Arquivos da Dataprev têm muito a revelar sobre a fraude no INSS
Órgão criou uma ferramenta que, na prática, acabaria com o esquema dos sindicatos no INSS, mas a gestão de Carlos Lupi não priorizou o sistema

Documentos da Dataprev, a empresa de tecnologia da Previdência, revelam um ponto cego no escândalo do INSS. Em setembro de 2024, o órgão entregou à pasta de Carlos Lupi um sistema de cadastro de aposentados que acabaria com a farra dos sindicatos.
A ferramenta biométrica foi concebida para tirar das entidades o poder de gerir a papelada dos descontos, muitos forjados, no sistema do INSS e impedir fraudes a partir de dados vazados do órgão, já que exigia a ação do beneficiário para atestar os serviços.
Com o novo sistema operando, o INSS tinha uma decisão simples a tomar: interromper o modelo de operação com os sindicatos e proteger os aposentados com a nova ferramenta. Não foi o que ocorreu.
Sob pressão dessa indústria bilionária de fraudes, o órgão deixou o sistema biométrico operado em escala bem menor enquanto fazia vista grossa para milhões de novos benefícios que seguiam sendo registrados em lote pelas entidades.
Em 2024, as fraudes no INSS chegaram a 2,6 bilhões de reais, o ano mais lucrativo do golpe. Boa parte do faturamento se deu já com o sistema do Dataprev disponível – e ignorado. Cientes de que o esquema começava a chegar ao fim, as entidades aceleraram a “produção”, inserindo mais e mais descontos forjados.
Sigilosos, os arquivos da Dataprev têm a cronologia desses fatos e os nomes de quem deveria ter agido a favor dos aposentados, mas atuou para beneficiar os sindicatos no esquema. Essa memória será útil aos investigadores da Polícia Federal e aos parlamentares que vão integrar a CPMI do INSS.
Com padrões de biometria avançados, o sistema foi desenvolvido a pedido do próprio INSS, depois de o TCU apontar, numa fiscalização, a necessidade de adoção do novo modelo de operação para evitar vazamentos de dados de beneficiários da Previdência. Tivesse sido adotado em setembro do ano passado, o sistema teria evitado que milhões de aposentados fossem vítimas dos fraudadores.