Visitamos o Fama, museu em Itu que mescla arte contemporânea e aviação
Espaço ao ar livre é um dos maiores da América Latina e tem acervo próprio além de exposições temporárias

Localizada a poucas quadras do atual centro histórico de Itu, no interior de São Paulo, a Companhia Fiação e Tecelagem São Pedro foi uma verdadeira potência fabril do setor têxtil que funcionou entre 1912 e 1990 e chegou a empregar mais de 600 funcionários. Os teares pararam há muito tempo, mas o espaço onde estavam instalados, um complexo de galpões com mais de 25 mil metros quadrados, foi reativo em 2018 não para abrigar uma nova fábrica, mas uma das maiores coleções de arte da América Latina. Assim, nasceu o Fama Museu.
Fama é uma sigla que significa Fábrica de Arte Marcos Amaro. O espaço foi idealizado pelo empresário, artista plástico e colecionador de arte Marcos Amaro, filho de Rolim Amaro, fundador da Tam Linhas Aéreas. No museu, Amaro expõe não apenas os próprios trabalhos, muitos deles influenciados por sua paixão pela aeronáutica, mas também sua coleção particular, que inclui obras de artistas fundamentais das artes brasileiras, como Tunga (1952-2016), Cildo Meireles, Nuno Ramos e Adriana Varejão, entre vários outros.
Numa manhã de domingo, pegamos o carro e saímos cedo de São Paulo com destino a Itu para conhecer o Fama Museu. É um trajeto de cerca de 100 quilômetros saindo da capital que dá para ser feito em menos de 1h30. O ingresso custa R$ 25 e dá direito à entrada em quase todos os espaços, com exceção do Ateliê Kobra, que também fica no mesmo espaço. O estacionamento custa R$ 20. O Museu fica aberto de quarta (quando a entrada é gratuita) a domingo.

Não há uma ordem única de visitação. Quem chega pode escolher se começa pelo próprio Fama, dedicado às artes visuais, ou pelo museu Asas de um Sonho, focado na aviação. Logo na área externa estão expostos o caça Mirage III, que levou o piloto Ayrton Senna (1960-1994), e o gigantesco helicóptero Sikorsky, usado pela Marinha brasileira. Dentro do espaço fechado, o destaque é a mostra dedicada a Santos Dumont, com réplicas de algumas de suas principais criações, como o 14 Bis e o Demoiselle. É um curioso passeio pela história da aviação. Agora, em fevereiro, o Asas de um Sonho abriu também uma nova ala dedicada a Ada Rogato, pioneira da aviação brasileira.
Para quem se interessa mais pelas artes visuais, a diversão é caminhar pelo espaço e entrar nas galerias. Algumas são dedicadas a um único artista, como a Sala Tunga, onde está exposta a obra “Vers la Voie Humide 2”, de 2013, ou o Galpão do Urubu, onde está “TIAMM SCHUOOMM CASH!”, a enorme instalação de José Spaniol que já foi exposta na Pinacoteca. Outras reúnem trabalhos que dialogam tematicamente, como desenhos raros de autoria de Tarsila do Amaral, adquiridos
Há ainda obras espalhadas entre os galpões. A graça é explorar esses trabalhos ao ar livre tanto pela dimensão de alguns deles quanto pela interação fora do espaço expositivo convencional. Aos finais de semana, famílias com crianças passeavam pelas obras, tirando fotos, e esse tipo de contato com a arte é muito rico.

Quando for planejar a visita, vale a pena ficar atento à previsão do tempo, porque o passeio é muito mais divertido com sol. Com chuva, o deslocamento entre as galerias fica prejudicado, justamente por conta dos espaços abertos.
Visitamos também a nova exposição temporária Perspectivas Cromáticas, com uma seleção de obras dos artistas Márcio Amâncio e Paulo Lara. Enquanto Lara usa cores saturadas e diferentes perspectivas para distorcer elementos visuais do cotidiano, Amâncio trabalha de forma mais subjetiva. O próprio artista nos acompanhou por um passeio por suas obras, contando um pouco de seu processo criativo. Diz que costuma pintar de noite, geralmente ouvindo música – fã de Miles Davis, costuma preferir o jazz. Vai fazendo retoques, aos poucos, até concluir o trabalho. “É a obra que me diz quando está pronta. Às vezes isso pode demorar alguns dias, em outras pode levar meses”, conta ele. A mostra fica em cartaz até o final de abril.
Para quem passa o dia vendo as obras, é possível almoçar no Cozinha São Pedro, restaurante que fica dentro do museu e oferece boas opções em um menu fixo, além de especiais do dia. Embora funcione principalmente durante os dias de operação do museu, o restaurante também faz eventos noturnos, com música ao vivo, e eventos fechados.

O equipamento do museu também abre as portas para outros artistas. Dentro da estrutura principal ficam ateliês, galerias e até um antiquário. Um dos principais destaques é o ateliê de Eduardo Kobra, que pode ser visitado com um ingresso adicional, no valor de R$ 15. Além de uma seleção de trabalhos do muralista, conhecido pelos grandes e coloridos paineis, há um ambiente que reproduz seu estúdio de trabalho, com latas de tinta spray, aerógrafos, plataformas aéreas e outros equipamentos.
Além de todos as galerias já ocupadas por arte, há muitos outros galpões ainda vazios que poderão ser utilizados no futuro. O processo de restauro está acontecendo aos poucos, o que indica um potencial ainda maior do Fama como espaço expositivo.
O Fama também faz parte de um interessante movimento de descentralização da arte, com a inauguração de novos equipamentos fora dos tradicionais centros urbanos. O Parque Campana, na cidade de Brotas, e o Instituto Cultural Gilberto Chateaubriand, em Porto Ferreira, por exemplo, são dois outros exemplos. O próprio Fama ganhará uma nova unidade na cidade de Santos, ainda sem data para inauguração.
