Na Páscoa, o afeto pesa mais que a balança
140 milhões de brasileiros pretendem ir às compras nesta Páscoa. 1 em cada 5 brasileiros pretende produzir ou vender chocolates neste ano

Tem coisas que só o Brasil explica. Uma delas é o fato de que, todos os anos, milhões de brasileiros compram ovos de chocolate que custam mais do que barras com o mesmo peso — e fazem isso com gosto.
Uma nova pesquisa do Instituto Locomotiva, feita em parceria com a QuestionPro, mostra que 66% dos brasileiros consideram injusto pagar mais por um ovo do que por uma barra de chocolate igualzinha. Mesmo assim, 79% pretendem presentear alguém com ovos de Páscoa. O motivo? Simples: na Páscoa, o afeto vale mais que o quilo.
Não se trata de lógica econômica. Trata-se de lógica simbólica. O ovo de Páscoa carrega uma memória afetiva, um gesto ritualizado que começa na embalagem brilhante, passa pela surpresa escondida e termina no sorriso de quem recebe. É menos produto, mais presente. Menos tabela nutricional, mais abraço embrulhado em papel colorido.
Mesmo entre os mais críticos aos preços (e com razão), o formato do ovo segue firme como a escolha número um. Para 61% dos brasileiros, ele é o tipo de chocolate que gostariam de ganhar. Uma barra pode ter mais cacau, mais peso e até mais racionalidade — mas o ovo tem mais história, mais infância, mais emoção.
Esse é o poder do consumo simbólico, que transforma um simples alimento em marcador de afeto, pertencimento e tradição. A Páscoa, nesse sentido, é muito mais do que uma data comercial. Ela é um espelho da alma brasileira: contraditória, carinhosa, afetuosa até nos gastos.
E tem mais: 140 milhões de brasileiros pretendem ir às compras nesta Páscoa. Isso inclui quem vai comprar nas grandes redes, quem aposta nas lojas especializadas (escolha de 60% dos entrevistados), mas também quem vê na data uma chance de empreender: 1 em cada 5 brasileiros pretende produzir ou vender chocolates este ano, e nas classes D e E esse número sobe para 27%. Ou seja, a Páscoa também é renda embrulhada em papel laminado.
No fim das contas, o brasileiro até sabe fazer conta. Mas, na hora do presente, a balança perde para o coração. E talvez isso diga mais sobre o Brasil do que qualquer gráfico de inflação.