Miguel Falabella a VEJA: “Humor inteligente jamais é ofensivo”
Aos 66 anos, ator estrela a série de comédia 'Novela', do Prime Video, e fala sobre o projeto e a carreira
Figurinha carimbada da Globo por mais de 40 anos, Miguel Falabella agora estrela uma série no Prime Video que chegou à plataforma recentemente. Produção que abusa da metalinguagem, Novela é uma sátira aos clássicos folhetins e coloca Isabel (Monica Iozzi), uma jovem aspirante a autora de novelas, no caminho de Lauro Valente (Falabella), um dramaturgo que já não consegue mais produzir como antes e rouba o trabalho da pupila, lançando uma novela como se fosse sua. Na noite de estreia da obra, Isabel tem um surto com Lauro e acaba sendo transportada para dentro da trama que escreveu, desafiando as leis da física e também da dramaturgia, misturando ficção com a realidade do universo fictício. Em entrevista a VEJA, Falabella falou sobre o projeto, o desafio de fazer humor em tempos do politicamente correto e a virada de sua carreira após deixar a Globo e migrar para projetos no streaming.
Confira a entrevista completa:
O que atraiu o senhor à série Novela? A premissa da série, com certeza. Assim que recebi os roteiros, fiquei encantado ainda com o desenvolvimento desse universo, com a metalinguagem e com humor que permeia a série inteira. Achei que cabia bem em mim, era um sapato que me servia, porque era coerente com tudo o que eu fiz ao longo da minha carreira, um personagem delicioso. Também fiquei muito feliz de fazer um reencontro com a diretora Gigi Soares, com quem eu já tinha trabalhado antes, e uma descoberta conhecer a outra diretora, a Renata Pinheiro. Foi muito interessante conhecer esses dois olhares femininos, cada uma com seu estilo e uma pegada muito afinada com o material que elas tinham. Para mim, como ator, foi muito interessante. Eu trabalhei a vida inteira num lugar só, então foi bom trabalhar com diretores com uma visão nova e uma proposta nova.
Chegou a opinar sobre o roteiro? Imagina, eu sou um ator muito disciplinado, como fui a vida inteira, inclusive quando trabalhava meus próprios textos. A premissa da série é muito original, acho que é o grande trunfo dessa produção.
O que pensa sobre o humor feito atualmente, quando há tantas preocupações com o politicamente correto? Quando o humor é inteligente, ele jamais é ofensivo. Ele é ofensivo quando é rasteiro, quando não tem lastro, quando não tem um mundo por trás. Por acaso, aqui, todos os profissionais envolvidos são pessoas que têm carreiras e o que eu acho que há aqui é verdade. Em nenhum momento olhei para esse personagem de uma maneira farsesca, eu fiz de verdade. Acho que ele é um vaidoso, é um personagem que é um pavão e que tá ali numa situação-limite com aquela menina invadindo o universo dele.
Após quatro décadas na Globo, como é partir para o streaming? Eu falo que trabalhei a vida inteira em uma empresa só, mas na minha carreira sempre corri no paralelo. Eu nunca fui um ator de novelas, fiz meus programas, fiz uma carreira no teatro muito extensa e muito ativa o tempo inteiro. Então, não sou aquele padrão que ficou ali fazendo só uma coisa. Não, eu fiz tudo, trabalhei com todo mundo. Então, como eu também jogo em todas as posições, escrevo e dirijo, procuro me afinar com a direção geral e, no caso de Renata e Gigi, foi muito encantador. Eu também gosto de cinema, faço cinema. Mas acho que o set foi corrido, porque as coisas são corridas sempre, mas conseguimos fazer um projeto bacana e estabelecer laços artísticos e pessoais muito interessantes para todos.