Globo de Ouro 2024: prêmio esnoba — mais uma vez — a diversidade
Após boicote e promessas de reestruturação, para incluir mais filmes e talentos variados, premiação mostra que gosta mesmo é do lugar-comum
O Globo de Ouro 2024 revelou a lista de indicados nesta segunda-feira, 11, e alguns nomes que ficaram de fora chamam a atenção mais óbvia, como Napoleão, de Ridley Scott, e Ferrari, de Michael Mann. Entretanto, as indicações não fugiram do lugar-comum, sendo repletas de artistas brancos e obras americanas e europeias — inclusive na categoria de filme em língua não inglesa. Assim, a premiação que visa eleger os melhores do cinema e da TV em 2023 provou mais uma vez sua incapacidade de ser mais diversa, mesmo após alegar esforços para melhorar essa questão que a levara ao boicote da cerimônia em 2022, sob acusação de racismo e corrupção.
O filme sobre Napoleão Bonaparte, estrelado por Joaquin Phoenix — que ganhou uma indicação apenas por Beau Tem Medo na categoria de ator em filme de comédia — não foi indicado em nenhuma categoria. A Cor Púrpura foi rejeitado na categoria de melhor filme de comédia ou musical — Fantasia Barrino e Danielle Brooks foram indicadas a melhor atriz em comédia ou musical e melhor atriz coadjuvante, respectivamente. A atriz Viola Davis — já vencedora do EGOT — não conquistou uma indicação de melhor atriz coadjuvante por sua participação em Air: A História por Trás do Logo. O veterano de 81 anos Harrison Ford também foi ignorado pelos jurados do Globo de Ouro, mesmo com atuações brilhantes na trama 1923 — indicado a melhor série dramática e com Hellen Mirren indicada a melhor atriz de série — e na cômica Shrinking, que só levou uma indicação de melhor ator de comédia para Jason Segel, o protagonista. O live-action A Pequena Sereia, da Disney, também foi excluído.
Filha de hondurenhos, a atriz America Ferrera também ficou de fora das indicações, enquanto seu filme mais recente, Barbie, foi um dos principais indicados, com chance de prêmio para Margot Robbie, Ryan Gosling (melhor atriz e ator coadjuvante, respectivamente), além de três músicas da trilha sonora do filme dirigido por Greta Gerwig, que também concorre a melhor direção.
Vale dizer que o Globo de Ouro até indicou artistas não brancos, como Da’Vine Joy Randolph (atriz coadjuvante) por Os Rejeitados, Colman Domingo (ator em filme dramático) por Rustin, Danielle Brooks (atriz coadjuvante) por A Cor Púrpura e Greta Lee (atriz em filme dramático) por Vidas Passadas. A obra dirigida por Celine Song, inclusive, foi a que quebrou a hegemonia nas categorias de melhor filme dramático, melhor direção, melhor atriz, melhor roteiro e melhor filme em língua não inglesa — apesar de ser um filme americano com uma história sobre descendentes de coreanos e diálogos em coreano. Pelo principal prêmio, Vidas Passadas concorre com o francês Anatomia de Uma Queda, o britânico Zona de Interesse e os americanos Oppenheimer, Assassinos da Lua das Flores e Maestro. Já American Fiction é o único longa protagonizado por negros na categoria de melhor comédia, disputando com Os Rejeitados, Barbie, Pobres Criaturas, Segredos de Um Escândalo e Air.
Nas categorias de TV, então, a representatividade cai drasticamente nas principais categorias. Concorrendo a melhor série dramática estão: 1923, The Crown, A Diplomata, The Last of Us, The Morning Show e Succession. O chileno Pedro Pascal é o único latino a quebrar a hegemonia da premiação. A sensação que fica é que mesmo com o boicote de 2022, uma edição de 2023 histórica que premiou os atores Michelle Yeoh e Ke Huy Quan, de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, além da tentativa de tornar a premiação mais diversa ao adicionar jurados de 76 países para esta nova edição, o Globo de Ouro se manteve no lugar-comum de indicações básicas, centralizadas nos Estados Unidos e Europa, com talentos diversos escanteados. Com as apostas na mesa, resta saber quem o prêmio laureará na cerimônia que acontece em 7 de janeiro.
Para ver a lista completa de indicados, viste o link.
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