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3% com spoilers: Atrizes comentam final da série da Netflix

Bianca Comparato e Vaneza Oliveira falam a VEJA sobre o desfecho de suas personagens na trama e a jornada ao longo de quatro temporadas

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 ago 2020, 12h24 - Publicado em 20 ago 2020, 12h04

O texto a seguir tem spoilers da quarta e última temporada da série 3%

Iniciada em 2016, a série nacional 3% tem uma jornada atípica. Nascida como um projeto de faculdade, em 2009, comandada por Pedro Aguilera, ela foi abraçada pela Netflix e se tornou a primeira série brasileira do canal de streaming. É também um dos poucos exemplares distópicos da ficção do país. Na trama, uma sociedade em ruínas vive no Continente e aguarda a chance de passar em um teste que seleciona os melhores (os tais 3%) para viver na abastada sociedade do Maralto. Em sua quarta e última temporada, a separação entre um e outro acaba quando o grupo comandado por Joana (Vaneza Oliveira) e Michele (Bianca Comparato) provoca uma explosão no Maralto, tornando a vida por lá inabitável. Todos, então, precisam se adaptar ao Continente e imaginar uma nova organização social. As duas atrizes protagonistas falaram a VEJA sobre o final da trama e a jornada ao longo das quatro temporadas.

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Uma das cenas mais impactantes da última temporada é a concretização do embate entre Michele e o irmão, André (Bruno Fagundes), que se transformou em vilão ao longo da série. O que sentiu ao ler que sua personagem morreria levando um tiro dele?
Bianca: Foi muito impactante ler o roteiro. O Pedro Aguilera me surpreende desde o começo. Foi um final bonito, apesar de trágico. Pois antes da morte, ela se encontra, e isso era uma parte essencial da trajetória da personagem, que teve muitos altos e baixos, e parecia perdida buscando a essência de quem ela era e quem ela queria se tornar. Quando a Michele faz o anúncio de liberdade para o Continente no microfone, ali ela se encontrou e está em paz. E essa paz dura 5 segundos, até o irmão puxar o gatilho. Foi um final belíssimo para a trajetória de Michele e André. Acho simbólica a morte como resultado de dois irmãos que não conseguem uma reconciliação. É alegórico. Tem uma simbologia com a sociedade que vivemos agora. Das diferenças dentro da própria casa. Para mim, foi uma conclusão real e bonita. Uma história épica com final épico. Mas, sim, chocante.

Como foi gravar aquela cena?
Bianca: Foi um momento de muita entrega e cuidado. A cena foi dirigida pela Daina Giannecchini e durou um dia inteiro. Tinha uma coisa corporal intensa importante ali. É uma cena de 10 minutos. Eu ficava no intervalo correndo em volta do set, para mostrar na cena um corpo acelerado, cansado. Mergulhei nesse estado. Foi tudo bem ensaiado e colaborativo.

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Bruno Fagundes e Vaneza Oliveira na série 3%, da Netflix (Netflix/Divulgação)

Joana, por outro lado, tem um final mais feliz ao se tornar a líder da nova sociedade que se forma no Continente. Como foi para você, Vaneza, ler o roteiro dessa temporada?
Vaneza: Eu queria muito conhecer mais da história familiar da Joana. Mas, por fim, isso não se concretizou, fiquei só com o desejo. Mas a última cena em que as pessoas me seguem até o prédio do Processo, eu não esperava que fosse naquele formato. No fim a diretora falou: “agora todo mundo olha para a Joana”. Nessa hora, não sei o que senti, se fui eu quem se emocionou ou se foi a Joana. Eu comecei a chorar como uma maluca e não conseguíamos finalizar a cena, pois eu não poderia estar chorando. Não tenho palavras para descrever como foi aquele dia. Foi uma das coisas mais fortes que eu vivi na vida. Estou p*** que acabou (risos).

Joana foi uma das personagens que mais se destacou ao longo da série. O que leva dessa jornada?
Vaneza: A Joana começa num modo de sobrevivência solitário e passa por uma virada de consciência na primeira temporada, quando vira uma chave e ela se conscientiza sobre o mundo em que vive. O sonho do Maralto cai por terra. Ao longo da segunda e terceira temporada, ela aprende a criar um mundo com outras pessoas. Ela aprende a amar e a deixar ser amada. Isso a ajudou a entender o outro, a trabalhar em parceria. É uma personagem que me ensinou a ser uma agente de ação. Ela pensa: “eu posso realizar sim, eu posso mudar o mundo apesar dos desafios, não vou desistir”. Ela prefere morrer tentando. Eu já me identificava com isso, mas ela é mais forte e reativa do que eu. Então foi um processo de evolução pessoal muito forte. Eu estava começando a carreira no teatro e essa oportunidade surgiu e mudou minha vida, me deu independência financeira, além de uma voz e oportunidade de dirigir projetos pessoais.

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Bianca, você já tinha uma carreira consolidada quando entrou para 3%. Como analisa essa trajetória hoje?
Bianca: Quando eu fui convidada a fazer a série, a Netflix não era a Netflix de hoje. Era muito menor e menos conhecida. Seria a primeira série brasileira do canal feita por um jovem escritor desconhecido. Então era algo arriscado e diferente. Foi uma decisão difícil, que, no fim, causou um impacto enorme na minha carreira. Eu não esperava o tamanho da mudança que essa série traria na minha vida. Fizemos visando o mercado brasileiro, e a série viajou, virou sucesso fora do Brasil. Me abriu portas para oportunidades internacionais. Hoje tenho agentes nos Estados Unidos por causa de 3%. Com a pandemia, estou isolada em Los Angeles com minha namorada (a também atriz Alice Braga), então ainda não tenho nada para anunciar, mas já vislumbro frutos que estão por vir dessa jornada.

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Cena da série 3%, da Netflix (Netflix/Divulgação)
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