Entre pancadas e xingamentos, pai de Michael Jackson exigia a perfeição
Reportagem de julho de 2009 mostrou que os traumas levaram o astro pop a retirar Joseph Jackson (morto nesta semana) de seu testamento
Com a morte do pai de Michael Jackson, não se apaga uma das histórias mais tristes contra artistas mirins, de um patriarca que fez de tudo para que seus filhos conquistassem o estrelato. Joseph Jackson conseguiu, é fato, mas a que preço?
Em 30 de novembro de 2005, na edição 1933, VEJA o citou como um dos piores pais do show business. “Na categoria dos ‘pais-patrões’, aqueles que submetem a cria a torturas físicas e psicológicas até que ela alcance o estrelato, o campeão inconteste é Joe Jackson, pai de Michael, LaToya e Janet Jackson. Joe obrigava as crianças a sair da cama às 4 da manhã e as fazia ensaiar oito horas por dia. Quem errasse um passo ou um trinado era surrado sem piedade. ‘O único sentimento que papai despertou em nós foi ódio’, declarou LaToya.”
Com a morte do grande astro da família, Michael, em 2009, a revista voltou a mostrar os abusos da família em nome do sucesso, mas revelou que os problemas iam além do pai, Joe Jackson. O rei do pop foi capa da edição 2.119, de 1º de julho daquele ano. Leia um trecho da reportagem:
“A ambição dos pais não conhecia limites. Aos 6 anos, Michael se tornaria a maior estrela do grupo criado por eles. Acabava-se ali sua infância. Ensaiava o dia inteiro – ‘Às vezes, olhava para fora, via as crianças brincando e chorava’, contou em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, em 1993. Se os meninos erravam um passo ou uma nota, o pai se enfurecia como um treinador de animais de circo. Lembrou Michael na entrevista a Oprah: ‘Ele partia para cima da gente… Ficávamos muito nervosos nos ensaios porque ele ficava sentado numa cadeira, com o cinto na mão, e se alguma coisa não saía direito ele vinha para cima, sem dó’. De tão aterrorizado, ‘tinha vezes que ele chegava perto e eu vomitava’. Jackson pai dizia que o filho-prodígio era feio, criticava o rosto com espinhas e ria de seu nariz ‘enorme’. Nos ‘muito tristes’ anos da puberdade, ele ‘chorava todos os dias’.”
Os dramas iam do bullying paterno à solidão diante da incompreensão dos familiares em relação a sua extrema sensibilidade. “O começo da carreira musical foi em boates e palcos de prostíbulos de Indiana. Em um deles, forçado pelos irmãos mais velhos, Michael perdeu a virgindade e ganhou mais um trauma para carregar vida afora. O pai dominador, a mãe muito religiosa mas indiferente aos maus-tratos, a fama, o isolamento, a fragilidade emocional, o abismo entre sua carreira e a dos irmãos (e irmãs – as três, Rebbie, Janet e LaToya, também se viabilizaram como cantoras, mas no limite mínimo da mediocridade), tudo isso moldou a personalidade de Michael Jackson. Seu caso se encaixa como exemplo acabado dos manuais básicos de psicologia, em especial nos capítulos sobre os efeitos na personalidade da infância perdida e da busca torturante pela perfeição.”
Na edição seguinte, a 2.120, VEJA deu ainda mais detalhes sobre Joseph e Katherine. “Desde sua morte, no último dia 25, o cantor Michael Jackson recobrou rapidamente a condição de ídolo. Fãs de todo o mundo buscam seus discos com avidez e o celebram como grande artista. Em meio às homenagens, a família destoa. A figura mais deplorável é o pai de Michael, Joseph Jackson. Ele tem dito que o filho ficaria “orgulhoso” com a comoção dos fãs – comoção que ele próprio, todo sorrisos nas aparições públicas, é incapaz de demonstrar. Joseph anunciou a criação de uma gravadora, a Ranch Records, pela qual lançará novos nomes da música negra. Resta saber quem gostaria de gravar com o carrasco que, nos anos 60 e 70, conduzia os ensaios dos filhos – a banda Jackson Five – com o cinto na mão. Compungida em público, a mãe do cantor, Katherine Jackson, parece ser bastante pragmática em privado. Um dia depois da morte de Jackson, ela teria ligado para a ex-babá dos filhos do cantor, Grace Rwaramba, perguntando onde o filho “escondia dinheiro”. E assim, com a colaboração decisiva de amigos e parentes – e da imprensa sensacionalista -, o lado perturbado e perturbador da vida do cantor de Thriller continua em pauta.”
A reportagem citava o testamento do cantor, que havia acabado de ser anunciado e no qual não constava o nome do pai. “O documento aponta a mãe do cantor como guardiã de seus três filhos, Prince Michael e Paris Katherine, nascidos da união com a enfermeira Debbie Rowe, e Prince Michael II, cuja mãe nunca teve a identidade revelada.” Mais à frente, o porquê da punição ao ditador da família. “Michael, como se vê, excluiu o pai tirano do testamento – mas preservou a mãe, a quem sempre foi mais ligado, talvez até pelo sofrimento: ela também apanhava de Joseph.”