De repente, os Bolsonaro perderam a pressa e já estão achando melhor, conforme verbalizou o deputado Eduardo, que seu partido, o Aliança, não fique pronto a tempo de concorrer nas eleições municipais deste ano. Segundo ele, para que tenham mais tempo de “selecionar” seus dirigentes. A declaração não bate com o esforço que vem sendo feito por seus fundadores para recolher assinaturas, usando inclusive cultos de igrejas evangélicas. Não bate, tampouco, com a lógica: partido existe para concorrer e ganhar eleição.
Mas confirma a hipótese de que o presidente da República quer manter distância das eleições para as prefeituras, muito provavelmente temendo ser derrotado. Eleições municipais costumam ser decididas sobretudo por fatores locais. Com razão, o eleitor vota em quem tem mais condições de lhe oferecer serviços públicos eficientes e resolver as questões do dia-a-dia das cidades. 2020, porém, pode ser um pouco diferente. Em meio a um alto grau de radicalização política e ao desgaste do governo federal, é possível que, nos grandes centros, o pleito acabe tomando formas plebiscitárias, sobretudo no segundo turno, contrapondo direita e esquerda, bolsonarismo x petismo, ou algo assemelhado.
A esta altura, já ficou claro que, nas capitais do chamado “Triângulo das Bermudas”, que reúne São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, são poucas as chances de nomes fortes ligados ao presidente vencerem. Até porque, pelo que se verifica, eles não existem. Nessa linha, é bem provável que Bolsonaro esteja fazendo as contas para ficar com o menor dos males. Quem não tem candidato não perde.
No Rio, por exemplo, a família Bolsonaro não teria alternativa a não ser apoiar a tentativa de reeleição do prefeito e aliado Marcelo Crivella – que, neste momento, parece improvável. Talvez por isso, o presidente da República esteja evitando a todo custo se comprometer com o prefeito. O discurso do distanciamento, reforçado pelo fato de seu partido não estar pronto para concorrer, cai como uma luva nesse caso.
Pode servir ainda para São Paulo, onde, depois da ruptura com Joyce Hasselmann, Bolsonaro parece não ter também um candidato forte, já que José Luiz Datena dá sinais de que não vai entrar no páreo. Em Belo Horizonte vai ficar difícil apoiar alguém que não seja o atual prefeito, Alexandre Kalil, franco favorito. Mas Kalil tem excelentes relações com o centro e as esquerdas, que inclusive participam de seu governo. Pode não haver lugar para o radicalismo bolsonarista nesse palanque.
Acima de tudo, o movimento de distanciamento de Bolsonaro das eleições, com a intenção de não se arranhar com derrotas mais feias, mostra a falta de confiança do governo no desempenho dos candidatos de seu campo político-ideológico – com ou sem partido pronto. E a pergunta que fica é se alguém que é candidato à reeleição em 2022 pode fugir da raia em 2020.
Helena é jornalista