Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Ricardo Rangel

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Continua após publicidade

Jogada arriscada

O presidente colocou suas fichas em um lance duvidoso

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h23 - Publicado em 27 mar 2020, 06h00

No pronunciamento de terça-­feira 24, Jair Bolsonaro reiterou seus argumentos sobre o coronavírus: há exagero e histeria; a imprensa promove o pânico; aqui será diferente da Itália; a cloroquina vai funcionar; a pandemia “brevemente passará”. Contrariou seu ministro da Saúde, pregou a volta à normalidade, atacou os governadores e exigiu que suspendessem o isolamento, reabrissem comércio e escolas, restabelecessem os transportes.

Bolsonaro preocupa-se com a economia, mas não só com ela. “Se afundar a economia, acaba com o meu governo, é uma luta de poder”, declarou na semana passada. A preocupação com a economia é irretocável: não basta salvar a vida dos brasileiros, é preciso impedir que se arruínem. A vontade de salvar seu governo é menos nobre, mas legítima. O que choca é que Bolsonaro dê mais valor à sobrevivência de seu governo que à de seus governados e que enxergue no esforço de salvar vidas somente luta política.

A ideia de que não é preciso parar o país completamente por causa de uma doença relativamente pouco letal, de que se pode flexibilizar gradualmente o isolamento até alcançar a imunidade de rebanho, faz sentido. Para isso, entretanto, é preciso que a propagação do vírus seja zero e que o sistema de saúde não esteja em colapso — o que exigirá isolamento total durante algum tempo (se tivéssemos começado antes, seriam poucas semanas).

Surpreende que Bolsonaro não faça o cálculo do custo político de sua atitude

Flexibilizar o isolamento neste instante — em que os casos crescem exponencialmente e o colapso do sistema de saúde é inevitável — é a certeza do desastre. Sem hospitais, a quantidade de mortos (em grupos de risco ou não, por causa do vírus ou não) será imensa; muitos médicos, mais expostos, morrerão, agravando o problema. Virá o pânico, todos se trancarão em casa e deixarão de trabalhar (que é justamente o que se quer evitar). Teremos centenas de milhares de mortos, milhões de trabalhadores perderão seus parentes, o país mergulhará na dor e na paralisia. O custo de flexibilizar o isolamento prematuramente pode ser ainda maior que o custo de mantê-lo.

Continua após a publicidade

Para alguém que tanto se preocupa com o poder, é surpreendente que Bolsonaro não faça o cálculo do custo político de sua atitude. Se houver muitas mortes e o eleitorado as associar ao boicote presidencial ao isolamento, seu desgaste será irrecuperável. Se as mortes ficarem controladas e o eleitorado perceber que isso se deve ao isolamento feito ­— à sua revelia — pelos governadores, seus rivais terão enorme ganho (João Doria já é hoje uma figura muito maior do que era uma semana atrás). É um cenário perde-perde.

E, quanto mais Bolsonaro ataca o isolamento, mais ele próprio se isola: estão contra o presidente a classe política (até os aliados), o STF, a imprensa, boa parte do alto oficialato, uma enorme parcela do empresariado, do mercado financeiro e da população. Com o aumento das mortes, até o apoio do núcleo duro declinará.

Bolsonaro jogou suas fichas na convicção de que conseguirá flexibilizar o isolamento e de que haverá poucas mortes. É uma jogada arriscada, que pode acabar lhe custando o cargo.

Publicado em VEJA de 1 de abril de 2020, edição nº 2680

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.