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O Som e a Fúria

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No Brasil, Black Pumas diz que lançará música em português ainda este ano

Dupla de Austin, no Texas, se apresentará no C6 Fest, em São Paulo, e conversou com a reportagem de VEJA sobre a passagem pelo país

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 Maio 2024, 18h20 - Publicado em 17 Maio 2024, 12h18

Foi em 2020, em plena pandemia, que o duo Black Pumas, de Austin, Texas, deslanchou. Indicados ao Grammy na categoria Revelação daquele ano, a dupla formada por Eric Burton e Adrian Quesada surpreendeu como uma das grandes promessas daquele rock and roll sem firulas. Atração do Lollapalooza Brasil em 2022, o grupo retorna neste sábado, 18, ao país para um show bem mais intimista no C6 Fest, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Adrian Quesada conversou com a reportagem de VEJA sobre os desafios desta nova fase da carreira, das pressões para compor um disco tão bom quanto o primeiro e também sobre música brasileira e latino-americana. Apaixonado por cúmbia peruana amazônica, Quesada falou sobre a influência que grupos como Los Mirlos tiveram em seu som e adiantou que o Black Pumas lançará até o fim do ano uma nova música, desta vez com uma letra toda em português. Confira a seguir os melhores trechos:

O Black Pumas se apresentou no Brasil pela primeira vez em 2022, no Lollapalooza. Vocês retornam agora para mais um show, no C6 Fest, com um novo álbum, Chronicles of a Diamond. Que mudanças enxerga na banda desde então? A banda se mantém a mesma, portanto, também temos o mesmo tipo de energia, mas acredito que nossa conexão no palco aumentou desde 2022, pois fizemos muitos shows desde então.

A maior base de fãs do Black Pumas fora dos Estados Unidos está no Brasil? Sim. Começamos a notar isso durante a pandemia, quando fizemos uma live e nos comentários havia muitas bandeiras brasileiras. Definitivamente, o Brasil é a nossa maior base de fãs fora dos EUA e isso é incrível. Minha vontade é fazer uma turnê de dois meses no Brasil, com muitos shows.

Você me contou em novembro do ano passado que Eric Burton havia composto uma música em português. Há alguma chance de vocês apresentá-la no Brasil? Não vamos cantá-la, não, mas estamos pensando em lançá-la ainda este ano. Eric está trabalhando nessa letra em português. Não conseguimos terminar a tempo para que ela entrasse no álbum.

De onde vem a inspiração para você e Eric comporem? Vem de todos os lados. Eric trabalha muitas ideias sozinho. Ele está sempre escrevendo, compondo com sua guitarra ou teclado. Sempre o vejo gravando notas em seu telefone. Geralmente, começamos a escrever as músicas separados e depois juntamos as ideias no final. Estou agora no meu estúdio aqui em Austin, no Texas. Sempre fico aqui quando não estou em turnê, mas também tenho um aparato portátil que configuro em quartos de hotel durante a turnê. Estamos constantemente fazendo loops, começando músicas e escrevendo coisas na guitarra.

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Em uma viagem recente que fiz ao Peru, ouvi Cumbia de los Pajaritos tocando na rádio, do grupo peruano Los Mirlos, canção que você regravou alguns anos atrás com sua antiga banda, o Grupo Fantasma. De que forma as canções latino-americanas influenciam o seu som? Costumávamos ouvir esse tipo de música o tempo todo. Uns vinte anos atrás, um amigo voltou do Peru com muitos discos. Eu nunca havia ouvido esse estilo: a cúmbia psicodélica da Amazônia. E eu gosto muito de cúmbia. Mas, nunca havia ouvido esse subgênero, a chicha, com violões e órgãos. Me lembro de o meu amigo tocar para mim e dizer: ‘parece que estou te ouvindo tocar essa guitarra’. Isso me levou a ficar realmente obcecado por esse tipo de música e a estudá-la por muitos anos. Montamos até outra banda paralela, chamada Money Chicha, que se dedicava só a esse estilo.

E a chicha influenciou o som do Black Pumas de alguma forma? Não, necessariamente. Eu sei que o Eric ouve muito ritmos latinos. Talvez tenha uma influência no jeito que toco algumas coisinhas, mas nunca fizemos referência à cúmbia ou a algo do tipo nas músicas do Black Pumas.

No mesmo dia que vocês vão tocar no C6 Festival, também tocarão outros artistas brasileiros, como Fausto Fawcett, Jaloo e Gabi Amarantos. Você conhece o som deles? Adoro a música brasileira, mas, infelizmente, esses artistas específicos que citou, ainda não conheço. Sou amigo do pessoal do Boogarins, uma banda brasileira ótima que morou em Austin. Também gosto do Curumin. E, claro, dos clássicos: Milton Nascimento, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso e Mutantes.

Jimmy Page disse certa vez que uma banda tem a vida inteira para compor o primeiro álbum e apenas alguns meses para fazer um segundo disco tão bom quanto o primeiro. Vocês sentiram essa pressão ao compor o segundo álbum? Sim, houve muita pressão. Algo que não tivemos, absolutamente, no primeiro. Foi uma sensação diferente. Tivemos dias em que foi muito difícil continuar. De repente, há todas as expectativas das pessoas, de fãs, empresários, gravadoras e tudo mais. Este segundo álbum foi feito com muita gente nos observando e esperando resultados. No fim das contas, os dias foram muito difíceis e estressantes, mas acho que foi bom para nós ter esse tipo de pressão e estresse.

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Como lidou com essa pressão e estresse? Às vezes é difícil manter o foco e lembrar de fazer música. A música é para você e não para as expectativas de alguém. Isso foi a melhor coisa que pudemos fazer.

E como se destacar no streaming, altamente saturado e competitivo, onde milhões de músicas novas são lançadas diariamente? A melhor coisa que podemos fazer é uma música honesta. Há muito ruído nas mídias sociais. Um dia você está em alta e no outro pode desaparecer. O que temos que fazer é isso: música honesta para nós e para que as pessoas se conectem com ela.

Os jovens se interessam menos por rock, blues e jazz e preferem ouvir ritmos como rap e trap. Como atrair essa turma para o seu som? Hoje em dia, se você está tocando guitarra, bateria e teclado ao vivo, soa para algumas pessoas como algo retrô, vintage. Algumas pessoas acham que somos completamente retrô só porque tocamos instrumentos. Por causa disso, alguns dizem que estamos salvando a música só porque tocamos instrumentos. Adoro todo tipo de música, hip-hop e trap, inclusive. Mas faço a música que acho certa para mim. Acho que ela é bonita e pode ser uma música moderna.

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