Dois filmes e uma série que dão banho de autenticidade em ‘Emily em Paris’
Em sua quarta temporada, a série da Netflix continua a reproduzir estereótipos sobre a capital francesa — confira tramas que desmistificam o glamour
A série de comédia Emily em Paris se mantém no ar desde 2020 com sua perspectiva única sobre a capital francesa, que romantiza por meio do olhar de influenciadora da protagonista vivida por Lily Collins. Seja pelas roupas estapafúrdias, pelo constrangedor orgulho americano ou pelos numerosos estereótipos sobre o povo francês, a série inegavelmente fascina e ensandece espectadores — que ou a consomem ironicamente, ou se entregam às bobagens em tela. Por isso, a segunda parte da quarta temporada chega à Netflix em 12 de setembro, quando deve prontamente ascender ao ranking de produções mais vistas da plataforma. Se o apetite por uma versão autêntica da experiência parisiense persistir, contudo, o streaming oferece opções bem mais enriquecedoras:
Cléo das 5 às 7, de Agnès Varda (1962)
Onde: Telecine
Segundo longa-metragem dirigido pela mais importante cineasta francesa, Cléo das 5 às 7 parte de uma premissa despretensiosa não tão distante da série da Netflix: a relação entre uma mulher e a cidade. Ao invés de acompanhar uma imigrante americana viciada em trabalho, porém, a dramédia foca em Cléo (Corinne Marchand), uma jovem parisiense hipocondríaca que aguarda os resultados de uma biópsia que, na sua imaginação, lhe confirmará um diagnóstico de câncer. Para preencher as duas horas de espera até o resultado, ela vaga por Paris e encontra múltiplas figuras e circunstâncias excêntricas próprias da cidade. Junto às imagens, a trilha do parisiense Michel Legrand transporta o espectador para a metrópole imediatamente.
O Ódio, de Mathieu Kassovitz (1995)
Onde: Reserva Imovision, via Prime Video
Nada de cafés charmosos ou chefs de cozinha sedutores — o drama francês que marcou os anos 1990 deixaria Emily Cooper aterrorizada. Em O Ódio, três jovens franceses moram na periferia de Paris e enfrentam corriqueiramente os abusos da polícia e atos de preconceito contra suas etnias e classe social. Após uma noite caótica de revolta, o melhor amigo de Vinz (Vincent Cassel) é deixado gravemente ferido e um policial perde sua pistola, que o jovem rebelde encontra. Ao longo das 24 horas seguintes, ele jura se vingar caso o parceiro morra em decorrência dos ferimentos. Tenso, o filme revela o lado urbano obscuro da metrópole, corroído pela violência cíclica — que a influenciadora da Netflix não conseguiria decorar com qualquer filtro.
Irma Vep, de Olivier Assayas (2022)
Onde: Max
Minissérie que é continuação do filme homônimo de 1997, Irma Vep acompanha a vinda da atriz americana Mira Harberg (Alicia Vikander) a Paris para as filmagens de um seriado baseado em Os Vampiros, folhetim mudo que passava nos cinemas franceses entre 1915 e 1916. Assim como Emily, a imigrante tem que enfrentar choques culturais dentro do set parisiense e resolver intrigas amorosas complicadas, mas logo se mistura à personagem misteriosa que interpreta — uma ladra mística que atravessa paredes e rasteja pelos tetos da capital francesa. Situada em uma das cidades mais cruciais para a história do cinema, a trama satiriza a indústria cinematográfica de hoje com sagacidade ímpar, mas também celebra a história do meio e as paisagens ao redor com admiração genuína.
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