Deus e o diabo na terra do sol de Crivella e Freixo
Candidato do PSOL diz não estar fazendo “Cruzada Santa” contra ninguém... Ainda bem! Até a expressão seria inédita!
Deus não participa de eleições porque tem mais o que fazer, suponho. Da disputa do Rio, então, ele deve se manter a uma prudente distância… Mesmo assim, Marcelo Crivella, candidato do PRB, bispo da Igreja Universal, tem lá os seus motivos para ser grato ao Altíssimo.
Os não esquerdistas do Rio se dividiram pra valer no primeiro turno. Crivella chegou em primeiro, e a balcanização do campo conservador contribuiu para levar o nanico Marcelo Freixo, do PSOL, para o segundo turno. Como costumo lembrar: viva Paulo Francis! Sempre deixe um comunista falar!
Ninguém consegue combatê-lo com tanta propriedade como ele próprio. Especialmente quando se é um Freixo, não um Lula. Vale dizer: especialmente quando o esquerdismo decorre de uma deformação intelectual, não de uma experiência vivida.
Freixo agora decidiu ligar Crivella a Anthony Garotinho — afinal, ambos são evangélicos — para tentar aumentar a rejeição a seu oponente, com ampla vantagem nas pesquisas de intenção de voto. E ele o faz de uma maneira curiosa, dizendo que não pretende fazer uma “Cruzada Santa” (sic) contra o adversário.
Uau! A expressão escolhida trai o desejo de levar, sim, a religião para o centro do debate, tanto é assim que Freixo se atrapalha até na expressão.
A gente conhece “Guerra Santa” — numa referência a qualquer esforço religioso no combate ao inimigo (modernamente, está mais ligada aos islâmicos) ou “Cruzada”, numa alusão, ora vejam!, à mobilização da Igreja Católica para expulsar os mouros da Europa. “Cruzada Santa” revela a ignorância de Freixo e, ao mesmo tempo, trai o seu propósito.
É tão impressionante que alguns artistas ditos descolados vejam nesse rapaz uma espécie de demiurgo. Ok! Um demiurgo da Zona Sul do Rio. Sei que isso tem lá os seus limites. Sigamos.
Nesta quarta, Índio da Costa, do PSD, que teve 8,9% dos votos válidos, deu oficialmente seu apoio a Crivella. Suponho, a julgar pelas pesquisas, que seu eleitorado já o tivesse feito por conta própria.
Em meio a ataques a seu adversário, Freixo também resolveu expor a sua arma secreta: o vereador eleito de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) foi ao Rio para lhe hipotecar apoio. Os dois visitaram juntos uma casa de abrigo e capacitação de travestis no centro da cidade.
Freixo ainda filosofou sobre seu amor pela humanidade:
“Mais do que falar do meu oponente, prefiro falar da gente. Um dos momentos mais bonitos da minha vida foi o lançamento da candidatura da Indianara [Siqueira, travesti eleita vereadora suplente pelo PSOL]. A política não é um espaço de ódio, nem da segregação, nem da exclusão”.
Entendi. Ele não faz “Cruzada Santa” contra ninguém.
Espero que, à diferença do PT, o PSOL nunca aprenda a fingir.
Se é que me entendem.