Lula avalia copiar Michel Temer para resolver um problemão do PT
Se indicar Flávio Dino ao STF, petista poderia desmembrar pasta e apresentar combate ao crime e à violência como prioridade do governo
Enquanto o PT não consegue fazer o dever de casa na segurança pública dos Estados que governa, como a Bahia, Lula tem apresentado a aliados no Planalto um raciocínio segundo o qual a eventual indicação de Flávio Dino ao STF poderia ajudá-lo a transformar o combate ao crime organizado e à violência em marca do seu terceiro mandato.
Pelo compromisso que havia firmado com Dino ainda antes mesmo de tomar posse para alçá-lo ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presidente desistiu de desmembrar a pasta no início do ano. O maranhense rejeitou a ideia por temer tornar-se um mero carimbador, sem comando administrativo sobre a PF, a PRF e a Força Nacional.
Agora, se escolher o aliado do PSB para o Supremo, Lula tende a levar adiante o desenho que divide o MJSP – repetindo o que fez Michel Temer em 2018, quando nomeou Raul Jungmann ministro da Segurança Pública, deixando Torquato Jardim à frente de uma esvaziada pasta da Justiça.
Nesse cenário, o petista escolheria um nome considerado forte e experimentado para dialogar com – e, mais que isso, “desbolsonarizar” – todas as polícias militares do país, principalmente suas baixas patentes.
Internamente, o PT reconhece que a segurança pública é uma área de absoluto fracasso nos treze anos de governos passados, com Lula e Dilma. Há setores no partido exageradamente receosos de enfrentar o assunto, por enxergá-lo como sinônimo de armamentismo e punitivismo e, assim, atribuí-lo à direita.
A Bahia é um exemplo. Governada há dezesseis anos pelo PT, vive hoje uma grave crise de segurança, com confrontos de agentes com facções do tráfico de drogas. Na última sexta-feira, um policial federal morreu durante operação na região de Valéria, em Salvador.
No Rio Grande do Norte, da petista Fátima Bezerra, o ministério de Flávio Dino reconheceu em abril situação de emergência temporária por causa de ataques de criminosos a prédios públicos, comércios e veículos.
Com a eventual nomeação de um ministro de Segurança Pública, o PT almeja não só abrir diálogo com as forças policiais como mandar um recado para estratos do eleitorado que se encantaram com o discurso de Jair Bolsonaro sobre o combate à criminalidade e à violência.
Lograr êxito com o sonho de transformar a área em carro-chefe do governo seria, ainda, enfrentar a falta de marcas de Lula em seu terceiro mandato. Pesquisas internas mostram que o nível de conhecimento da população sobre programas federais é irrisório. Em levantamento que perguntou “qual programa do governo Lula você conhece?”, as respostas mais frequentes foram “nenhum” e “não sei”.