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Uma recuperação difícil

A tolerância do brasileiro será ainda menor

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 14h57 - Publicado em 17 abr 2020, 06h00

Um belo dia, por qualquer razão, a epidemia do novo coronavírus vai acabar. Seja porque teremos encontrado uma vacina, seja porque o tratamento terá se tornado banal, podendo ser adquirido em toda farmácia de esquina. As pessoas retornarão às ruas e lotarão os transportes públicos. Irão ao cinema e aos jogos de futebol. As praias ficarão cheias nos fins de semana. Tomara que sim.

Mas será que tudo voltará mesmo ao normal? E será que o que era normal antes será considerado normal depois? O fim de uma crise que não sabemos como se encerrará nos leva à certeza de que, no fim das contas, nada vai ser como antes.

Uma marca permanecerá nas famílias que perderam os seus. E também nos profissionais de saúde, que se sacrificaram para cuidar dos doentes, assim como tantos outros que trabalharam correndo riscos. Já temos milhões de desempregados e de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Esta pandemia vai piorar a situação. Como enfrentar o que vem por aí?

Não se trata, obviamente, de uma pergunta fácil. Sabemos que, por enquanto, a era da austeridade terminou. Viveremos tempos de “banco imobiliário”, quando o governo distribuirá dinheiro de mãos abertas. Justo por isso precisaremos ter muito cuidado com as escolhas a ser feitas.

“Se gastar será inevitável para sair da crise, que o Brasil gaste bem com saúde, segurança, educação e infraestrutura. E não com altos salários e mordomias”

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Investimentos em infraestrutura deverão ser priorizados, urgente e obrigatoriamente, para evitar a explosão do desemprego. O bom é que necessitamos bastante de ferrovias, hidrelétricas, estradas, hospitais, escolas, portos e habitação. E dispomos de capacidade técnica para construir tudo isso.

Precisamos sanear e urbanizar as favelas e as comunidades carentes, só assim empregaremos milhões de brasileiros. Teremos de levar o Estado aonde ele não chega de maneira efetiva. Teremos de reduzir a desigualdade social e o Estado deverá funcionar de forma mais eficiente e menos onerosa.

Os brasileiros descobriram como precisam do Sistema Único de Saúde. Vale lembrar o que disse Boris Johnson, primeiro-ministro inglês, quando deixou o hospital já curado da Covid-19: o sistema público de saúde do Reino Unido é o coração pulsante da nação. Por aqui, o Brasil tem de cuidar do nosso coração pulsante.

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Já que gastar será inevitável para sairmos da crise, que o Brasil gaste bem em saúde e segurança pública, educação e infraestrutura. E não em altos salários e mordomias. A política deve entender que a tolerância do brasileiro será ainda menor diante de escolhas erradas. O destino do país vai ser o que merecemos. E o que merecemos será decidido por nossas escolhas.

Publicado em VEJA de 22 de abril de 2020, edição nº 2683

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