As séries criminais que empoderam a velhice nas telas
Tramas que falam de detetives veteranos, como O Clube do Crime das Quintas-Feiras, atualizam olhar sobre os idosos
Um grupo de aposentados se reúne todas as quintas-feiras para um passatempo curioso: cansados da monotonia do retiro para idosos em que vivem, eles se debruçam em sigilo sobre crimes arquivados pela polícia para tentar solucioná-los e adicionar uma pitada de adrenalina ao dia a dia. O hobby peculiar ganha contornos perigosos quando um assassinato vira de ponta-cabeça a comunidade pacata, obrigando os idosos a se empenharem na solução de um crime que aconteceu debaixo de seu próprio nariz. Protagonizado pelos veteranos Helen Mirren (80), Pierce Brosnan (72), Ben Kingsley (81) e Celia Imrie (73), O Clube do Crime das Quintas-Feiras leva para as telas o primeiro livro da homônima série best-seller do inglês Richard Osman, que já vendeu mais de 10,5 milhões de cópias em todo o mundo. Recém-lançado na Netflix, o longa reforça um filão tradicional da literatura que ganhou fôlego nas telas: as tramas criminais protagonizadas por detetives idosos — que divertem o público ao unir investigação a uma boa dose de humor e empatia. “Adoro a ideia de que a partir de certa idade as pessoas pensam que é hora de se aposentar, jogar golfe e relaxar, enquanto esses personagens se sentem mais vivos e relevantes do que nunca”, explicou o diretor Chris Columbus a VEJA.
Impulsionadas pelo avanço da expectativa de vida — a ONU estima que o número de idosos dobrará até 2050, chegando a 1,6 bilhão no mundo —, tramas como a nova aposta da Netflix caíram no gosto do público nos últimos anos. Prestes a lançar sua quinta temporada no Disney+, Only Murders in the Building puxou a fila com os gigantes Martin Short (75) e Steve Martin (80) transformando os assassinatos que abalaram um condomínio em Nova York em um podcast investigativo que coloca a dupla e a jovem Mabel (Selena Gomez) em altas confusões. Mais recentemente, a Netflix também lançou com êxito o cativante Um Espião Infiltrado, em que Ted Danson (77) vive um viúvo aposentado que topa o desafio de se camuflar entre os pacientes de uma casa de repouso para investigar um roubo na instituição.
Com subtextos divertidos que abordam conflitos geracionais, dificuldades com a tecnologia e temas mais profundos como a solidão e o abandono na velhice, esse tipo de trama usa a investigação criminal como ferramenta para reavivar a dignidade humana de seus protagonistas: é através da resolução de roubos e assassinatos que os personagens redescobrem o prazer pela vida e provam que o envelhecimento não precisa ser uma espera angustiante pela morte — pois é uma fase natural da vida humana que merece ser respeitada e vivida com intensidade e prazer. “As histórias geracionais são importantes porque, graças ao avanço na saúde e bem-estar da nossa sociedade, vivemos vidas mais longas e ativas e temos muito a contribuir uns com os outros”, explica o astro Ben Kingsley, atestando o valor de tramas assim: elas provam que a vivacidade não tem idade.
A despeito da visão sobre o envelhecimento ter evoluído bastante, os novos senhores do crime têm raízes fincadas em personagens clássicos da literatura, como os idosos e infalíveis Miss Marple e Hercule Poirot, de Agatha Christie. Assim como eles, valem-se de certa invisibilidade social para resolver mistérios: num mundo onde a expectativa geral é que as pessoas se aquietem depois dos 65, a maioria não desconfia que cabeças grisalhas que repousam em um banquinho com o jornal do dia na mão estão, na verdade, em busca de provas contra criminosos perigosos — o que dá a eles a vantagem de passarem despercebidos, obtendo informações privilegiadas nas investigações. Combinada a essa camuflagem social, a experiência de quem já viu quase tudo na vida é um trunfo e tanto para a dramaturgia criminal — e uma arma que os jovens detetives não podem se gabar de possuir.
Nas telas, inclusive, tramas como essas contam com a vantagem extra de ter entre suas estrelas nomes consolidados e carismáticos da indústria, que funcionam como “selo de qualidade” para atrair o público. Isso faz toda a diferença em Only Murders in the Building, no qual Meryl Streep (76) reforçou o timaço grisalho formado por Martin e Short. Com feras como Mirren e o ex-007 Brosnan, o novo longa da Netflix amplia a tendência. “Você poderia presumir que alguém que trabalha há 35 ou quarenta anos estaria cansado ou sem ânimo, mas todos estavam cheios de entusiasmo e deram muito de si. Era quase como o primeiro filme deles”, atesta o diretor Columbus sobre os atores. “Foi um dos encontros mais gloriosos de nossas carreiras”, completa Brosnan (leia a entrevista abaixo). O ator revela que o elenco costumava se reunir para tomar chá durante a dura jornada de gravação, que continha cenas longas e de preparo exaustivo. Não é só dentro das telas que os senhores do crime estão com tudo: por trás das câmeras também há muito trabalho e comprometimento depois dos 70.
“É a celebração da idade”
Aos 72 anos, o ex-007 Pierce Brosnan falou a VEJA sobre O Clube do Crime das Quintas-Feiras e os desafios do envelhecimento.
O filme acompanha idosos que se reúnem para resolver crimes. O que a trama ensina sobre o envelhecimento? É uma celebração da vida, do tempo, da idade e de pessoas que têm propósito e paixão — que não esqueceram quem são e têm sonhos a realizar e uma vida para viver.
Como isso se relaciona com o público? Mostra que, em qualquer idade, todos temos desafios a resolver. É como criar filhos e notar que não fomos presentes o suficiente ou fizemos algo errado. Há sempre uma busca pela experimentação, pelo perdão e pelo amor.
Cultiva algum hobby na maturidade? Tento viver de forma simples. Amo minha esposa, e estamos juntos há 31 anos. Nós criamos galinhas e temos um lindo jardim. Também adoro pintar e tenho meu próprio estúdio.
Publicado em VEJA de 29 de agosto de 2025, edição nº 2959
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