, Joel vem definhando no meio da jornada para levar a garota Ellie (Bella Ramsey) da Costa Leste ao Oeste dos Estados Unidos — na série, uma terra de ninguém disputada por uma ditadura fascista, guerrilheiros e mortos-vivos.

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Os espectadores temem pelo pior, pois Joel morre a certa altura da trama do videogame em que a série se baseia — e é pródigo o histórico da HBO em ceifar protagonistas de seus sucessos. Mas o lamento aqui não é apenas por um personagem: o luto antecipado é uma prova do nível de respeitabilidade e carisma atingidos por Pedro Pascal. Com sua atuação marcante em The Last of Us, ele se consagra por um feito peculiar: é um latino que conquistou lugar de honra no exclusivo clube dos protagonistas das séries americanas arrasa-quarteirão.

VIRADA - Oberyn Martell, de Game of Thrones: papel que bombou sua carreira
VIRADA - Oberyn Martell, de Game of Thrones: papel que bombou sua carreira (Divulgação/HBO)

Embora o tamanho da conquista não seja pequeno, Pascal sempre esteve mais bem posicionado em Hollywood que outros colegas da América Latina. Ele nasceu no Chile em 1975, filho de um médico e de uma psicóloga que eram ativistas de esquerda, o que obrigou sua família a fugir da ditadura de Augusto Pinochet quando tinha apenas 9 meses. Eles acabaram se fixando na Califórnia — e o jovem Pascal cresceu falando inglês, bem ao lado da meca do cinema americano. O sonho de virar ator fez ele se mandar para Nova York aos 18 anos, em 1993. Lá, trabalhou como garçom — um péssimo garçom, segundo o próprio — e fez bicos em peças teatrais para conseguir se manter.

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Foram necessárias duas décadas para que o artista ganhasse as atenções mundiais. Com participações pequenas em séries como Buffy: a Caça-Vampiros, The Good Wife e O Mentalista, Pascal só viu sua fama deslanchar em 2014, ao ser agraciado com o papel do príncipe Oberyn Martell, guerreiro ágil e bissexual que fez sucesso na quarta temporada de Game of Thrones, também da HBO. A morte brutal do personagem assombra os fãs da saga de George R.R. Martin até hoje — demonstrando que o talento de um grande de ator se revela também nessas horas. “Eu morro muito. Acho que é por isso que pesquisam na internet se Pedro Pascal está morto”, já brincou ele. Depois do sedutor Obe­ryn, ele enfileirou papéis de peso em Narcos e, mais recentemente, como herói de uma produção da franquia Star Wars, O Mandaloriano — que acaba de chegar à terceira temporada na Disney+.

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DURÃO - Em Narcos: brilho como policial no encalço do traficante Pablo Escobar (Juan Pablo Gutierrez/Netflix)

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Aos 47 anos (e solteiro), o ator resume o dilema de ser um astro latino no mercado americano. Com The Last of Us, ele avançou algumas casas na luta para não ficar refém de papéis menores dentro de um estereótipo — seu Joel Miller é, acima de tudo, um personagem universal. Não foi fácil chegar até aqui, reconheceu tempos atrás. “Seja você mesmo e não desista, já passamos do tempo em que você precisa mudar seu nome ou se apropriar de uma cultura que não é a sua”, ensinou. “Eu vivi isso quando jovem.” Curiosamente, a estampa que ele exibe nas telas não poderia ser mais típica, com seu jeito de machão e aquele bigode copioso. Até os zumbis de The Last of Us seriam capazes de reconhecer: no peito daquele galã bate um orgulhoso coração latino.

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Publicado em VEJA de 8 de março de 2023, edição nº 2831

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