De ‘Xógum’ a ‘True Detective’: VEJA seleciona as 10 melhores séries do ano
Ótimas produções tiveram arcos variados, atuações impecáveis e instigaram os assinantes de Netflix, Disney+, Apple TV+, Prime Video, HBO e Max

O ano de 2024 foi marcado por séries que se basearam em fatos reais e outras que exploraram bastante a criatividade. Das centenas de produções lançadas neste ano, dez se destacaram aos olhos da equipe de cultura de VEJA. Confira a lista completa e saiba detalhes de cada uma na coluna Tela Plana no site:
Xógum: A Gloriosa Saga do Japão
Onde assistir: Disney+
Produzido pelo estúdio FX e baseado no livro clássico de James Clavell, o épico Xógum: A Gloriosa Saga do Japão surpreendeu muita gente ao arrebatar 18 estatuetas do Emmy, maior premiação da TV americana. A suntuosa série é falada em japonês, com elenco majoritariamente local e gravada no Canadá — um espírito multicultural que resume a era da globalização no streaming. No século XVII, o lorde Toranaga (Hiroyuki Sanada), senhor feudal que integra um conselho de regentes do Japão, se vê encurralado pelos colegas que temem a escalada de seu poder e tramam por sua deposição do cargo e morte. Para escapar do plano de seus rivais, Toranaga aproveita a chegada de um navegante inglês protestante, John Blackthorn (Cosmo Jarvis), para iniciar um complexo jogo de xadrez político entre os senhores do conselho e os padres que vinham expandindo a força da Igreja Católica no país e intermediando negócios com Portugal. A história mistura intrigas políticas, cenas de luta bem coreografadas, atuações excelentes e uma cenografia impecável que retrata o Japão e seus costumes mais antigos. Com fidelidade ao episódio real do período Xogunato Tokugawa (1603-1868) e roteiro arrojado, a série é um luxo só — e veio para fazer história.
Ripley
Onde assistir: Netflix
Um ano antes do centenário da ácida escritora americana Patricia Highsmith, em 2019, o canal Showtime anunciou uma nova adaptação em série da saga de O Talentoso Ripley, publicado em 1955 e já filmado seis vezes para o cinema. Por idas e vindas de Hollywood, o resultado só chegou cinco anos depois — e foi parar na Netflix, onde rebateu o ceticismo de quem considerava a história de Highsmith esgotada na tela. Com atuação primorosa de Andrew Scott no papel do imperscrutável golpista Tom Ripley, os oito episódios fogem do idílio litorâneo e retratam uma Itália cheia de pedregulhos e escadas escuras em preto e branco, recurso ideal para estabelecer a atmosfera noir em torno dos crimes do personagem, que mente e mata para adentrar sem escrúpulos a alta sociedade europeia. Sagaz, o roteiro de Steve Saillian, da cultuada The Night Of, ainda tece correspondências saborosas entre o protagonista e o pintor Caravaggio, ao falar de crimes passionais, homens marginalizados e da arte do crime com sofisticação — honrando, assim, o antológico romance original
Hacks
Onde assistir: Max
Lançadas em 2022 e 2023, as duas primeiras temporadas de Hacks seduziram uma audiência cativa graças à sua adorável trama de gato e rato — ou melhor, de gata e rata. O que está em foco na série cômica de episódios ligeiros é a relação tumultuada, porém cheia de sensibilidade e ironia, entre a veterana humorista do stand-up Deborah Vance (Jean Smart) e a roteirista Ava (Hannah Einbinder), jovem da geração Z que acabou de ser cancelada na internet e demitida de seu programa — e então abraça a missão de modernizar o repertório da humorista decadente. Para além desse mote, Hacks se revela, em tudo,
uma delícia — e se superou com louvor em sua inspirada terceira temporada, que foi lançada este ano. A dupla inicia a nova leva de episódios separada, desfrutando de seus respectivos êxitos profissionais. Inevitavelmente, claro, as duas se juntam mais uma vez por um objetivo nobre — Deborah finalmente terá seu próprio talk-show na televisão. A parceria, como sempre, termina em trombadas hilárias, confirmando que se está diante da melhor sitcom atual.
