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Paulo Cezar Caju

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O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum
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Mudança no nosso futebol virá de clubes pequenos, com menos dinheiro

Diante dos Golias do esporte, que os Davids se multipliquem, com seus jogadores baixos, magrelos e ensaboados

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 fev 2020, 10h05

É muito comum ouvirmos que determinado treinador está desatualizado, que tal jogador não se encaixa nos padrões atuais do futebol e até que alguns comentaristas esportivos ficaram ultrapassados. Mas o que é preciso para ser inserido, respeitado, nesses três grupos?

No primeiro caso, desembolsar alguns milhares de reais para fazer o curso da CBF e sair falando “um terço do campo” e outras frases de efeito. No segundo, virar um velocista e comemorar porque correu não sei quantos quilômetros durante uma partida. E no terceiro, também fazer o curso da CBF e citar nas bancadas, durante as transmissões, expressões como “amplitude” e “entrelinhas”.

Por falar nisso, assistindo uma partida da segunda divisão do Campeonato Paulista, ouvi um comentarista dizer que tal jogador quebrou a bola! E desde quando a bola virou pedra para ser quebrada? Seguindo essa cartilha, você ganhará muitos tapinhas no ombro de seu chefe. E fiquem tranquilos porque na entrevista ninguém vai pedir para você fazer embaixadinhas, dominar no peito, cabecear e bater faltas. Não é preciso dominar essa prática para exercer as três profissões. Basta falar com firmeza, contar algumas piadinhas e pronto. Camisa pólo também funciona. No caso dos jogadores, correr, correr muito! E só.

Mas a boa notícia é que a paciência do torcedor está se esgotando e nem no Sul tolera-se mais essa história de jogar pelo resultado. Por isso, tenho vibrado quando vejo um Caxias vencendo o Grêmio, Tombense, América e Caldense liderando o campeonato mineiro, Fluminense, de Feira, e Atlético fazendo boas campanhas na Bahia, Boavista chegando a uma final, no Rio, e Santo André, Mirassol e Inter de Limeira aprontando em São Paulo.

Acredito que a mudança venha dos clubes de menor expressão, com menos poder aquisitivo. Tenho visto jogadores muito bons de bola nos times do interior paulista. Assisto os jogos até da Segunda Divisão e, ali, encontro jogadores com a essência da várzea, ousados, atrevidos, sem esses vícios malditos impostos pelos diplomados da CBF. O mesmo acontece em times do Nordeste.

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Vibrei com a goleada do Atalanta contra o Valência. Gian Piero Gasperini comanda o Atalanta há quatro anos e minha esperança é que esses Davids comecem a derrubar os Golias em sequência. O problema é quando o David começa a inflar e vira Golias, mais ou menos o que vem acontecendo com o Tiago Nunes, que sempre elogiei, mas incorporou o discurso de Tite e Fábio Carille desde que assumiu o Corinthians. Vive se explicando e não foi diferente na derrota para o Água Santa, outro David de minha coleção. Quem foi ver o Luan, do Corinthians, conheceu o 10 do Água Santa, Luan Dias, que fez um golaço!

Tirando Jorge Jesus, os treinadores estrangeiros também não andam em uma fase boa por aqui. O português Augusto Inácio foi demitido do Avaí recentemente, o venezuelano Rafael Dudamel, do Atlético-MG, ainda não conseguiu encaixar o time e o Santos de Jesualdo Ferreira não é o mesmo da temporada passada, de Sampaoli.

Que os Davids multipliquem-se, com seus jogadores baixos, magrelos e ensaboados, e que eles sejam os grandes responsáveis pela redenção de nosso futebol enterrado em algum lugar do passado.

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