ANTISSEMITISMO NA UFSM: AS CONSEQUÊNCIAS 2 – Sobre ambiguidades e pusilanimidades. Ou ainda: Será tudo uma invenção do Reinaldo Azevedo?
Vejam esta foto: Vamos lá. Eu não escrevo para agradar a esse ou àquele. Não escrevo para proteger meus amigos e atacar meus inimigos. Não escrevo para defender meus interesses e atacar os de adversários. Não raro, meto-me em porfias que não têm nem vizinhança com questões pessoais — a não ser a proximidade que […]
Vejam esta foto:
Vamos lá. Eu não escrevo para agradar a esse ou àquele. Não escrevo para proteger meus amigos e atacar meus inimigos. Não escrevo para defender meus interesses e atacar os de adversários. Não raro, meto-me em porfias que não têm nem vizinhança com questões pessoais — a não ser a proximidade que mantenho com todo homem, como escrevia Terêncio: “Homo sum, humani nihil a me alienum puto” (Sou homem, e nada do que é humano é estranho a mim”). Algumas reações ao episódio havido na Universidade Federal de Santa Maria, que considero antissemitismo explícito, são lamentáveis. E eu não seria eu se não escrevesse tudo o que penso, sem perguntar antes quem vai e quem não vai se incomodar.
A Federação Israelita do Rio Grande do Sul, comandada por Zalmir Chwartzmann — que também é diretor do Sindicato das Indústrias de Construção Civil do RS —, decidiu, sim, cobrar explicações sobre aquele descalabro. A entidade, no entanto, tentou antes o caminho do “deixa disso”.
O jornalista e professor Luís Milman, que é judeu e entrou com uma queixa-crime contra a UFSM no Ministério Público Federal, foi chamado para uma reunião com a direção da federação. E ALI OUVIU, INFELIZMENTE, QUE TODOS TINHAM DE SER MUITO PRUDENTES E COISA E TAL E QUE, ORA VEJAM, OS JUDEUS NÃO PODIAM SE PAUTAR POR AQUILO QUE DIZ REINALDO AZEVEDO, QUE SERIA CONTRA O PT. O objetivo, tudo indica, era fazer com que Milman desistisse de levar o caso adiante.
Não, não foi o assediado quem me contou. Nunca falei com ele. Mas isso aconteceu. Tal avaliação é cretina. Meu blog está com o arquivo à disposição. O que penso sobre o antissemitismo no geral e sobre a questão israelo-palestina no particular é público. Será que, antes, precisei que houvesse petistas fazendo e falando bobagem sobre Israel para me posicionar? Será que, quando judeus e israelenses foram alvos de agressões, deixei a coisa de lado só porque não havia petistas no meio?
Há coisas que eu jamais faria. Entre elas, eu não me atreveria a ensinar um judeu a ser judeu. Mas, se preciso, eu ensino a quem quer que seja o valor da tolerância e o mal da intolerância, judeu ou não. Reitero: repudio o que lá se deu porque acho que é um dever da honra, do humanismo, da civilidade. De resto, não mantenho relações de demanda com o governo federal e os petistas, nem as satisfeitas nem as insatisfeitas. Se a presidente Dilma Rousseff ou qualquer outro “companheiro” se zangar comigo, não tenho nenhum interesse a consultar que os de minha própria consciência. Minha cabeça é o meu “Minha Casa Minha Vida”.
O comando da federação fique tranquilo. Os judeus, como sabem seus diretores, têm uma história mais longa do que as opiniões do Reinaldo Azevedo e certamente não se deixariam embalar por elas. Depois que a Conib (Confederação Israelita do Brasil) e que o próprio governo de Israel se manifestaram — o caso ganhou repercussão internacional —, a Federação Israelita do Rio Grande do Sul emitiu uma nota bastante moderada, moderadíssima, a respeito (íntegra aqui). Lá se lê:
“Assim, esclarecimentos e justificativas mais profundas são devidas pela Universidade Federal de Santa Maria para todo o Rio Grande do Sul e para o Brasil, dada a repercussão nacional do episódio, com responsabilização administrativa de seus subscritores e questionadores, se for o caso.”
“Se for o caso” quer dizer exatamente o quê? Quem pergunta não é um judeu, que judeu não sou. Quem pergunta não é alguém que repudia boa parte das teses do petismo e o barateamento a que está sendo submetido o ensino superior no Brasil. Quem pergunta é o discípulo daquela frase de Terêncio. Não considero o combate ao antissemitismo uma tarefa só dos judeus. É um dever da civilidade. Logo, se julgar procedente, faço, sim, as devidas cobranças.
Sindicato asqueroso
A dita “Seção Sindical dos Docentes da UFSM” — com esse nomezinho bolchevique, de quinta categoria — emitiu uma nota tentando se defender e negar o óbvio. Em vez de se desculpar, em vez de admitir o absurdo, volta a atacar o estado de Israel. Lá se lê que o tal pedido de informação era “parte das ações que visavam por (sic) um fim aos massacres palestinos perpetrados pelo exército de Israel entre julho e agosto do ano passado”. Não, eles não meteram o circunflexo em “pôr”. Reitor analfabeto, sindicato de professores analfabeto. Mas, também nesse caso, o analfabetismo moral é a pior coisa.
