Ninguém deveria ter xingado Lewandowski de “bandido, corrupto, ladrão e traidor”. Mas nem isso torna certa a sua fala absurda
É curioso! Há um enorme esforço para demonstrar que a população não está nem aí para o julgamento do mensalão. E até se faz o elogio desse povo supostamente imune às estripulias dos mensaleiros: seria um comportamento maduro, sereno, comedido. Entendi. Ignorar os crimes cometidos por larápios e por assaltantes dos cofres púbicos é agora […]
É curioso! Há um enorme esforço para demonstrar que a população não está nem aí para o julgamento do mensalão. E até se faz o elogio desse povo supostamente imune às estripulias dos mensaleiros: seria um comportamento maduro, sereno, comedido. Entendi. Ignorar os crimes cometidos por larápios e por assaltantes dos cofres púbicos é agora coisa maiúscula, própria da Idade da Razão. Que nojo, né?
Abaixo, há um relato de Lino Rodrigues, no Globo, dando conta de que o ministro Ricardo Lewandoweski, do STF, foi xingado de “bandido, corrupto, ladrão e traidor” na Escola Estadual Mário de Andrade, no bairro de Campo Belo, em São Paulo, quando foi votar. Leiam o que segue. Volto em seguida.
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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, foi vaiado e xingado de ‘bandido, corrupto, ladrão e traidor’ na saída da Escola Estadual Mario de Andrade, em Campo Belo, Zona Sul de São Paulo, local onde vota. Pouco antes de ser reconhecido, ele disse que a reação popular em todo o país tem sido de cumprimentos e pedidos para tirar fotos.
“Votei normalmente. Entrei pela porta da frente e como qualquer cidadão entrei na fila. Tudo na maior tranquilidade. Isso é democracia, liberdade. As reações agora (os xingamentos) são normais. Estou aqui com vocês (jornalistas) e muito exposto”, disse, já nervoso com os gritos e sendo puxado pelos assessores.
O revisor do processo do mensalão afirmou que o julgamento não teve nenhuma influência nas eleições deste ano. Segundo ele, os eleitores brasileiros estão maduros e conscientes para fazer suas escolhas, sobretudo porque o país tem uma imprensa livre “que vem apresentando todos os ângulos das questões em debate no julgamento”. “ Uma coisa é o julgamento. Outra coisa são as eleições. O povo brasileiro está muito maduro para fazer suas escolhas”, disse o ministro.
Sobre o sua atuação no julgamento (…), justificou que esse é o papel do revisor, de trazer contrapontos e uma segunda opinião, outras perspectiva sobre os mesmos fatos. “O papel do revisor foi importante, apresentou contrapontos e muita gente foi absolvida. Creio que cumpri o meu papel e a Corte acatou em muitos aspectos a opinião do revisor”, disse, acrescentado que (…) acabou convencendo seus colegas. “Doze absolvições são pouco? Uma foi para primeira instância por erro processual; algumas dosimetrias foram refeitas em função papel do revisor. Creio que cumpri o meu papel.”
(…)
O presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, considerou uma “conduta de vândalos, com conotação fascista” a manifestação contra o ministro. “Em julgamento de processos, não há juízes heróis nem juízes vilões. Cada um julga de acordo com a prova dos autos e com as suas convicções”, afirmou o presidente da OAB-RJ, em nota divulgada na tarde deste domingo. Damous ainda afirmou que está em curso na sociedade brasileira uma pretensão de coagir o Poder Judiciário, a partir de “clamores condenatórios e prejulgamentos”. Ele disse que espera que Ayres Britto, presidente do STF manifeste repúdio contra esse tipo de manifestação, de caráter “intolerante e fascista, que nada têm a ver com a democracia”.
Voltei
Comecemos pelo óbvio: é evidente que não endosso e que ninguém pode endossar manifestações agressivas contra ministros do Supremo, acompanhadas de xingamentos. Não é correto, não é civilizado, não é útil. Não gosto quando fazem isso com pessoas que admiro e também reprovo quando o fazem com pessoas por quem não tenho a menor admiração, como é caso do ministro. Atitudes assim só servem para criar falsas vítimas e para passar a impressão, errada, de que é o tal do clamor público que move o STF. E, obviamente, não é.
Antes que comente a fala de Lewandowski, noto que, mais uma vez, o presidente da OAB Rio, Wadih Damous, vai além das suas sandálias, para citar o pintor Apeles, e não o escultor Fídias — não é, ministro? Até hoje aguardo o seu “errei”…
Sr. Damous, uma coisa é censurar a agressividade, e isso é uma obviedade necessária. Outra é apontar os tais “clamores condenatórios” e “prejulgamentos”. Em que caso houve isso? Por que o senhor não aponta? Ou bem o senhor se comporta como presidente da OAB-RJ ou bem se manifesta como advogado de condenados pelo mensalão. O senhor é o que se chama um “operador do direito”. Ou bem evidencia o que diz ou bem se cala. Para a pura chicana, já existem os próprios mensaleiros e seus aliados.
Agora Lewandowski
Sempre destacando que o ministro não deveria ter sido alvo de agressões verbais — a protestos, qualquer homem que exerce cargo público está sujeito —, noto que sua fala sobre a suposta maturidade dos que não teriam levado em conta o mensalão ao votar é estúpida. Ele parece estar feliz com essa suposta irrelevância do escândalo, que não está provada de modo nenhum. Se irrelevante tivesse sido, por que isso seria bom? Então o eleitor, ao sufragar nomes das urnas, não deve considerar o passado do partido a que eles pertencem? Então seria saudável que os brasileiros não estivessem nem aí para a corrupção — alguns corruptos condenados pelo próprio Lewandowski?
Que diabo de juízo é esse, senhor ministro?
Quando à questão do julgamento em si, noto que o caso que foi parar na primeira instância por falha processual se deveu à ação de um defensor público. O revisor não teve nada com isso. Mais: Lewandowski insiste que o papel da revisão é apresentar um juízo alternativo. Ele até pode fazê-lo, mas sua principal atribuição não é essa, não! Sua principal atribuição é justamente averiguar se existem falhas no processo — o que, pelo visto, ele não fez.
Encerro voltando a Damous: espero que ele proteste também contra os “fascistas de José Genoino”. Ou “fascista”,agora, são apenas aqueles que discordam de nós, doutor?