Bebê Rena
Onde assistir: Netflix
No universo da televisão de 2024, Bebê Rena cruzou os céus como cometa vistoso — e incômodo. Ao narrar a história do aspirante a comediante e bartender Donny (Richard Gadd), que vê sua vida se tornar um inferno ao conhecer Martha (Jessica Gunning), cliente de seu pub em Londres que se revela stalker obsessiva, a série ilustrou os dilemas de retratar a vida real na tela — marca registrada da TV no ano que passou. A minissérie é inspirada na vida de Gadd, que vive a si mesmo, e o empurrou para o sucesso mundial com o roteiro sobre um homem que não consegue escapar da loucura de sua perseguidora. Estreando sem alarde, a produção virou hit no boca a boca. Não sem polêmica: a mulher real que inspirou a personagem move um cabeludo processo contra a Netflix.
Pinguim
Onde assistir: Max
Se nos cinemas as adaptações da DC Comics acumulam resultados frustrantes, o mesmo não pode ser dito das séries de TV.
Pinguim é o exemplo lapidar disso. Ambientada em uma Gotham destruída pelo Charada no filme The Batman (2022), a série se afasta do universo dos heróis e entrega uma história de máfia daquelas com reviravoltas e, claro, muitas mortes. Acompanhamos a ascensão de Oswald Cobb, o Pinguim (Colin Farrell) para se tornar o maior mafioso da cidade. Irreconhecível na pele do vilão, o irlandês Farrell apresenta uma interpretação memorável. Cobb é um daqueles malfeitores carismáticos que amamos odiar. O amor pela mãe e seu carinho pelo jovem pupilo Victor (Rhenzy Feliz) adicionam-lhe camadas de humanidade
que quase nos fazem esquecer que é um inimigo mortal do Batman.
True Detective
Onde assistir: HBO/Max
Localizada quase 200 quilômetros acima do Círculo Polar Ártico, a minúscula Ennis vê uma sina se repetir: toda vez que o Natal está chegando, a noite boreal instala-se por meses no lugarejo por si só melancólico, tornando tudo ainda mais gélido e soturno. No perturbador cenário de True Detective: Terra Noturna, que estreia na HBO neste domingo, 14, a xerife Liz Danvers (Jodie Foster) e a policial Evangeline Navarro (Kali Reis) não passam incólumes aos traumas de cada inverno. E que inverno é esse que se anuncia. Ambas, cada qual a seu modo, buscam se distanciar do mal-estar que divide a comunidade fictícia do Alasca, na qual trabalhadores americanos — brancos, negros ou latinos — exploram uma mina e se estranham com indígenas em luta para sobreviver em meio à poluição brutal. Mas isso é francamente impossível: Danvers faz o que pode, em vão, para sua enteada não resgatar as origens nativas do pai morto e se envolver em arriscados protestos políticos; Navarro tenta, mas já não consegue negar suas próprias ligações de sangue com um povo disposto a brigar até o fim por suas crenças e direitos. Uma chacina tétrica virá romper o fiapo de equilíbrio que ainda resta em Ennis — revelando que a noite boreal, mais que um evento climático, é uma metáfora do pesadelo que não só as duas detetives, mas muitas outras mulheres no mundo, são obrigadas a atravessar.
Matéria Escura
Onde assistir: Apple TV+
Em 1935, o físico austríaco Erwin Schrödinger (1887-1961) sugeriu um experimento para explicar de forma didática uma inescrutável teoria da mecânica quântica. O primeiro passo é imaginar um gato fechado em uma caixa onde também há um frasco com material radioativo. Se esse recipiente quebrar, o gato morre. Caso contrário, ele vive. Para quem não enxerga dentro da caixa, o resultado é aparentemente ilógico: segundo o cientista, o animal está, para quem olha assim, vivo e morto ao mesmo tempo. Quem abrir a caixa, contudo, verá só um dos dois desfechos. Não se trata de mera charada: o experimento amplamente conhecido como o Gato de Schrödinger sugere que existem duas realidades paralelas — e, em uma delas, o bichano teve mais sorte que na outra. Na série Matéria Escura, que estreia na quarta 8, na Apple TV+, a teoria é destrinchada pelo professor Jason Dessen (Joel Edgerton) para uma sala de alunos pouco interessados. Tal distração é desaconselhada para quem assiste à trama: inteligente e ágil, a adaptação do livro de mesmo nome de Blake Crouch demanda atenção. Como recompensa, oferece entretenimento de engenhosa qualidade e tem a brasileira Alice Braga no elenco.
