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Reinaldo Azevedo

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O BNDES e o Pão de Açúcar: o que importa

Vamos ver se a gente consegue pôr a bola no chão nessa história da participação do BNDESPar na compra das operações no Brasil do Carrefour pelo Pão de Açúcar. Tudo somado e subtraído, vamos dizer que o Carrefour esteja a preço de ocasião, certo? O problema do gigante parece ser mesmo de gestão, coisa em […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 11h29 - Publicado em 29 jun 2011, 22h31

Vamos ver se a gente consegue pôr a bola no chão nessa história da participação do BNDESPar na compra das operações no Brasil do Carrefour pelo Pão de Açúcar. Tudo somado e subtraído, vamos dizer que o Carrefour esteja a preço de ocasião, certo? O problema do gigante parece ser mesmo de gestão, coisa em que Abílio Diniz e sua equipe têm competência mais do que comprovada. O BNDESPar participa, parece, de quase duas centenas de empresas. Caso a operação se concretize e o banco se torne sócio de um gigante do varejo, acabará ganhando dinheiro, acho eu. Vamos seguir.

Também é discutível essa história de que uma empresa que domine 27% do setor acaba prejudicando o consumidor porque diminui a concorrência. É possível ver por outro ângulo: ela pode puxar para baixo os preços. Numa economia fortemente ancorada no consumo, é até provável que isso aconteça. Por aí também não vejo problema.

Então vamos ver: até agora, temos que é improvável que o BNDESPar perca dinheiro e que o consumidor, no fim das contas, acabe prejudicado. E, obviamente, o Pão de Açúcar é, entre todos, nessa relação, o maior beneficiado. Note-se ainda: o BNDESPar já fez operações parecidas; o valor do empréstimo é que espanta um pouco. Mas, se a linha de crédito existe, por que recusá-la?

O tamanho do Estado
A questão, meus caros, é de outra natureza. Em sendo necessário haver um BNDESPar, parece que o razoável é supor que ele deva entrar no financiamento de obras de infra-estrutura, por exemplo, que melhorem substancialmente as condições básicas de operação da economia brasileira.  Estão aí os portos, aeroportos e estradas em petição de miséria. Havendo um BNDESPar, pergunta-se: é o caso de uma empresa pública como essa financiar frigorífico — especialmente se em vias de quebrar — ou supermercado? O fato de a operação ser potencialmente lucrativa, de o consumidor até poder sair ganhando e de uma possível fusão ser até positiva no que respeita à inflação, não significa que o BNDESPar não tenha um lugar melhor para pôr o dinheiro.

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É preciso fazer algumas indagações importantes. Por que o Estado precisa entrar pra valer no mercado? O que ele busca? Lucro? Quer competir com as empresas privadas nesse ou naquele setor? A resposta é “não” e “não”. O Estado só pode se meter nesse tipo de operação em busca de… poder político. E é isso o que está essencialmente errado não só nessa operação, como em muitas outras em que o BNDESPar passou a atuar. Há aí, a despeito de ganhos eventuais para o próprio banco e até para os consumidores, um claro desvio de função.

O BNDESPar opera com juros subsidiados. Isso tem, evidentemente, um custo para toda a sociedade. Em tese, esse custo pode ser compensado com ganhos efetivos para o banco, que serão, então, aplicados naquela letra “S” da sigla, que é o “Social”. O problema é que o banco está claramente tomando outro rumo — elegendo, inclusive, aqueles que podem e aqueles que não podem ser beneficiados por suas escolhas, ainda que eventualmente lucrativas.

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