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Bento Veiga, de ‘Pedaço de Mim’: “Minha deficiência não me define”

Ator da novela da Netflix nascido no Rio de Janeiro foi diagnosticado com retinose pigmentar aos 3 anos de idade

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 out 2024, 09h41 - Publicado em 25 out 2024, 10h00

Filho de comerciantes e nascido no Rio de Janeiro, Bento Veiga foi diagnosticado com retinose pigmentar aos 3 anos de idade. A descoberta precoce permitiu que ele fizesse tratamentos que ajudaram a não perder totalmente a visão. A condição não o impediu de se dedicar à música, e o carioca aprendeu a cantar e a tocar diversos instrumentos. A vida do artista deu uma guinada quando o músico foi convidado para ser consultor da novela Pedaço de Mim, sucesso da Netflix lançado neste ano, em que interpreta o DJ Inácio, que também tem retinose pigmentar. Em entrevista a VEJA, Veiga falou sobre sua trajetória pessoal e do desafio de estrear no audiovisual com a trama protagonizada por Juliana Paes.

Confira a entrevista na íntegra:

Quando se interessou por música? Eu devia ter uns 8 anos quando estava no carro com minha mãe e ela colocou para tocar We Are The Champions, do Queen, uma música linda. Lembro perfeitamente dos primeiros acordes, das primeiras frases, e foi ali que me apaixonei pela música. Com o tempo fui me interessando por tocar instrumentos e depois comecei a fazer aula de canto também. Hoje sei tocar violão, um pouco de guitarra, contrabaixo piano e acordeão.

Em Pedaço de Mim, você interpreta o Inácio, um DJ que tem a mesma condição que você, a retinose pigmentar. Como entrou no projeto? A princípio, eu fui convidado por uma pessoa da produção que conhecia meu trabalho na música para ser consultor da construção do personagem, que tinha uma condição visual parecida com a minha e também tinha uma relação com a música como eu. Durante o processo, surgiu a oportunidade de fazer o teste para interpretá-lo, e me convenceram a tentar. Eu fiz e acabei passando. Foi uma grande oportunidade, ainda mais pela questão da representatividade, porque eu tenho lugar de fala para falar sobre deficiência visual. E até então me considerava só um ator de ofício, só tinha feito teatro, me dedicava só à música, e de repente estreei na Netflix.

Como foi interpretar um personagem que, querendo ou não, faz você revisitar sua própria história, do diagnóstico na infância até a vida adulta e suas complicações? Foi um momento de muito interno de me conhecer melhor, o Inácio me fez até evoluir um pouco mais, porque é um personagem que tem muitas camadas também, medos, anseios, desejos.

Trabalhar com grandes atrizes consagradas, como Juliana Paes e Palomma Duarte — tia e mãe de Inácio na série, respectivamente –, foi intimidador? Nossa, um desafio enorme. Elas têm tanta experiência, talento, e me ajudaram muito a me esforçar bastante para fazer um bom trabalho. São pessoas talentosíssimas e especiais, foi uma responsabilidade muito grande, mas elas foram muito generosas comigo também. Tivemos uma química forte, e eu aprendi muito.

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Como um artista que tem baixa visão, lido como uma PCD (pessoa com deficiência), o que espera de estúdios e emissoras em termos de inclusão no audiovisual no futuro? Eu quero ver cada vez mais pessoas PCD podendo atuar e podendo sonhar, que cada vez mais possam também participar de uma coisa dessa, como Pedaço de Mim, porque sabemos que não é como normalmente acontece. Muitas vezes uma pessoa que é PCD é representada por uma pessoa que não é, então espero que existam mais casos para que gere mais essa representatividade, para que pessoas como nós se sintam representadas nas telas, que possam se ver ali naquele lugar. E tem outra coisa, a representatividade ajuda a tornar uma produção mais verossímil, porque não é alguém só fingindo ser quem não é, é alguém com conhecimento de causa interpretando um personagem parecido com ele. Isso é importante. Mas também gosto de dizer que a minha deficiência não me define, ela só é mais uma informação sobre mim, eu posso me desafiar artisticamente cada vez mais.

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