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Como o pagodeiro Thiaguinho fez um milhão de amigos – e uma mina de ouro

Cantor usou sua incrível capacidade de agregar pessoas para ganhar uma fortuna com uma despretensiosa festa de pagode

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h54 - Publicado em 22 set 2023, 06h00

Em 2015, o cantor Thiaguinho estava com a agenda tão lotada de shows que não conseguia nenhum fim de semana livre para se divertir com os amigos. Quando soube que ele havia aceitado ser jurado do reality Super­Star, da Globo, o ator carioca Rafael Zulu, uma das pessoas mais próximas do artista, enxergou então uma brecha perfeita na agenda. Como as gravações ocorriam nos domingos à noite, Zulu pensou em aproveitar as tardes livres antes de Thiaguinho ir para o estúdio para juntos fazerem o que mais gostavam: um pagodinho. Foi assim que, despretensiosamente, surgiu a festa Tardezinha, inaugurada com uma apresentação para apenas 400 pessoas num clube da Barra da Tijuca. Aquela tímida fagulha logo virou explosão: entre 2015 e 2019, a balada teve 162 edições, que atraíram 1,5 milhão de pessoas. Oito anos depois, na euforia pós-pandêmica, a festa acaba de se tornar uma dos maiores vendedoras de ingressos de 2023, perdendo só para a turnê de reencontro dos Titãs. A primeira edição do ano, em março, no Parque Olímpico do Rio, o mesmo local onde no ano anterior ocorreu o Rock in Rio, reuniu 80 000 pessoas. Desde então, outras vinte já aconteceram, vendendo mais de 500 000 ingressos. Até o fim de 2023, mais nove datas estão previstas, e espera-se bater a marca de 600 000 pessoas. “A Tardezinha é um lugar onde as pessoas ficam muito felizes”, afirma Thiaguinho.

Thiaguinho – Ousadia e alegria

Nascido em Presidente Prudente (SP) e criado em Ponta Porã (MS), Thiago André Barbosa, de 40 anos, cresceu ouvindo sertanejo, mas descobriu o amor pelo pagode com os pais, que escutavam em casa Agepê, Fundo de Quintal, Beth Carvalho e Martinho da Vila. A notoriedade nacional veio em 2002, quando participou do reality musical Fama, da Globo. Já no ano seguinte, passou a integrar o Exaltasamba, no lugar do cantor Chrigor, tornando-se um dos principais compositores do gênero. Dono de um inegável magnetismo pessoal, ele se tornou também uma figura gregária no show biz desde que deixou o grupo, em 2012. Hoje, celebridades como Tiago Abravanel, Bruna Marquezine e Lázaro Ramos disputam ingressos para suas apresentações.

Tim Maia 1970 [Disco de Vinil]

A capacidade de fazer amigos influentes é comprovada no “Diretoria”, folclórico grupo de WhatsApp formado por Thiaguinho, Zulu, Luciano Huck, Neymar, o surfista Gabriel Medina e o jogador de vôlei Bruninho. “Hoje, cada um está num canto do mundo. Um na Itália, outro na Arábia, mas nos falamos diariamente”, revela. Na vida pessoal, o cantor faz o tipo discreto, avesso a polêmicas. Foi casado até 2019 (e mantém boa relação) com a atriz Fernanda Souza e atualmente namora a modelo Carol Peixinho.

CONEXÕES - Com Huck, Medina, Zulu, Neymar e Bruninho: a diretoria
CONEXÕES - Com Huck, Medina, Zulu, Neymar e Bruninho: a diretoria (@thbarbosa/Instagram)
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É no palco 360 graus da Tardezinha, montado no meio do gramado, que as conexões de Thiaguinho se fazem notar. Os shows sempre contam com a presença-surpresa de cantores conhecidos dos mais variados estilos, como Alexandre Pires, Iza, Marcelo D2 e muitos outros. O repertório soltinho é outra marca: sem setlist definido previamente, ele canta aquilo que lhe dá na telha, de clássicos de Tim Maia ao pagode romântico dos anos 1990. As apresentações podem durar até sete horas. “Me sinto no quarto de casa”, diz o cantor.

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Thiaguinho afirma que o palco é o lugar onde mais gosta de ficar — e jura que não se sente tão à vontade no escritório. Mesmo assim, sua empresa, a Paz & Bem, fundada em 2009 para gerir sua carreira, se tornou uma máquina de fazer dinheiro. Em 2021, a revista Forbes incluiu o músico em sua lista de bilionários brasileiros do entretenimento, com faturamento acima de 2 bilhões de reais anuais — uma fortuna advinda de shows, direitos auto­rais e ganhos com licenciamento. Thiaguinho desconversa sobre seu taco certeiro como empreendedor: “Deixo a administração da empresa para quem entende”. Prefere ressaltar o reconhecimento de seu trabalho musical: Meu Nome É Thiago André (Ao Vivo) acaba de ganhar indicação ao Grammy Latino de melhor álbum de samba ou pagode.

A festa Tardezinha é uma vitrine invejável para Thiaguinho vender seu peixe, claro. Mas, para além do papel de incentivador da curtição, ele se vale dos shows para divulgar uma causa nobre: a campanha contra o racismo E Aí, Até Quando?. “É uma luta para nós, pretos, desde o dia em que nascemos”, esclarece. Na busca por aliados, Thiaguinho tem levado ao pé da letra o sucesso de Roberto e Erasmo Carlos: “Eu quero ter 1 milhão de amigos / E bem mais forte poder cantar”.

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Publicado em VEJA de 22 de setembro de 2023, edição nº 2860

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