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Paulo Cezar Caju

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O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum
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Sonho com a verdadeira democratização, seguimos mendigando para competir

Cada bronze, prata ou ouro em Tóquio é uma emoção redobrada, o choro é mais intenso. Não são atletas profissionais, são brasileiros profissionais

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 ago 2021, 10h50 - Publicado em 2 ago 2021, 18h52

Confesso que não tenho ficado acordado a noite inteira para assistir as Olimpíadas, evento que acompanho desde dos lendários Adhemar Ferreira da Silva, Aída dos Santos e João do Pulo. Lembro também da Heloísa Becker, o velocista César, o treinador Anunciato e sua esposa Neíde, representando o grupo do Botafogo, e José Telles, Sebastião Mendes e a campeão sul-americana Erika, representando o Flamengo.

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Mesmo sem acompanhar atualmente, assim que acordo me informo sobre cada detalhe. E em todos esses anos a história vem se repetindo, ficamos do meio para baixo na tabela geral de classificação e só conquistamos medalhas por conta da superação de nossos atletas. Mas não falo da superação óbvia de superar o adversário, mas a de vencer todas as dificuldades que a vida os impõe desde o nascimento, a miséria, os dramas familiares, a falta de estudo, o treinamento em pistas e quadras inadequadas. E mesmo sem qualquer estrutura, ajuda financeira ou patrocinadores, esses heróis conseguem alcançar os índices necessários para disputar uma Olimpíada.

Aída dos Santos, em 1964, ficou em quarto lugar no salto em altura e foi a primeira brasileira a disputar uma final olímpica, mas viajou sem técnico e material para competir. O que mudou de lá para cá? Ouçam as histórias de nossos medalhistas atuais e verão que continuamos mendigando para competir. Por isso, a cada bronze, prata ou ouro a emoção é redobrada, o choro é mais intenso. Na verdade, essas feras não são atletas profissionais, são brasileiros profissionais.

O mais revoltante é que após a consagração surgem as grandes marcas, os políticos, os velhos oportunistas de sempre. Estou escrevendo enquanto assisto nosso time feminino de handebol perder para a França. Por que o handebol não recebe mais investimentos? Lembro que todos os colégios eram muito fortes nessa modalidade, não sei se ainda é assim. Mas falta um trabalho de popularização, de marketing, uma liga forte. Mas a verdade é que grande parte dessas ligas, federações e confederações vivem em guerra política.

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Soube que tínhamos atletas nas finais de arremesso de disco e salto com varas. Se os esportes populares não recebem investimentos, imagine esses! Agora, na tevê, uma menina do atletismo chora durante a entrevista. Desclassificada, desabafa, diz que está sem patrocinador e com salários atrasados de seu clube. O jornalista não pergunta o nome do clube, não se surpreende, não se emociona, talvez considere mimimi de perdedor. As emissoras precisam da audiência e os louros da vitória, os novos ídolos, como Rebeca Andrade, Ítalo Ferreira e Rayssa Leal, a Fadinha, são chamarizes para publicidade, propagandas em seus canais.

Os derrotados que treinem mais, afinal os discursos clichês garantem que basta sonhar para a conquista ser alcançada. Eu, por exemplo, sonho com a verdadeira democratização do esporte, com chances iguais para todos e, dessa forma, eu ainda consiga ver negros disputando, por exemplo, natação, ciclismo, hipismo, vela e tênis. Sonhar não custa nada! Voltando para o futebol, ouvi um comentarista dizer que o jogador chapou a bola na vertical para achar um companheiro que estava entrando por dentro no ultimo terço do campo. É melhor eu continuar vendo a Olimpíada!

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