Traição de Timberlake e tutela do pai: as confissões de Britney em livro
Cantora detalha seus relacionamentos turbulentos, sua visão sobre a custódia paterna e até mesmo sua passagem pelo Rock In Rio em 'A Mulher em Mim'
Britney Spears surgiu como a princesa do pop há mais de 20 anos, quando a faixa …Baby One More Time, do disco de estreia homônimo, decolou nas paradas e dominou o mundo — transformando o penteado Maria Chiquinha e o visual de estudante em uma marca inconfundível. Desde então, vieram mais oito discos, relacionamentos conturbados com Justin Timberlake e Kevin Federline, escândalos midiáticos, uma tutela, um movimento a favor da cantora e, agora, uma autobiografia que promete dar conta de tudo.
A Mulher em Mim acaba de chegar às livrarias físicas e digitais pela Buzz Editora, e está recheado de confissões da estrela sobre sua família, a indústria do show business, seus colegas e suas próprias experiências e sentimentos. Confira algumas das revelações das quase 300 páginas:
Histórico familiar
De todos os possíveis pontos de partida, Britney opta por dar o pontapé no livro com uma análise do passado de sua família — com a qual a cantora cortou laços após uma tutela de 13 anos, na qual seu pai tomou o controle de seu cotidiano, sua dieta, sua vida amorosa e seu dinheiro.
“A tragédia faz parte da minha família”, escreve Spears — que a carrega no nome do meio, Jean. A alcunha tem como origem Emma Jean Spears, sua avó, que, segundo a cantora, viveu um relacionamento abusivo com o marido, June Spears Sr. Após perder um filho recém-nascido, Emma foi mandada para um manicômio por June e passou a ser tratada com lítio. Em 1966, aos 31 anos, ela cometeu suicídio com um tiro em frente ao túmulo do filho.
Britney aproveita a anedota para firmar sua crítica aos hábitos machistas do núcleo e da sociedade americana — June ainda teria internado a segunda esposa no mesmo manicômio e abusado sexualmente de uma de suas filhas. “No Sul, a maneira que se referem a homens como June é dizendo que era ‘um perfeccionista’ ou ‘um pai muito comprometido’. Eu provavelmente teria dito coisas mais rudes”, conclui.
Prozac e outras drogas
Após passar pela Broadway e atingir fama como membro do elenco mirim de Mickey Mouse Club, Britney conseguiu um contrato com uma gravadora aos 15 anos e estourou aos 17. Nessa mesma época, ela conheceu o escrutínio midiático, e foi muito criticada pelos trajes reveladores de sua apresentação de (I Can’t Get No) Satisfaction no VMA: “Enquanto tentava encontrar maneiras de proteger meu coração das críticas, comecei a ler livros religiosos como os da série Conversando com Deus, de Neale Donald Wash. Também comecei a tomar Prozac”, revelou.
Além do antidepressivo, porém, a cantora diz nunca ter usado drogas pesadas — apenas Adderall (que a proporcionava “algumas horas de menor depressão”) — e álcool. Britney diz ter começado a beber com a mãe ainda adolescente, aos 14 anos, quando também fumou cigarros pela primeira vez.
Rock in Rio
A cantora ainda dedica parte de um capítulo para se declarar ao público brasileiro, que primeiro a acolheu no Rock in Rio de 2001: “Um dos momentos mais felizes que vivi durante as turnês foi tocar no Rock in Rio.”
Segundo ela, o país a fez se sentir “livre, como uma criança em alguns aspectos — uma mulher e uma criança ao mesmo tempo. Eu me sentia corajosa àquela altura, cheia de pressa e ímpeto.” Ela ainda se recorda de sair à noite com os dançarinos para nadar nua no mar carioca, cantando e dançando — “exaustos, fomos para uma sauna, onde conversamos mais um pouco.”
“Eu era capaz de cometer alguns pecados na época — nadar nua, ficar acordada conversando a noite toda —, nada exagerado. Tinha gosto de rebelião, e de liberdade, mas eu só estava me divertindo e agindo como uma jovem de dezenove anos”, conclui.
Um power couple em crise
Outro ponto de destaque do livro é o relacionamento da cantora com Justin Timberlake, com o qual ela viveu um romance entre 1999 e 2002. Amigos de infância, eles viveram um relacionamento tórrido e chegaram a engravidar em 2001: “Mas Justin definitivamente não ficou feliz.”
