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O “pior” romance de José de Alencar

Publicado em 1870, O Gaúcho foi atirado na lata do ostracismo porque o seu autor não conhecia o Rio Grande do Sul

Por Maicon Tenfen 14 dez 2017, 19h11

(Da série 140 anos da morte de José de Alencar).

Como já defendemos aqui, José de Alencar foi um dos maiores contadores de histórias que o Brasil conheceu. Morreu em 1877, com apenas 48 anos, depois de publicar 20 romances, 7 peças de teatro, uma antologia de crônicas, uma autobiografia intelectual e centenas — talvez milhares — de artigos na imprensa do seu tempo.

Seus melhores romances costumam ser indicados para o vestibular. É o caso de Iracema, O Guarani e Senhora. Em contraposição, aqueles que são considerados os piores continuam recebendo apenas uma ou duas linhas de atenção nos manuais. É o caso de O Gaúcho, de 1870, uma saga de vingança ambientada no pampa bravio. (Em 1957, o livro foi filmado por Walter George Durst e teve o título modificado para Paixão de Gaúcho).

Desde seu lançamento, o livro foi esculhambado pela crítica, injustiça cometida contra todos os leitores que acabaram se encontrando com a prosa de Alencar. No meu caso, demorei até criar o ânimo necessário para folhear O Gaúcho. “Primeiro os bons”, eu pensava. “Depois vejo os outros”. Perdi um tempo precioso, confesso.

O Gaúcho conta a história de Manuel Canho, menino de 9 anos que jura vingança depois de assistir ao assassinato do pai. Adulto, parte para seu destino, mas antes pede a “bênção” do padrinho Bento Gonçalves e se envolve na Guerra dos Farrapos. Nada mais revelo do entrecho e do desfecho, que não são previsíveis, mas cheios de “verdade ficcional”.

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Se é desse jeito, então por que O Gaúcho foi e é considerado um romance ruim?

Como Alencar nunca pôs os pés no Rio Grande do Sul, muitos dos críticos de sua época, que eram gaúchos, começaram a dizer que o pampa descrito no livro nada tinha a ver com o pampa da vida real. Os demais críticos, que também não conheciam o sul, compraram o argumento e assim as virtudes do romance foram ofuscadas por suas imperícias geográficas.

De tudo nessa história, o mais curioso é que a parcialidade dos críticos muda a cada geração. Há alguns anos, quando Chico Buarque publicou Budapeste, foi chamado de gênio — mais uma vez — porque nunca esteve na Hungria!

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