O ATO ANTIGREVE NA USP. OU: “COTIDIANO”, DA FOLHA, VIRA PORTA-VOZ DA LER-QI E DA LBI
Alunos contrários à greve da USP, que marcaram uma manifestação para a próxima quinta-feira, ao meio-dia, já estão sendo hostilizados na imprensa, em especial no caderno Cotidiano, da Folha. Ele se tornou uma espécie de porta-voz da LER-QI (Liga Estratégica Revolucionária) e da LBI (Liga Bolchevique Revolucionária). No domingo, Laura Capriglione demonstrou, por vias um […]
Alunos contrários à greve da USP, que marcaram uma manifestação para a próxima quinta-feira, ao meio-dia, já estão sendo hostilizados na imprensa, em especial no caderno Cotidiano, da Folha. Ele se tornou uma espécie de porta-voz da LER-QI (Liga Estratégica Revolucionária) e da LBI (Liga Bolchevique Revolucionária). No domingo, Laura Capriglione demonstrou, por vias um tanto oblíquas, como eles pretendem melhorar a USP… É uma piada! Já volto ao ponto. Agora, é preciso deixar claro:
ATO CONTRA A GREVE DA USP
QUANDO – Quinta, dia 25
HORA – 12h30
ONDE – Em frente à FEA, com caminhada até a Praça do Relógio
RECOMENDAÇÃO – Ser firme, mas não ceder à provocação dos baderneiros
Destrinchando a notícia
Os inúteis cursos de jornalismo, com as exceções de sempre, costumam infernizar a vida dos estudantes com a acusação de que a grande imprensa, como é mesmo?, é “burguesa” e só “reflete a vontade da classe dominante”. Sei que a formulação fede a cocô dos dinossauros. Bem, é o que são; é o que produzem — e as duas coisas explicam o odor que exalam. Adiante.
Tio Rei dá aqui uma destrinchada numa notícia que está hoje no caderno Cotidiano, da Folha, evidencia a infiltração do discurso grevista na editoria, prova por que se trata de um fato, não de um juízo de valor, e demonstra, então, que aquele papo das escolas é furado. Ao contrário: a imprensa brasileira costuma vender como consenso as teses da esquerda. Aos detalhes. Matéria do Cotidiano em vermelho; eu em azul.
Nos últimos dias, um movimento antigreve na USP deixou de ser virtual (na internet) e passou a promover atos na Cidade Universitária. Já foram feitos dois protestos e outro está marcado para quinta.
É o trecho, digamos, não-intencional da pregação grevista. Vale dizer: até o que há de inocente é comprometido. O “movimento antigreve” jamais foi só virtual — existindo apenas na rede. Ele é real. Perto de 78 mil alunos assistem normalmente às aulas. E a maioria dos que estão parados em três ou quatro unidades é só vítima da intimidação.
Entre estudantes descontentes com sucessivas greves, há também dois grupos virtuais organizados, que participam ou organizam a mobilização.
Aqui se registra apenas um erro de lógica formal. Se o lead diz que o movimento “deixou de ser virtual”, não faz sentido o parágrafo seguinte informar que “há também” dois grupos virtuais. Agora vem a preparação para a distorção consciente, organizada, determinada.
O maior, denominado CDIE (Comissão para Defesa dos Interesses Estudantis da USP), existe desde abril deste ano e conta com 665 membros na comunidade do Orkut. Ele é responsável por um abaixo-assinado contra a greve, que já reúne 3.000 assinaturas, segundo os organizadores.
Observem que nada se diz sobre esse grupo maior: o que pensa?, o que quer?, quais são seus valores? Nada! Ele apenas é um aperitivo para o que vem a seguir.
O mais recente, denominado Flacusp (Forças de Libertação Anticomunistas da USP), foi criado no Orkut no dia 8 e tem 107 membros virtuais “selecionados”, afirma Leandro, 23, um dos participantes (ele não quis dar o sobrenome nem dizer a qual curso pertence).
Leandro classifica os atos do movimento grevista como “balbúrdia” e diz preferir a ditadura. “A ditadura impõe a ordem, não deixa essa zona acontecer.”
Notaram? Nem mesmo é possível saber se o tal Leandro é mesmo aluno da USP. Mas digamos que seja… Será ele um aluno típico? Mais ainda: o tal Flacusp representa os que se opõem à greve? A narrativa jornalística têm em comum com a narrativa literária — E ISTO NÃO SE COSTUMA ENSINAR EM CURSOS DE JORNALISMO, NÃO COM ESTA CLAREZA — a escolha de personagens típicas, que representam um grupo social, um certo padrão de comportamento, uma visão de mundo. E aqui há algo curioso.
No caso da literatura, que é ficção (e, portanto, uma mentira), recorre-se aos tipos para conseguir expressar, muitas vezes, verdades sociais ocultas. No caso de certo jornalismo, pode-se recorrer à verdade — uma personagem que, de fato, existe — para contar uma mentira. É o que faz este texto do caderno Cotidiano.
Ora, está na cara a intenção de caracterizar os críticos da greve como golpistas, que preferem uma ditadura militar à democracia.
– Será Leandro, uspiano ou não, representativo dos que se opõem à greve? Se não é, por que está ali; se está ali, isso quer dizer o quê?;
– Caracterizado como alguém favorável à truculência, ele é representativo de tal grupo?;
– Quem é que tem optado por ações violentas na USP? Sigamos.
O jovem era um dos participantes de um protesto antigreve que ocorreu na última sexta de manhã na USP e reuniu 80 estudantes. Na mesma noite, outra manifestação contra a paralisação reuniu cerca de 300 pessoas. Nos dois protestos, houve confrontos com grevistas, xingamentos e discussão. Antigrevistas afirmam ter sido vítimas de chutes e socos.
Viram só? O “anticomunista”, que prefere a ditadura, participou de um dos atos contra a greve. Nem vou perguntar se a reportagem, de fato, constatou tal participação. Quanto às agressões, é incorreto dizer que os “antigrevistas afirmam ter sido vítimas de chutes e socos”. Eles FORAM vítimas de chutes e socos. Publiquei aqui o testemunho de alunos agredidos. E alunos com nome, sobrenome e curso especificados.
Nos protestos, estudantes contra a greve pediam a volta do “bandejão” e do “ônibus circular”. Os grevistas chamavam o grupo de “fascista”. O próximo ato antigreve será quinta, às 12h30, em frente à FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade).
E, acima, vai a chave de ouro do texto: “Os grevistas chamam o grupo de fascista”. É… De fato, o texto busca caracterizar como “fascistas” os que se opõem à greve à medida que, ao selecionar uma fala para representá-los, escolhe justamente quem se diz favorável a uma ditadura militar.
Há ainda outro viés hostil, porém mais sutil, aos que se opõem à greve: suas reivindicações seriam coisas banais, bestas (restaurante, ônibus), em contraste com a nobreza do discurso político dos grevistas. Como se o colapso de parte da infra-estrutura da universidade não afetasse, de fato, a vida acadêmica.
Torço para que a esmagadora maioria dos mais dos 78 mil que estão estudando normalmente se faça representar no ato de quinta-feira. Torço para que os presentes não cedam à provocação da — ela, sim — minoria fascista que impõe a desordem e, às vezes, o terror na universidade.
E dou um conselho aos presentes: evitem conceder entrevistas à imprensa greveira. Tudo indica que não há a menor chance de sua fala ser registrada num contexto virtuoso. Vai que Laura Capriglione decida prestar atenção ao que você diz… Fujam, pois, dos também provocadores do “jornalismo”.