Lula e Mantega: o novo capítulo do filme que você já viu
Previsível como uma reprise, Lula escreve um roteiro que leva ao mesmo (amargo) fim
Por Ricardo Rangel
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25 jan 2024, 12h46 • Atualizado em 8 Maio 2024, 16h37
O ex-ministro Guido Mantega e o ex-presidente Lula - (Domingos Tadeu/PR)
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Na semana passada, Lula anunciou a retomada de investimentos nas refinarias Abreu e Lima e Comperj, símbolos do petrolão. Esta semana, anunciou um pacote de 300 bilhões para estimular a indústria, num modelo similar ao que nos deu a Lava-Jato. O presidente do BNDES, Aloisio Mercadante, afirmou que o Brasil “precisa construir navios”, ideal que acabou no escândalo da Sete Brasil.
E agora, informa Lauro Jardim, Lula está determinado a emplacar Guido Mantega na presidência da empresa. É uma ideia absurda de muitas maneiras:
A Vale é uma empresa privada, Lula não tem que ter opinião sobre quem é ou deixa de ser presidente da empresa.
Mantega não tem qualificação para ser sequer conselheiro, muito menos presidente.
O histórico de Mantega é desastroso: pior ministro da Fazenda da história, foi o síndico de uma devastação fiscal que jogou o país em uma profunda recessão, da qual até hoje não nos recuperamos completamente.
Sua reputação está longe de ser ilibada: arrolado como “Pós-Itália” nas planilhas da Odebrecht, chegou a ser preso por suspeita de corrupção.
E o mais grave: Lula quer colocar Mantega na Vale por motivos personalíssimos. Acha que o velho amigo sofreu uma “injustiça” que merece reparação — de 60 milhões de reais por ano a ser feita com dinheiro privado.
A chance de Lula conseguir botar Mantega na presidência — neste momento — é perto de zero. Mas, ao pressionar pela presidência, tende a garantir que Mantega será eleito conselheiro. E, uma vez colocado o pé na porta, fica bem mais fácil conseguir a presidência em um segundo momento.
Lula está mais voluntarioso do que nunca e a capacidade do governo de chantagear o conselho da Vale — usando sua golden share para atrapalhar os procedimentos societários, negando licenças minerárias etc. — não deve ser subestimada. Em seu primeiro governo, Lula tanto pressionou os acionistas que conseguiu se livrar de Roger Agnelli, cujo desempenho era estelar.
A bronca de Lula com Agnelli era principalmente porque queria que a Vale entrasse para valer no ramo de siderurgia, fora do centro de competência da mineradora — e o então presidente da empresa resistia. A visão desenvolvimentista de Lula continua querendo a mesma coisa agora. Que Mantega, claro, entregaria.
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Então ficamos assim. A Vale produz aço. Com o aço, uma nova Sete Brasil fabrica os navios. Os navios são abastecidos com diesel refinado na Abreu e Lima a partir do petróleo produzido pela foz do Amazonas. Tudo financiado com dinheiro baratinho do governo.
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