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Onze lições que se aprende com Paul McCartney após assistir a onze shows

O ex-beatle encerrará sua turnê pelo Brasil no próximo sábado, 16, e após ver mais de uma dezena de apresentações, eis o que ele pode nos ensinar

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 18h39 - Publicado em 11 dez 2023, 12h48

Em 2010, quando assisti ao primeiro show de Paul McCartney, já como jornalista, havia um temor que aquela seria a sua última turnê no país, após dezessete anos desde sua última passagem por aqui, em 1993, com shows em São Paulo e Curitiba. Afinal, à época, o músico estava com 68 anos, a maioria deles dedicados à música e seria natural pensar em aposentadoria. Desde então, McCartney não só não parou como retornou outras sete vezes ao país nos últimos treze anos, com shows fora do circuito Rio-São Paulo. Ele visitou Porto Alegre, Recife, Florianópolis, Goiânia, Fortaleza, Espírito Santo, Brasília, Salvador e Belo Horizonte. Neste período, pude acompanhar onze dessas apresentações nos anos de 2010, 2011, 2019 e, agora, em 2023. A última delas no domingo, 10, sob uma torrencial chuva, em São Paulo. Isso, sem mencionar um show dele que vi em 2016, na Califórnia, nos Estados Unidos.

Quem é fã de Paul McCartney sabe que o ex-beatle muda pouca coisa em seus shows e o repertório se mantém mais ou menos o mesmo há anos. Ao mesmo tempo, porém, ele não desacelerou e lançou na última década cinco álbuns de inéditas, documentários, livros e até música inédita dos Beatles. No próximo sábado, 16, ele fará a sua última apresentação no Brasil, no estádio do Maracanã, com transmissão ao vivo pela Disney+. Foi no icônico estádio carioca onde em 1990 ele bateu o recorde de público, com 184.000 pessoas, e, especula-se que anunciará uma aposentadoria, temor reforçado pelo convite que ele fez aos filhos e aos familiares a acompanharem a apresentação.

Nesses treze anos acompanhando ao vivo a carreira de Paul McCartney, testemunhei algumas lições e exemplos que o ex-beatle deixa para os fãs e também para outros artistas. Algumas delas são simples e óbvias, como não se atrasar para os shows e outras nem tanto, como a defesa de causas sociais, como a de grupos LGBTQIAP+, indígenas, mulheres e negros, além do apoio ao veganismo. A seguir listei onze delas que testemunhei nesses onze anos. Confira:

Paul McCartney se apresenta no Allianz Parque, em São Paulo, em 07/12/2023
Paul McCartney se apresenta no Allianz Parque, em São Paulo, em 07/12/2023 (Marcos Hermes/Divulgação)

1 – Atenção aos fãs

Paul McCartney é o tipo de artista acessível. Ele dá entrevistas, conversa com jornalistas, mas gosta mesmo do contato com os fãs. Se por um lado, nem sempre ele encontra espaço para falar com a imprensa, ele sempre tem tempo para atender aos fãs. Na turnê deste ano, por exemplo, ele fez várias promoções com os fãs das rádios distribuindo convites para shows. Na turnê de 1990, Paul enviou mensagens para dezenas de rádios brasileiras convidando para o show. Paul também não gosta de ficar em hotéis escondidos e sempre surge no lobby para um tchauzinho. Na entrada do estádio, abre a janela do carro e acena aos fãs.

2 – Defesa dos animais

Paul McCartney é vegano e pediu que seu camarim não tivesse nenhum alimento de origem animal nem que os móveis fossem de couro. No estádio, foram distribuídos panfletos do projeto Segunda Sem Carne, do qual ele é apoiador. Nos panfletos ele sugere às pessoas um gesto simples: reservara a segunda-feira para não comer nada de origem animal.

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3 – Homenagem aos amigos

Em todos os shows que assisti de Paul McCartney ele jamais deixou de homenagear John Lennon, morto em 1980, e George Harrison, morto em 2001. Para o primeiro, ele canta Here Today. Para Harrison, a homenagem é com Something. Nas apresentações desta última turnê, ele também está fazendo um dueto com um vídeo de John Lennon na última apresentação dos Beatles, no teto da Apple Corps, em Londres, na música I’ve Got Feeling, restaurado por Peter Jackson. “É um dos momentos mais emocionantes para mim porque eu voltei a cantar com meu amigo”, disse no show. Além disso, Paul bloqueia sua agenda de shows nos dias de morte de John e George e jamais se apresenta nesses dias.