Redigida em “petês” castiço, segue a nota:
“Transformar um ato político de defesa dos direitos humanos em uma cruzada de anti-semitismo (sic), buscando estabelecer uma falsa identidade entre a oposição a uma política bélica e imperialista de Estado e a defesa da discriminação racial, representa uma tentativa deplorável de distorcer a realidade em benefício próprio de quem o faz.”
Os asquerosos só se esqueceram de explicar por que, ainda que isso fosse verdade, alunos e professores israelenses deveriam responder, individualmente, por “uma política bélica e imperialista” e por que informar sobre a sua presença no campus ajudaria a “pôr fim ao conflito”.
De resto, o que esperar de uma entidade que chama a política israelense de “imperialista”? É grotesco. É asnal.
DCE
O Diretório Central dos Estudantes, signatário daquele pedido bucéfalo, voltou a se manifestar — embora a diretoria de agora não seja a mesma que encaminhou a solicitação absurda em 2014. Acabou emitindo duas notas a respeito. Na primeira, lê-se esta pérola:
“Lamentamos também que algumas pessoas que se manifestaram agora sobre um possível caso de racismo, inclusive membros da oligarquia da mídia, não tiveram reação semelhante quando milhares de civis palestinos foram mortos no ataque desproporcional realizado pelo Estado de Israel, e que algo tão importante como a questão Palestina seja tratada como secundária ou totalmente ignorada como no caso que estamos vendo agora.”
A segunda é incompreensível, no conteúdo e na forma. Digamos, só para efeito de pensamento, que tivesse mesmo havido silêncio sobre o conflito israelo-palestino, cabe de novo a pergunta: o que os israelenses eventualmente presentes ao campus têm a ver com isso? E, claro!, o DCE não perdeu a chance de atacar a… “mídia”. Países bacanas são Coreia do Norte, Venezuela, Cuba e China: sem “mídia” para atrapalhar. O estado mata à vontade, segundo os mais altos interesses nacionais, sem prestar contas ao “imperialismo”, né? Onde essa gente aprendeu a pensar esse lixo? Deve ser com aqueles professores que assinam a nota do sindicato, que é também um… lixo!
Heinnn?
Um leitor manda-me uma fala do senhor Vilson Serro, presidente da Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm). Leiam:
“Tem gente de longe querendo se meter numa guerra que existe há mais de dois mil anos para tomar partido. A UFSM tem que ter liberdade de pensamento”.
Como? O doutor está sugerindo, por acaso, que a “liberdade de pensamento” da UFSM contempla práticas antissemitas? Veja aí, senhor Zalmir Chwartzmann… Esse certamente não é um homem que alimente preconceitos antipetistas, não é mesmo?
Não! Eu não estou nessa porque o comando da educação brasileira está com o PT ou só porque o ensino universitário, há muito tempo, vive sob a ditadura de minorias de esquerda — o que certamente contribui para a sua baixa qualidade. Meus motivos são bem mais amplos.
O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, sim, e o ensino universitário brasileiro tem pouco, ou quase nada, a ver com isso. Em poucos países do mundo, o abismo existente entre aquela que deveria ser a elite do pensamento e do desenvolvimento científico e a economia real é tão largo e tão profundo. Bilhões são torrados por ano no ensino público de terceiro grau para produzir, com as exceções de praxe, proselitismo vigarista e analfabetos morais e funcionais. Mas com a cabecinha lotada de livros que já foram mal lidos por seus mestres. Entro em questões assim em razão disso tudo, mas também porque é o que devo ao mundo civilizado.
A foto
Ah, sim: a foto lá do alto. É do deputado federal petista Paulo Pimenta, nascido em Santa Maria. Ali está parte do Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino, do qual ele é uma das estrelas. Todas as entidades signatárias daquele malfadado documento cobrando informações sobre a presença de alunos e professores israelenses no campus da UFSM são franjas do PT.
Eu lido com fatos, não com preconceitos. E leio o que as pessoas escrevem, não o que elas dizem ter escrito. Pimenta, aliás, publica em sua página oficial um artigo sobre Israel, de autoria de Jamila Khalil Zardeh. Acreditem! Sabem por que, segundo o texto, os judeus escolheram aquele território? A grande intelectual e estudiosa explica:
“Israel escolheu a Palestina para ocupar por sua localização estratégica entre três continentes, Europa, Ásia e África, porque a Palestina é o berço das três religiões monoteístas mais importantes do mundo (islamismo, cristianismo e o judaísmo) e, porque é a terra de Jesus e dos profetas.”
Entenderam? O texto não é de Pimenta, mas ele o mantém em sua página sem qualquer reparo. Logo, segundo Pimenta, um dos motivos por que os judeus “escolheram a Palestina” é o fato de ser aquela a “terra de Jesus”.
Judeus malvados!
Eu não brinco em serviço, não, doutor Zalmir Chwartzmann. E não gosto que brinquem comigo.