Fallout
Onde assistir: Prime Video
A sequência inicial da série Fallout é de cair o queixo. Em uma festa infantil, a mãe do aniversariante se recusa a deixar a TV ligada para evitar notícias ruins: no caso, nada menos que o perigo de um ataque nuclear. Cooper (Walton Goggins), ator com pinta de caubói que virou animador de festa, tira foto com as crianças e, em um momento de tensão, se recusa quando o pai da família pede uma imagem com ele fazendo um “joinha” com a mão. Em seguida, o homem cochicha com outro: “comunista”. Para não estragar a surpresa dos que ainda não assistiram à cena, o que vem a seguir é impressionante e assustador – tanto que os detalhes citados acima são importantíssimos, mas acabam passando despercebidos na série pós-apocalíptica que virou hit de audiência no Prime Video, da Amazon. Em uma mistura fina de humor, ação, violência e drama, o programa baseado em um game de mesmo nome possui um sagaz fundo político e socioeconômico, e não é difícil fazer associações com a vida real e os dias de hoje.
Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais
Onde assistir: Netflix
Em 20 de agosto de 1989, José e Mary Louise Kitty Menendez foram mortos a tiros em sua mansão em Beverly Hills. Quase sete anos, três julgamentos e milhares de horas de cobertura da imprensa depois, seus filhos, Lyle e Erik Menendez, foram considerados culpados de seus assassinatos e sentenciados à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. A história macabra ganhou uma série chamativa na Netflix estrelada por Javier Bardem e Chloë Sevigny como as vítimas em Monstros – Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais, que tenta mostrar o lado dos jovens. A popularidade da série pode até mudar o destino dos irmãos na vida real, já que o apelo público incentivou que eles sejam julgados novamente, e a dupla pode ser liberta após três décadas.
Pedaço de Mim
Onde assistir: Netflix
Casada com Tomás (Vladimir Brichta), Liana (Juliana Paes) deseja ser mãe a todo custo. Para isso, a terapeuta ocupacional toma estimulantes de ovulação sem prescrição médica e faz sexo mecanicamente em dias férteis. Cansado da rotina obsessiva, Tomás se envolve com uma colega de seu grupo de ciclismo. Um dia, após mais uma relação sexual burocrática, Liana descobre a traição — e o casamento dos dois fica por um fio. Após ele sair de casa, a mocinha se dispõe a esquecer os problemas caindo na noitada com uma amiga, indo para a balada do nada bem-intencionado Oscar (Felipe Abib). Após ingerir bebidas e drogas cedidas por ele, Liana perde a consciência e, depois, descobre ter sido abusada sexualmente pelo dono de boate. Devastada, tenta apagar o ocorrido, até deparar com a notícia chocante de que está grávida de gêmeos. Detalhe bombástico: cada bebê é filho biológico de um pai diferente, Tomás e Oscar. A superfecundação heteropaternal de fato existe na vida real, ainda que raríssima — são vinte casos registrados no mundo até hoje. A premissa conduz Pedaço de Mim, primeira série de melodrama da Netflix, que aposta em um dramalhão para atrair o público afeito às novelas da Globo — e desperta a curiosidade do que vai acontecer a seguir a cada episódio que passa.
Acompanhe notícias e dicas culturais nos blogs a seguir:
- Tela Plana para novidades da TV e do streaming
- O Som e a Fúria sobre artistas e lançamentos musicais
- Em Cartaz traz dicas de filmes no cinema e no streaming
- Livros para notícias sobre literatura e mercado editorial