Clamor contra adultização mostra que há vida no país fora da polarização
Estudo analisou 46 milhões de menções ao tema durante quatro dias de varredura em postagens de redes como Facebook, Instagram, X e TikTok

Um levantamento da Ativaweb sobre adultização mostra que a onda de indignação que tomou o país, a partir do debate da exploração sexual de crianças na internet, uniu os brasileiros de modo raramente visto nesses tempos de polarização política.
O estudo analisou 46 milhões de menções ao tema durante quatro dias de varredura em postagens de redes como Facebook, Instagram, X e TikTok.
“O resultado foi inequívoco: 99,2% das interações tinham tom positivo, todas expressando repúdio à adultização e apoio a medidas de proteção à infância. Apenas 0,8% eram neutras ou desconectadas do núcleo da discussão. Em um ambiente digital marcado por disputas acirradas e bolhas ideológicas, esse nível de unanimidade é raríssimo”, diz Alek Maracajá, CEO da Ativaweb.
Segundo o estudo, os dados mostram que a “adultização” não é uma pauta de um lado ou de outro. É uma pauta Brasil. Assim como temas ligados à injustiça, crimes contra crianças e catástrofes nacionais, ela transcende a lógica partidária e mobiliza a sociedade de forma ampla e transversal. “Quando um assunto desperta indignação unânime, ele pertence à esfera das políticas sociais, não ao jogo eleitoral”, diz o estudo.
Apesar da união em torno do tema, a polarização segue presente no país e acaba atrapalhando o que deveria ser uma busca natural por medidas contra os predadores de crianças.
“Ao tentar enquadrar o debate em narrativas de direita e esquerda, desloca-se o foco do que realmente importa: soluções concretas. A polarização transforma um consenso em disputa, divide quem já concordava e atrasa qualquer avanço. É como se estivéssemos mais preocupados em ‘ganhar’ a narrativa do que em proteger, de fato, nossas crianças”, diz Maracajá.
“É urgente que líderes políticos, comunicadores e formadores de opinião aprendam a diferenciar o que é pauta política do que é pauta Brasil”, diz o estudo.
Quando a sociedade inteira concorda sobre a gravidade de um problema, o papel das lideranças não é criar trincheiras, mas construir pontes, segue o levantamento.
“Manter o tema fora da lógica eleitoral não é ingenuidade é estratégia. É assim que transformamos indignação em políticas públicas, campanhas educativas e mudanças reais”, diz Maracajá.
“A discussão sobre a ‘adultização’ é um teste para a nossa maturidade como sociedade conectada. Ou escolhemos usar as redes para somar vozes e pressionar por soluções, ou continuaremos a desperdiçar energia em disputas narrativas que, no fim, não protegem ninguém”, segue Maracajá.