4 – Compromisso com o público

Pode parecer óbvio, mas Paul jamais atrasa seus shows. Ele sempre chega horas antes da apresentação e sobe ao palco rigorosamente no horário, exceto quando há um pedido da produção para atrasar. Neste ano, em São Paulo e em Belo Horizonte, ele atrasou o show em uma hora devido ao trânsito intenso nos arredores do estádio causado pelo mau tempo e também pelas compras de Natal nos shoppings da região.

5 – Comprometimento com a perfeição

Aos 81 anos, Paul sabe que sua voz não está perfeita e também já não tem a mesma disposição de antes. O ex-beatle, no entanto, faz questão de chegar horas antes no estádio para passar o som ele mesmo. Um artista do calibre de Paul jamais precisaria fazer isso, ele poderia contratar alguém para fazer. Ele, no entanto, não só faz isso com prazer, como os fãs que têm a oportunidade de entrar antes, assistem à passagem de som que funciona quase como um novo show, com canções que não entram na apresentação e duração de quase 1 hora.

6 – Generosidade

Paul McCartney adora convidar artistas para se apresentar com ele. No show que assisti no festival Desert Trip, na Califórnia, em 2016 (que reuniu grandes nomes do rock, como Rolling Stones, Bob Dylan, The Who, Roger Waters), ele convidou Neil Young, que havia feito show horas antes, para cantar com ele no palco a música Give Peace a Chance. Na semana seguinte de festival, ele convidou Rihanna para cantar a música FourFiveSeconds. Exemplos como esses são recorrentes em seus shows.

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7 – Reverência à própria história

Se tem um artista com uma biografia invejável é Paul McCartney. Ex-beatle, ele tem o impressionante repertório da banda para apresentar, além de inúmeros clássicos lançados anos depois com o Wings, Fireman e em carreira solo, como Live And Let Die. Ao contrário de ídolos como Bob Dylan e Eric Clapton, que alteram suas músicas de uma maneira que ninguém reconhece, Paul faz questão de tocá-las da maneira como foram gravadas. Para ele, isso é uma maneira de respeitar o público, que quer ouvir suas canções favoritas e, mesmo tocando as mesmas músicas há 60 anos, Paul tem algumas que jamais retira do repertório, também em respeito aos fãs e, claro, à própria história.

8 – Inovação

Se por um lado o show de Paul McCartney se mantém quase sempre o mesmo, por outro lado, ele encontra brechas para inovar. Nesta turnê há dueto com John Lennon e a novas tecnologias no telão, com uma definição cristalina. Fora dos palcos, lançou cinco discos de inéditas desde 2010, uma série na Disney+ dos Beatles e outra na Star+ sobre sua carreira solo, um livro de memórias onde comenta suas músicas, outro de fotografias que fez durante a beatlemania, além, é claro, da canção inédita dos Beatles, Now And Then, lançada com ajuda da inteligência artificial.

9 – Família

Os filhos de Paul McCartney, Mary, Stella e James, frutos do cansamento com Linda McCartney, e Heather, filha do primeiro casamento de Linda e adotada por Paul, e Ben, filho trans fruto do casamento com a ex-esposa, Heather Mills, sempre são lembrados pelo músico. Nos shows, ele homenageia Linda, que morreu de câncer em 1998, na música Maybe I’m Amazed, mas reserva um momento para dedicar uma canção de amor à nova mulher, Nancy Shevell, na canção My Valentine.

10 – Incentivo à música

Na turnê deste ano chamou à atenção o show intimista que ele fez no Clube do Choro, em Brasília. McCartney só aceitou fazer a apresentação porque o local é ligado à Escola de Choro Raphael Rabello. Esse apoio às artes é antigo, especialmente em sua cidade natal, Liverpool. Anualmente, ele visita a Liverpool Institute For Arts (Lipa), mantida por ele, para entregar os diplomas para os alunos. A concorrência por uma vaga na escola é grande, já que muitos alunos são fãs dos Beatles e só se inscrevem nos cursos porque sabem que ao final dele receberão os certificados das mãos do próprio músico.

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11 – Causas sociais

Paul McCartney não tem medo de se posicionar a favor das causas que defende. Além do veganismo, ele também defende os direitos LGBTQIAP+ e sempre exibe a bandeira do movimento em suas apresentações, causa que abraçou incentivado pelo filho Benedict (Ben), nascido Beatrice, um homem trans fruto do casamento com sua ex-esposa, Heather Mills. No ano passado, ele também exibiu a bandeira da Ucrânia em apoio ao país após a invasão da Rússia.

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