Como é a experiência de viajar com carros elétricos
Para quem ainda tem receio de ficar sem energia no meio da estrada, uma boa notícia: os modelos disponíveis no país entregam boa autonomia e tecnologia
Houve um tempo, não tão distante, em que os carros elétricos formavam uma categoria própria. Havia pouca variedade de modelos, e como muitos deles contavam com uma autonomia reduzida eram vistos apenas como uma curiosa e futurista solução de deslocamento urbano. Não mais. Hoje, há uma diversidade enorme de modelos, de hatches compactos com perfil voltado às grandes cidades a esportivos velozes, passando por SUVs médios e até picapes. O que é ótimo. O motor elétrico passa a ser apenas um dos fatores de decisão de compra, e não o único.
Mas ainda é preciso se acostumar com a ideia de que eles podem ser tão versáteis quanto qualquer outro. Ao contrário dos modelos tradicionais à combustão, os carros elétricos provocam um tipo inédito de ansiedade em quem se dispõe a pegar a estrada com um deles. À medida que a autonomia vai diminuindo, é comum que os motoristas fiquem preocupados (ou até desesperados) com a possibilidade de ficar sem energia no meio da estrada, a dezenas de quilômetros do carregador mais próximo. Mas a verdade é que com um pouco de planejamento adicional no momento de traçar a rota dá para curtir os muitos benefícios que esses veículos oferecem para quem planeja uma escapada de final de semana – ou mesmo uma viagem mais longa.
Nas últimas semanas, rodamos pelas estradas ao redor da capital paulista com dois modelos que representam o momento atual do mercado nacional: o BYD Dolphin, um hatch espaçoso e estiloso, e o JAC E-JS4, um SUV médio com muito espaço interno e boa potência. Ambos chineses, de montadoras que estão ajudando a consolidar os veículos elétricos no Brasil. A JAC, de um lado, está presente no Brasil desde 2011 e já vendeu veículos a combustão, mas hoje o portfólio é composto exclusivamente por elétricos. Do outro, a BYD, maior fabricante de eletrificados do mundo, que adotou uma estratégia de popularizar os elétricos com preços competitivos, bom acabamento interno e grande oferta de tecnologias embarcadas.
Há alguns benefícios comuns a esse tipo de veículo que os tornam bons companheiros de estrada. O primeiro é o silêncio dentro da cabine. Sem os ruídos do motor, dá para curtir a viagem com tranquilidade. O chamado torque instantâneo, que entrega toda a força do motor de forma imediata às rodas quando se pisa no acelerador, é outra vantagem. Ultrapassagens e retomadas são feitas com muita segurança. Quem passa um tempo atrás do volante de um elétrico e volta à combustão sente a diferença. E, é claro, há o aspecto ambiental, já que eles não emitem nenhum gás prejudicial ao meio ambiente.
A vida a bordo, no entanto, é bastante diferente. São veículos distintos, cada um com uma proposta. E isso é excelente.
O BYD Dolphin tem uma pegada mais urbana e descolada. O visual é inspirado em animais marinhos – no caso, um golfinho – e o tema é perceptível nas maçanetas, no desenho dos bancos e até na animação inicial da central de multimídia. Na cidade ele é rápido, divertido e fácil de manobrar, principalmente por conta das câmeras que oferecem uma visão em 360° – um diferencial que só ele oferece em sua faixa de preço. Tem bom espaço interno para os ocupantes, que viajam com conforto, além de uma suspensão firme. Tem posição de dirigir confortável e potência suficiente (são 95 cavalos e 18,4 kgfm de torque, modestos, mas superiores aos dos concorrentes) para a cidade. A conectividade com Android Auto e Apple Car Play pode ser feita sem fio, o que facilita muito.
Na estrada, ele entrega uma boa experiência, embora fique claro que seu perfil é, novamente, mais urbano. Com autonomia oficial de 290 quilômetros com a carga completa (embora chegue mais longe no dia a dia), ele é suficiente para um passeio de final de semana por cidades próximas a grandes centros urbanos sem a necessidade de recarregar. Para uma viagem mais curta a cidades como Cotia, São Roque ou Itu, ou mesmo para uma descida até o litoral sul, a autonomia é mais do que suficiente. O porta-malas é pequeno. Para um casal com pouca bagagem, é suficiente. Para famílias maiores, talvez falte espaço. A vantagem é que seu sistema de carregamento rápido otimiza as paradas estratégias na estrada para um café. Basta plugar e ganhar uma autonomia adicional sem precisar esperar por horas.
Já o JAC e-JS4 tem uma proposta diferente. É um SUV médio de grande porta-malas, teto solar panorâmico e algumas das mesmas tecnologias que facilitam a vida do motorista, como regulagem elétrica dos bancos, câmera 360°, conexão com Apple Car Play e Android Auto (infelizmente, só via cabo) e comandos por voz. A ergonomia dos bancos, as regulagens e a pegada do volante contribuem para o conforto ao dirigir, mesmo em distâncias mais longas. E encara com facilidade as estradas de terra do interior – desde que não seja algo extremo, claro. É mais potente (são 150 cv e 34,7 kgfm de torque) e entrega boa aceleração e retomadas, o que contribui para uma ótima experiência nas estradas.
O JAC tem uma autonomia maior, suficiente para chegar quase até o Rio de Janeiro (saindo de SP) com uma única carga. O único problema é que seu carregador não é compatível com estações de recarga rápida. Além disso, por seguir o padrão de carregamento chinês, requer um adaptador. O processo é mais demorado. Para viagens mais longas, acima da autonomia indicada, pode ser interessante planejar um pernoite no meio do caminho para deixar o veículo carregando ao longo da noite.
Viajar com um carro elétrico requer, de fato, planejamento adicional. Mas nada que diminua o prazer do passeio. Há aplicativos, como o Plugshare, que indicam com precisão os pontos de carregamento, facilitando no momento de traçar a rota e até escolher o melhor hotel. Em muitos casos, os carregadores são gratuitos, já que o custo do “abastecimento” é muito inferior ao de combustíveis fósseis. E sempre é possível conectar o carro direto em uma tomada.
Mas a experiência é muito positiva. A condução é suave, já que não há trocas de marchas, o torque instantâneo dá segurança nas retomadas e as tecnologias embarcadas facilitam a vida à bordo. Os dois modelos se destacam pelo acabamento e atenção aos detalhes. Ambos têm ótimo espaço interno e bom comportamento nas estradas. O Jac E-JS4 é mais caro (R$ 229.900), mas é mais potente. Já o BYD Dolphin surpreende por entregar muito mais tecnologia, espaço e cuidado com os materiais usados na cabine que seus concorrentes na mesma faixa de preço, a um preço competitivo (R$ 149.800).