Diogo Nogueira: os segredos do sambista que seduziu o Brasil
Filho de uma lenda carioca, ele se firma como herdeiro do gênero em novo disco. De quebra, o moço sabe cozinhar — e conquistou Paolla Oliveira
Quando criança, no final dos anos 1980, Diogo Nogueira acostumou-se a ver a casa de sua família, no subúrbio do Rio de Janeiro, sempre cheia e animada. Da varanda, ele acompanhava as festas que o pai, o sambista João Nogueira (1941-2000), dava no quintal com outros bambas, como Beth Carvalho, Paulo César Pinheiro e Martinho da Vila, integrantes do histórico Clube do Samba. Os encontros, claro, eram sempre acompanhados de uma bela feijoada. Para Diogo, aqueles preciosos momentos se tornaram mágicos. Das memórias deles vem a inspiração de seu novo álbum, Sagrado, que acaba de chegar aos serviços de streaming. Pelas oito faixas, ele deixa suas heranças culturais fluírem desde as referências ao candomblé, religião da qual é adepto, às rodas de samba nas comunidades cariocas — sempre remetendo às recordações da vivência com o pai.
A figura de João Nogueira é onipresente na trajetória de Diogo, hoje com 42 anos. Desde o primeiro DVD, no qual fez um dueto póstumo com o pai na música Espelho, o sambista jamais deixou de homenageá-lo. Em seu novo trabalho, Diogo apresenta uma música inédita dele, Meu Samba Anda Por Aí, feita em parceria com Paulo Valdez (filho de Elizeth Cardoso, madrinha de samba de João). A composição foi encontrada por acaso num baú de fitas cassete de um amigo dele. O canto de João abre a faixa, seguido da voz do filho. Para 2024, outra homenagem é esperada, agora nos teatros. Diogo interpretará João no musical Através do Espelho. A peça contará a história do artista do início da carreira até a criação do Clube do Samba — cuja primeira sede foi justamente em sua casa, no Méier. “É desafiador. Estou estudando para recriar o fino desse malandro carioca boêmio e inteligente”, disse o sambista a VEJA (leia a entrevista abaixo).
Samba de enredo: História e arte
O clima caseiro e festeiro é recriado na capa do álbum, feita com ajuda da inteligência artificial — e onde todos os elementos que povoam as lembranças de Diogo estão presentes. Num varal, surgem pendurados itens como o uniforme do Flamengo e a camisa do bloco Cacique de Ramos. No chão de terra batida, veem-se rodas de samba. “São referências a tudo o que é sagrado para mim”, conta o artista, que não descarta o uso da tecnologia para restaurar a voz do pai. “É possível ser feito no futuro”, diz.
Se a voz grave, a simpatia e o jeito de malandro herdado do pai o posicionaram como um dos mais respeitados sambistas ditos “de raiz” da atualidade, a paixão pelo futebol nunca foi abandonada. Antes de ser cantor, Diogo quase virou jogador. Dos 9 aos 21 anos, ele só pensava na bola. Fanático pelo Flamengo, atuou por oito anos no Rio de Janeiro, clube criado pelo craque Zico. Até que uma lesão o afastou dos gramados: “Hoje, quando consigo, jogo uma pelada às quintas-feiras”.
Diogo nutre outras paixões que fazem jus à imagem de bamba. Para além do samba, ele venera o Carnaval (portelense, seus sambas-enredo já levaram a escola à vitória mais de uma vez) e aprecia cozinhar. Com tais dotes, óbvio que atiça as mulheres (e não só). Bem-apessoado, musculoso e de fala mansa, conquistou a fama inescapável de galã do samba. Rótulo que só fez crescer desde que engatou namoro com Paolla Oliveira, em 2021. Em tom de brincadeira, ele diz que não foram seus olhos azuis que conquistaram a atriz, e sim o talento nas panelas — reformou a casa recentemente para juntar amigos ao redor do fogão a lenha. “O samba é isso. Ele surgiu das reuniões familiares, no fundo do quintal, com aquela comida super ‘saudável’, tipo rabada, torresminho e churrasco”, brinca. Diogo lançou há pouco tempo um livro de culinária com essas e outras receitas.
O músico diz não se incomodar com o escrutínio sem fim de seu relacionamento nas redes sociais. Compôs para Paolla, aliás, a canção Flor de Caña, lançada recentemente. E avisa que já tem outra ode à atriz pronta, composta em parceria com Moacyr Luz. “Escrevi no pé do ouvido dela”, conta. O malandro não dorme mesmo no ponto.
Em ritmo de homenagem
Diogo Nogueira fala sobre as referências do novo disco dedicado ao pai, às religiões de matriz africana e, claro, sobre o relacionamento com Paolla Oliveira:
Seu novo álbum se chama Sagrado. De onde vem a inspiração? O samba é sagrado. Esse disco vem de um lugar de conforto e respeito, não só pela música, mas também pela minha religião, o candomblé. Meu pai e minha mãe sempre me criaram para respeitar o próximo.
Por falar em seu pai, como vem se preparando para interpretá-lo no teatro? Ele é um personagem importante na construção do samba. Sei muita coisa sobre meu pai, mas vou pesquisar ainda mais. Imagine interpretar a pessoa que você mais admira e respeita, e que fez muito pela música brasileira? É desafiador e emocionante.
A capa do disco foi feita usando IA. Pensa em usar a tecnologia para restaurar as músicas do seu pai? Preciso entender como isso seria feito. Poderia sair algo bem bacana disso. Acho possível.
No álbum, a música Ciência da Paz prega o respeito às religiões de matriz africana. Por que ainda é importante cantar sobre o tema? O respeito, independentemente da religião que você cultua, é fundamental. É uma forma de as pessoas entenderem que pregamos a luz e a paz.
Como faz para lidar com o interesse das pessoas por seu namoro com Paolla Oliveira? Nosso relacionamento é maravilhoso. Melhor, impossível. A galera mete os ‘zóio’ na gente, mas estamos bem protegidos. Quando o encontro foi predestinado, não tem jeito.
Publicado em VEJA de 1º de dezembro de 2023, edição nº 2870
*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.