Britney, então, optou por encerrar a gestação. O procedimento foi feito em casa, com o auxílio de pílulas. A cantora queria ir a um hospital, mas a decisão do casal priorizou a discrição: “Fui ao banheiro e fiquei ali por horas, deitada no chão, soluçando e gritando.” Em certo ponto, o namorado teria pegado o violão para lhe cantar músicas no chão, tentando atenuar a dor.
Ela ainda comenta a fama de adúltera que ganhou após o término com Timberlake, que teria se afastado durante a produção de seu primeiro álbum solo e terminado por meio de mensagem de texto: “Posso apenas dizer que, tanto em seu álbum explosivo quanto nas matérias que saíram na imprensa a respeito do disco, Justin deixou de mencionar as diversas vezes em que me traiu.”
Véu, grinalda e paparazzi
Outra polêmica famosa comentada por Spears são seus casamentos, especialmente o primeiro — que durou um total de 55 horas —, com Jason Alexander. Spears descreve o acontecimento como uma ideia espontânea de madrugada em Las Vegas. “Vou ser bem clara: ele e eu não estávamos apaixonados”, reforça. Ela atribui a decisão a estar “muito bêbada” e “muito entediada”.
No dia seguinte, sua família inteira teria viajado para Vegas a fim de anular a união. A reação forte de seus familiares alimentou uma rebeldia matrimonial em Britney, que não tardou para trocar alianças com o rapper Kevin Federline, pai de seus dois filhos. Após três anos, ela desenvolveu sintomas de depressão pós-parto e o marido se tornou ausente. Com medo de que ele pedisse o divórcio e a humilhasse publicamente, ela decidiu tomar a iniciativa, mas foi criticada pela ação e seguiu tendo que sustentar o ex.
Olhando para trás, ela afirma: “Acho que tanto Justin quanto Kevin foram muito espertos. Eles sabiam o que estavam fazendo, e eu caí direitinho.” Para ela, ambos os relacionamentos a fizeram “nunca mais confiar em alguém.”
O livro, porém, não oferece mais detalhes sobre sua separação com o terceiro marido, Sam Asghari, ocorrida em 2023. Escrita durante o matrimônio, a obra conta com elogios e comentários breves ao modelo apenas.
A prisão de vidro e o #FreeBritney
Após o divórcio com Federline e a depressão pós-parto, Britney adentrou um circo midiático que proporcionou que seu pai buscasse a curatela para tomar controle de sua carreira e vida. “Mesmo que eu tenha implorado no tribunal que qualquer outra pessoa fosse designada — e afirmo que qualquer um na rua teria sido uma escolha melhor —, meu pai foi designado responsável, o mesmo homem que me fazia chorar se eu tivesse que entrar no carro com ele quando eu era pequena”, escreve a cantora.
Na época, o pai — Jamie Spears — tinha uma dívida de 40.000 dólares a quitar com a empresária Lou Taylor, que o ajudou a protocolar a curatela. Se referindo a relação atual com a família, ela diz: “Às vezes eu falo umas baboseiras no Instagram. As pessoas não sabem por que sinto tanta raiva dos meus pais. Mas acho que, se estivessem no meu lugar, elas entenderiam.”
O domínio da família sobre a vida de Spears chegava até a seus possíveis namorados: “A equipe de segurança que se reportava ao meu pai investigava os antecedentes do pretendente, fazia com que ele assinasse um acordo de confidencialidade e chegava a submetê-lo a um exame de sangue.”
Spears diz ter entrado no piloto automático e sucumbido ao bom comportamento em nome de seus filhos, com os quais queria passar mais tempo. Perto do fim de 2018, porém, seu pai teria a internado em reabilitação compulsória por mais de 3 meses, onde recebia lítio e não tinha direito algum a entretenimento, privacidade ou livre-arbítrio. Lá, uma enfermeira a mostrou publicações do movimento #FreeBritney, e a artista resolveu enfim se livrar das amarras familiares.
Futuro
Agora, ela agradece o intenso movimento a favor de sua liberdade e a colaboração com Elton John no hit Hold Me Closer. Mesmo assim, não pretende voltar à indústria fonográfica: “É hora de não ser o que os outros querem; é hora de encontrar realmente a mim mesma.”