O que esperar da despedida triunfal de Stranger Things, da Netflix
Quase uma década depois da estreia, a série chega à ambiciosa temporada final com status de fenômeno cultural
Pelos últimos sete anos, os gêmeos Matt e Ross Duffer sabiam exatamente qual cena encerraria Stranger Things. “Quando começamos a trabalhar na quinta temporada, passamos duas semanas discutindo os últimos vinte minutos da série. Se estragássemos isso, seria a única coisa que falariam”, contou Matt a VEJA (leia a entrevista). Com o encerramento definido, a dupla construiu a última temporada do fenômeno da Netflix de trás para a frente — mas a aguardada cena final foi rodada só no último dia de filmagem. “Foi emocionante. Houve lágrimas nos olhos de todos por doze horas. Nunca vou me esquecer desse dia”, relembra Ross emocionado, citando o momento que encerrou um ciclo de quase uma década ao lado do elenco que cresceu no set.
+ Irmãos Duffer, de Stranger Things: ‘Os jovens se veem nos personagens’
Lançada em 2016 e convertida em arrasa-quarteirão instantâneo da Netflix, Stranger Things começa a dar adeus ao público na quarta-feira 26, nove anos após sua estreia. Os demais episódios da quinta temporada chegam ao streaming no Natal e na véspera de Réveillon — com direito a exibição do último capítulo, com duas horas de duração, nos cinemas americanos, em ação inédita da plataforma. O esquema de guerra não é por acaso: protagonizada por Millie Bobby Brown, hoje com 21 anos, a ficção científica que une referências oitentistas a uma atmosfera sobrenatural é um hit que extrapolou as telas. Para além do sucesso de audiência, que consolidou a trama como a mais vista da Netflix no somatório das temporadas, a produção ganhou status de fenômeno cultural ao alçar canções como Running Up That Hill, de Kate Bush, de volta às paradas musicais, influenciar a moda com a estética da década de 1980 e construir um verdadeiro império em produtos licenciados que adornam a estante e o guarda-roupa dos fãs.
O poder comercial de Eleven e companhia abriu as porteiras da Netflix para outras produções de apelo pop: é o caso de Wandinha e Bridgerton, que abraçaram essa forma de “retromodernismo” e deram cara nova ao streaming — voltado, inicialmente, para produções mais nichadas e adultas, como as aclamadas House of Cards e The Crown. “Nós colocamos os excluídos na tela. Os personagens geram identificação e são profundamente conectados ao público”, opina a intérprete de Eleven sobre o legado da trama. “A mensagem que fica é a de que você é mais forte por ser quem é. As pessoas adoram isso”, completa Noah Schnapp, o Will Byers.
Nascida a partir de teorias da conspiração ligadas ao projeto MKUltra — operação da CIA que desenvolveu experiências ilegais em humanos para testar teorias sobre controle mental —, a trama une as paranoias da Guerra Fria a um grupo de crianças que depara certo dia com Eleven, uma jovem órfã com poderes psíquicos. Desenvolvida a partir de referências como os livros de Stephen King e clássicos de Steven Spielberg como E.T., a trama consolidou no imaginário popular figuras como Demogorgon e Vecna, monstros que habitam o chamado Mundo Invertido, e instaurou uma febre de RPG entre os mais jovens, que abraçaram a estética analógica com uma nostalgia idílica.
Com a força galopante da série, a trama cresceu exponencialmente: na primeira temporada, o orçamento estimado era de 48 milhões de dólares, número que alcançou os 480 milhões na fase final. “Nós aumentamos a produção a cada ano em matéria de efeitos visuais e complexidade”, atesta Matt Duffer, ressaltando que a quinta temporada — assim como a anterior — também é ambiciosa em extensão, com episódios que equivalem, em alguns casos, à duração de um longa-metragem. “Temos mais de 6 000 tomadas de efeitos visuais, que levaram coisa de um ano para serem feitas”, detalha Matt sobre a fase final.
Tamanho investimento é justificado pela máquina comercial derivada da trama: só para a estreia da última temporada, a Target, uma das maiores lojas dos Estados Unidos, anunciou o lançamento de 150 novos produtos ligados à série, entre roupas, sapatos, brinquedos, jogos e itens colecionáveis. No Brasil, marcas como C&A, Carmed e McDonald’s também desenvolveram coleções especiais em parceria com a Netflix para o lançamento, e um desfile temático aberto ao público acontecerá no dia 23 em São Paulo com a presença de Jamie Campbell Bower, o intérprete do vilão Vecna. Com a iminente despedida, a plataforma já mira em produções derivadas que preencham o buraco deixado: está em desenvolvimento a série animada Stranger Things: Histórias de 85, ambientada entre os eventos da segunda e terceira temporada.
De saída para a Paramount, os criadores também trabalham em uma nova trama de personagens e mitologia diferentes, mas que se conecta com Stranger Things de maneira ainda não revelada. Quanto a Eleven, Mike, Lucas, Max e Dustin, Ross Duffer garante que o final será definitivo: “A porta de Hawkins e do Mundo Invertido está se fechando”. A jornada merece uma despedida triunfal.
Publicado em VEJA de 21 de novembro de 2025, edição nº 2971

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