Ana de Armas, a nova e poderosa femme fatale de Hollywood
Com Bailarina, a cubana assume o protagonismo de Keanu Reeves na franquia de ação John Wick

Na infância, Ana de Armas tinha poucas opções de entretenimento. Nascida em Havana, mas criada na cidade de Santa Cruz del Norte, a 50 quilômetros da capital de Cuba, a garota brincava com vizinhos nas ruas de pedras, onde corria descalça, e assistia aos dois canais de TV que tinha disponíveis. Ela agilizava as lições da escola e as tarefas domésticas para ver filmes e novelas e, com o tempo, passou a memorizar as falas dos atores e a repeti-las na frente ao espelho. Aos 13 anos, estava decidida: queria ser atriz e sabia que precisaria ralar muito para chegar a algum lugar. O esforço valeu a pena. Hoje, aos 37 anos, vivendo nos Estados Unidos, Ana é estrela cativa de Hollywood e acaba de adicionar mais um papel de destaque a seu já robusto currículo, a perigosa Eve do filme Bailarina — Do Universo de John Wick (Ballerina, Estados Unidos, 2025), que estreia na quarta-feira, dia 4, nos cinemas. Como diz o título, a trama derivada dos frenéticos filmes de ação estrelados por Keanu Reeves vira a câmera para outra personagem, uma dançarina que se torna assassina para vingar a morte do pai.
Da terra de Fidel Castro ao posto de “nova John Wick”, a trajetória de Ana foi repleta de percalços. No caminho, ela se amparou em sua principal característica — nem se trata de sua beleza notável e estonteante. Ana é extremamente dedicada. Sua lista de aprendizados para cada filme é longa, e passa da capacidade para emular pessoas reais e de aprender outra língua à perfeição até intensos treinos físicos para cenas de luta. Como seu antecessor na saga, a cubana dispensou o uso de dublês em Bailarina e fez treinos físicos intensos para dar conta das inúmeras sequências de ação que o filme exige. “Tinha um limite do que eu poderia fazer por causa do contrato da seguradora contra acidentes no set”, disse Ana em entrevista a VEJA. “Mas tentei fazer o máximo que deu, até porque eu não treinei por quatro meses para ficar sentada olhando.”

Filha de um professor e de uma gestora de recursos humanos, Ana Celia de Armas Caso começou a estudar atuação na Escola Nacional de Teatro de Cuba aos 14 anos. Aos 18, conseguiu seu primeiro papel no filme cubano Una Rosa de Francia (2006). Após outro longa rodado em sua terra natal, a estreante deu um passo maior no ano seguinte: se mudou para Madri, na Espanha, onde entrou para a série teen El Internado (2007-2010). Ela trabalhou em outros filmes e novelas por lá antes de redobrar a aposta em seu talento e se mudar para Los Angeles em busca do reconhecimento mundial. Em 2014, com 26 anos e sem falar inglês direito, aterrissou na Califórnia e estreou no cinema americano no filme Bata Antes de Entrar (2015), suspense protagonizado por (vejam só!) Keanu Reeves. O sonho realizado veio com um balde de água fria: o longa foi um fracasso de crítica e de bilheteria.
Poderia ser o fim da carreira internacional de Ana, mas a experiência serviu para que ela se esforçasse mais — e aprendesse com fluidez a língua inglesa. As portas, então, foram se abrindo. Ela embarcou na comédia Cães de Guerra (2016) e fez a inteligência artificial que tem uma relação amorosa com Ryan Gosling em Blade Runner 2049 (2017). O sucesso mesmo veio a galope com o filme Entre Facas e Segredos (2019), um mistério da linha whodunnit repleto de estrelas consolidadas como Daniel Craig, Chris Evans e Toni Colette. Interpretando uma enfermeira cuidadosa, não deixou nada a desejar diante dos colegas calejados — tanto que conquistou uma indicação ao Globo de Ouro. Craig fez questão de puxar a cubana para a saga de James Bond, na qual ela roubou a cena em uma pequena, mas poderosa, participação especial como uma agente secreta que bota para quebrar em 007 — Sem Tempo para Morrer (2021). “Foram noites de ensaio chuvosas e cansativas, mas eu me diverti”, afirma ela, lembrando as filmagens. No ano seguinte, surpreendeu ao encarnar ninguém menos que Marilyn Monroe no filme Blonde, da Netflix. Ana não era a opção óbvia para o papel — afinal, Marilyn era americana e não latina. A atriz, contudo, superou a barreira étnica com uma atuação brilhante e tornou palatável o filme sofrível, o que resultou em sua primeira disputa por um Oscar.

Como toda grande estrela, especialmente uma de genética tão agraciada, Ana entrou na mira dos tabloides e dos paparazzi, que se deliciam com os romances da atriz. Após um namoro com Ben Affleck, ela estaria no momento com o galã Tom Cruise, de 63 anos. Os dois, em breve, estarão juntos em um novo filme. A parceria promete, já que o astro americano adora desafiar a gravidade em cenas de ação — e vai encontrar em Ana uma parceira à altura. Ninguém segura a nova femme fatale do cinema.
Publicado em VEJA de 30 de maio de 2025, edição nº 2946