Nissan Sentra é a prova de que os sedãs deveriam continuar populares
Embora a categoria tenha perdido espaço para os SUVs, o modelo japonês mostra que é confortável na cidade e na estrada mesmo sem direção tão empolgante

O destino da nossa viagem era uma fazenda do século 19, localizada entre São Palo e Rio de Janeiro, que passou a hospedar turistas em busca de tranquilidade. O trajeto seria majoritariamente em rodovias asfaltadas, mas dentro da propriedade seria preciso percorrer alguns trechos de terra. A escolha mais óbvia seria um SUV, com maior altura do solo, ou então uma caminhonete com tração nas quatro rodas – uma garantia extra se o terreno ficasse muito ruim. Mas fomos de sedã – a versão 2025 do Nissan Sentra – e não nos arrependemos.
A escolha até pode parecer inusitada no mercado atual, dominado por SUVs. Mas por muito tempo os sedãs foram carros familiares usados para todo tipo de viagem. Alguns dados da Fenabrave ajudam a mostrar essa mudança de mercado. Em 2014, sedãs representavam 29,6% do mercado de carros novos, enquanto os utilitários, apenas 10,9%. Hoje, a situação se inverteu. Os SUVs são 48% do mercado, enquanto os três volumes são apenas 15%.
É uma pena que esses carros tenham perdido espaço para os SUVs. É claro que há muitos utilitários divertidos e estilosos, com sua posição elevada de dirigir. Mas os sedãs fazem muito mais sentido. Tendem a ser espaçosos, com porta-malas generosos (algumas vezes maiores que os de muitos SUVs), espaço de sobra para os ocupantes e boa autonomia.
O Nissan Sentra é um dos ótimos exemplos de sedã. Não deve nada aos concorrentes e ainda se mostra uma opção mais interessante que vários SUVs. Testamos a versão Exclusive, topo de linha, com pintura bicolor e bancos na cor caramelo. Tem teto solar, piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência, ar-condicionado digital de duas zonas, rodas de liga leve de 17 polegadas e regulagem eletrica para o banco do motorista.
Na cidade, é econômico e útil na hora de fazer compras. Pelo tamanho do porta-malas (são 466 litros), dá para colocar malas ou compras do mercado com folga. Ou até itens maiores. Fizemos compras de plantas na região da Vila Leopoldina e conseguimos trazer flores e folhagens com cuidado, sem amassar nada.
Mesmo no trânsito mais pesado, gasta menos que alguns SUVs. Segundo a Nissan, o consumo oficial é de 11 km/l, sempre com gasolina, em circuito urbano, e 13,9 km/l na estrada. Na cidade, com trânsito muito carregado, fizemos uma média ligeiramente menor, de cerca de 9,8 km/l.
Curiosamente, nesses momentos em que ficamos presos no tráfego que dá para ver o quanto os carros foram ficando maiores. Ao lado dos utilitários, a janela do Sentra fica na altura da metade da porta. Atrás de picapes intermediárias, como a Toro, só conseguimos enxergar a caçamba. Dá para entender quem se sente mais seguro migrando para os SUVs com o objetivo de ficar na mesma altura.
Mas na estrada ele mostra a que veio. Com seu motor 2.0 aspirado de injeção direta que produz 151 cv de potência e 20 kgfm de torque, não é nem um pouco focado em desempenho – embora responda quando provocado e o design da carroceria favoreça a sensação de estabilidade, especialmente em curvas. O Sentra é focado no conforto. E a viagem de quase quatro horas passou de forma tranquila e agradável. Os bancos usam uma tecnologia chamada Zero Gravity, inspirada na Nasa, que oferece pontos de pressão para reduzir a sensação de cansaço. Funciona. A direção também prima pelo conforto. Há um modo Sport, que muda o comportamento dinâmico de forma sutil, mas o gasto de combustível é maior. No trajeto rodoviário, fizemos quase 15 km/l. A direção não é empolgante – e tudo bem.
Todo o trajeto até a Fazenda Santa Vitória é asfaltado e passa por rodovias principais, como a Dutra e a Ayrton Senna. Mas dentro da propriedade há trechos de terra. Para ver a cachoeira ou almoçar perto da queda d`água dá para pegar a van do hotel, mas preferimos ir com o Sentra. E ele encarou o trajeto de forma tranquila, mesmo sob uma chuva fina. É claro que não dá para esperar que ele se vire em trilhas pesadas ou na lama. Mas o chão de terra batida encontrado em tantas regiões do interior não mete medo.
A semana ao volante do Sentra só reafirmou a boa impressão não apenas do modelo japonês, bem construído, confortável e espaçoso, mas do quanto sedãs são bacanas e funcionais. Nem tudo é perfeito. O freio de estacionamento é acionado por pedal, sistema antigo que poderia ser substituído pelo freio eletrônico. O teto solar é pequeno, apenas sobre os bancos da primeira fileira. A conexão do smartphone com a central multimídia é feita apenas via cabo (mas a conexão é bastante estável). E o painel de sete polegadas é digital apenas no centro, com mostradores analógicos mostrando as rotações e a velocidade. Nada desabona o carro, mas podem ser fatores considerados na comparação com os concorrentes.
Hoje, o mercado é dominado por modelos mais acessíveis, como o HB20S, da Hyundai, e o Onix Plus, da Chevrolet. O Sentra está uma categoria acima e compete com o Toyota Corolla, campeão incontestável de vendas. É um pouco mais barato que o rival. Na versão topo de linha, Exclusive, custa R$ 185.690 (ou R$ 187.390 com o acabamento na cor Sand), contra R$ 190.610 da Altis Premium do Corolla (considerando a versão à combustão). Agora, enfrenta também a concorrência dos híbridos, como o próprio Corolla e o chinês King, da BYD. Pode até não vender tanto quanto os outros, mas o Sentra surpreende quem dá uma chance a ele.