Militar do GSI relata afastamento de Heleno e Bolsonaro no Planalto
Ex-auxiliar do general garantiu que ele não dificultou a posse de Lula: 'Orientação dele é que procedêssemos a transição normalmente'

Assessor especial do GSI na gestão de Augusto Heleno, o coronel Amilton Coutinho Ramos prestou depoimento, nesta segunda, como testemunha de defesa do general da reserva do Exército e relatou ter percebido o isolamento de Heleno no governo, durante parte da gestão de Jair Bolsonaro.
Segundo o militar, depois da filiação de Bolsonaro ao PL, o general perdeu interlocução com o então presidente, deixando de ser um conselheiro frequente no Planalto.
“A partir da filiação do presidente Bolsonaro ao PL, Heleno e o presidente se afastaram. Acredito que isso ocorreu porque Heleno havia assumido ter questões em relação a ala majoritária do Congresso. Ele perdeu espaço no dia a dia na sala do presidente”, disse Ramos.
Segundo o ex-auxiliar de Heleno, Bolsonaro se afastou do general por “necessidade de ter apoio a seus projetos no Congresso.
Sobre a trama golpista, Ramos disse que Heleno era defensor do voto impresso, uma das bandeiras bolsonaristas que foram difundidas para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro, mas que sempre respeitou a decisão do Congresso, de não implementar a medida, e o resultado das urnas em 2022.
Sobre a reunião em que Heleno revelou o desejo de usar a Abin para espionar as candidaturas adversárias ao projeto bolsonarista na campanha eleitoral, Ramos disse que o projeto nunca foi levado para frente: “Aquele assunto da reunião de 5 de julho não teve desdobramento dentro do GSI. Não foi abordado esse assunto”.
Outra testemunha de Heleno, o capitão Valmor Falkemberg Boelhouwer foi questionado sobre a minuta de golpe de Estado discutida, segundo a PGR, na gestão passada e negou ter recebido o documento durante a gestão Bolsonaro.
Boelhouwer também disse que não tratava de assuntos partidários no GSI e negou ter atuado para defender a aprovação do projeto de voto impresso no Congresso.
“Trabalhei no governo Dilma Rousseff. Eu era ajudante de ordem da presidente. Nunca fui encarregado para fazer lobby pela aprovação do voto impresso no Congresso”, disse.
Outra testemunha de Heleno, o brigadeiro Osmar Lootens Machado disse que chegou ao órgão ainda durante o governo de Michel Temer e deixou o GSI um dia depois da posse de Lula, em 2023. Ele disse que transição ocorreu normalmente no órgão.
“Acompanhei o tempo todo a transição do governo Bolsonaro para o governo Lula. A transição começou de imediato, mas houve uma demora grande do atual governo para decidir quem comandaria o GSI”, disse Machado.
O militar afirmou ainda que Heleno adotou os procedimentos para entregar o governo ao petista: “Orientação dele é que procedêssemos a transição normalmente”.