Que fim levou a grande cantora eclipsada pelo machismo no rock dos anos 60
Com saúde frágil, após anos de consumo de álcool e drogas, Marianne Faithful mudou-se para uma casa de repouso em Londres e luta contra sequelas da Covid
Sobrevivente das loucas décadas de 1960 e 1970, a cantora Marianne Faithfull, 75 anos, provocou apreensão nos fãs meses atrás, ao ser anunciado que desenvolvera uma forma grave de Covid-19. A lendária intérprete sobreviveu – e agora acaba de mudar-se para uma casa de repouso na periferia de Londres. Em tratamento contra as graves sequelas do coronavírus, a artista tem enfrentando ainda uma batalha contra diversos problemas de saúde que surgiram nos últimos anos. Ícone num período em que o rock and roll dominava as paradas britânicas, Faithfull agora ocupa um quarto no lar de idosos Denville Hall, onde nomes como o ator Richard Attenborough, sua esposa atriz Sheila Sim e Andrew Sachs também já viveram.
Faithfull ganhou notoriedade em meados do século passado pela voz doce e angelical com que interpretava canções como As Tears Go By e Sister Morphine, compostas pelo ex-namorado, o vocalista dos Rolling Stones Mick Jagger. A artista, no entanto, embarcou em uma perigosa espiral autodestrutiva após o término do relacionamento, quando se viciou em álcool e heroína. Nos anos 1990, ganhou novamente os holofotes com a gravação Blazing Away, mas logo novos problemas de saúde voltaram a atrapalhar sua carreira.
Nos últimos anos, sua saúde ficou completamente comprometida após sofrer uma fratura nas costas e desenvolver uma infecção grave nos quadris. Logo depois, foi diagnosticada com artrite. Anos antes, já havia sobrevivido a um câncer de mama, hepatite, distúrbios alimentares e até uma tentativa de suicídio. Com esse histórico, Faithfull sentiu como ninguém os efeitos agressivos da Covid-19. Ela já disse ter tido a memória afetada, os pulmões atacados (especialmente depois de ter sofrido um enfisema em decorrência do cigarro) e a voz comprometida após se contaminar durante a pandemia.
Faithfull surgiu em uma época dominada pelo machismo. Em entrevistas recentes, chegou a afirmar que só não deslanchou na música porque foi injustiçada pelo sexismo daquele período e jamais conseguiu se afastar da pecha de ex-namorada de um astro do rock. De fato, seu trabalho estupendo prova que ela foi muito mais que mera paixonite de Mick Jagger. Com sua voz rouca inconfundível, suas interpretações rasgadas – e sempre acompanhada de bandas excepcionais e compositores idem -, Marianne Faithful é uma das grandes crooners da melancolia no rock, uma espécie de rainha da fossa à moda inglesa. Suas gravações continuam por aí, disponíveis nos serviços de streaming – vale a pena, e como, conhecer.