Visitamos a Fazenda Santa Vitória, refúgio turístico entre SP e RJ
Localizada em Queluz, quase na divisa entre os dois Estados, a propriedade de 5 mil hectares tem programação gastronômica com chefs e belas paisagens

Saindo da Dutra, basta um pequeno desvio, logo depois de passar pela cidade de Queluz, para cair na SP-054, a Rodovia João Batista Melo Souza, que praticamente segue a divisa entre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. São cinco minutos de trajeto, passando pela queijaria Santa Vitória, à direita, e pela horta, colada à estrada, antes de chegar à entrada da Fazenda Santa Vitória, um refúgio no meio do Vale do Paraíba que atrai turistas em busca de uma vivência rural autêntica.
A bordo do modelo 2025 do tradicional sedan Nissan Sentra (uma escolha pouco óbvia para um percurso no interior, com trechos de terra, mas que não nos deixou na mão), saímos cedo de São Paulo e caímos na estrada rumo a Queluz para ver de perto não apenas os atrativos culturais e naturais de Santa Vitória, mas também sua proposta gastronômica.
A fazenda foi construída originalmente nos anos 1850 e hoje faz parte de uma propriedade de 5 mil hectares entre Queluz e Resende, já no Rio. Depois da queijaria, que fica em uma área separada, a primeira parada ao entrar é no Armazém, um espaço que faz as vezes de recepção. Um enorme mapa ocupa uma das paredes do espaço, com os principais pontos de interesse da propriedade. Em outro canto, prateleiras de madeira estão recheadas de produtos feitos no local ou por produtores parceiros, como a cachaça Reserva do Nosco, feita em Resende, ou posters do instituto Arado, de Queluz, responsável também pelos rótulos de vários produtos.
A hospedagem principal fica na chamada Vila Prosperidade, núcleo construído ao redor da sede. Há quartos dentro do prédio principal e ao redor, em casas com quintais individuais, tudo com decoração colonial. Para grupos maiores, a opção é escolher uma das casas privativas, com visão privilegiada para a Serra da Mantiqueira e seu mar de morros.

Há outro núcleo de hospedagem, a Vila da Cascata, construída em um local diferente da propriedade, ao lado da queda d`água que dá nome à vila. Ao contrário da Vila Prosperidade, mais indicada para famílias com crianças, a Vila da Cascata tem um apelo maior entre casais. A hospedagem durante um final de semana, de sexta a domingo, para um casal, com pensão completa, custa R$ 4.400 em um dos quartos mais básicos (mas já bastante aconchegantes).
O principal atrativo da hospedagem é a natureza. Além da mata atlântica preservada, há um projeto paisagístico que conversa com o cenário rural de forma orgânica. Não apenas por conta da construção original, mas pelo fato de ser uma fazenda produtiva, a experiência é muito autêntica. Dá para ficar um tempo caminhando pelas áreas verdes, ao lado do riacho que corre por toda a propriedade, escolhendo um canto para ler ou tirar algumas fotos.
Mas há uma infraestrutura com quadras de tênis, trilhas para fazer a pé ou de bicicleta, sauna e ofurô, uma cachoeira e um grande spá, Ybirá, além de uma divertida sala de jogos ao lado do restaurante principal, com mesas de sinuca, pebolim e pingue-pongue, além de área para jogar bocha.

Nos últimos tempos, a fazenda tem investido também em experiências gastronômicas com chefs. Cozinheiros de alguns dos restaurantes mais badalados de São Paulo e do Rio são convidados a preparar alguns de seus pratos mais emblemáticos. Já participaram Onildo Rocha, do Notiê, e Pedro Pineda, do Mag, entre vários outros. No último final de semana, a convidada foi Luana Sabino, do Metzi, que faz uma cozinha de inspiração mexicana, mas com ingredientes brasileiros.
Luana preparou duas entradas, uma tostada de atum com avocado e ají, e um mexilhão al ajillo (tempero que leva pimenta e alho), lascas de queijo e ikura (as ovas de salmão). O prato principal era porco al pastor, preparação tradicional que é feita com abacaxi e coentro. A ideia era cortar lascas do porco e montar tacos em tortillas feitas de milho criolo nixtamalizado (processo de cozimento e maceração em uma solução alcalina que melhora o sabor e o aroma), com salsas, ou molhos. Para fechar a refeição, sobremesa de fresas frescas cobertas com creme suave de tequila e merengue crocante de hibisco.

Para harmonizar, a casa oferece uma carta de vinhos enxuta, mas bem feita, além de coqueteis autorais, com e sem álcool. No dia do jantar, Marcelo Nordskog, produtor responsável pela cachaça Reserva do Nosco, fazia uma degustação de todos os seus rótulos, da branca, básica, mas muito boa, com sabor suave de cana, à envelhecida durante 17 anos, de textura macia e notas de baunilha, frutos secos e especiarias.
O próximo convidado será Ivan Ralston, do Tuju, que vai cozinhar para os hóspedes entre os dias 23 e 26 de janeiro.
No dia seguinte, depois do café da manhã feito com produtos locais, como a granola, iogurte e mel, o check-out é feito no mesmo Armazém. Difícil não sair de lá com uma sacola de delícias.