Enquanto Lula recupera a popularidade e colhe os louros da videoconferência com o presidente americano Donald Trump — gesto simbólico de reposicionamento internacional —, seu governo segue exibindo uma notável fragilidade política.
A pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta 8 mostra a recuperação: a aprovação atingiu 48% (era 46% em setembro), enquanto a desaprovação recuou para 49% (era 51%). Empate técnico pela primeira vez desde janeiro. Esse é o melhor resultado de Lula em 2025, revertendo a trajetória negativa de maio, quando a desaprovação chegou a 57%, contra apenas 40% de aprovação. Além disso, 49% avaliam que Lula saiu fortalecido após o encontro com Trump na ONU, e a aprovação da isenção do IR até 5 000 reais conta com o apoio de 79% da população.
Paradoxalmente, no campo político institucional, a situação beira o caos. A recente derrota da Medida Provisória 1303 expôs a desarticulação do Planalto. A crença de que a vitória na isenção do IR sinalizava força no Congresso era ilusória — aquela votação foi impulsionada por lógica eleitoral, não por lealdade ao governo.
A MP 1303, ao aumentar a taxação sobre juros sobre capital próprio e projetar a arrecadação de 20 bilhões de reais em ano pré-eleitoral, uniu várias forças contra o Executivo. Para agravar, articuladores do governo reagiram com ameaças de “retaliação” ao Congresso e aos setores resistentes — atitude que consolidou a derrota. A oposição, percebendo a fragilidade, aprovou a retirada de pauta, poupando-se do desgaste e deixando o governo com o ônus.
“A derrota da MP 1303 não foi apenas um revés fiscal — foi o retrato de um governo inábil politicamente”
O presidencialismo de coalizão, eixo de governabilidade desde a redemocratização, cede lugar a um presidencialismo de colisão. A lição é simples: num cenário pré-eleitoral fragmentado, só pautas de forte apelo popular prosperam. A derrota da MP 1303 não foi apenas revés fiscal — foi o retrato de um governo politicamente inábil, mesmo sob líder popular, baseado em uma espécie de presidencialismo de colisão, que promove o conflito entre os poderes.
Lula cresce nas pesquisas, impulsionado por ambiente econômico relativamente estável e pelo carisma que conserva. A força nas ruas contrasta com a fraqueza nos bastidores. O paradoxo se materializa num presidente com apoio popular para disputar o segundo turno em 2026, mas à frente de governo confuso e sem maioria consolidada.
Com Lula forte, a opção provável de Tarcísio de Freitas seria disputar a reeleição em São Paulo, abrindo caminho para outras candidaturas no centro e na direita. A fragmentação da oposição pode beneficiar o petista, mas a governabilidade pós-eleição seguirá comprometida se a dinâmica atual persistir.
Fazendo uma analogia com a Fórmula 1, Lula chega à cena eleitoral como piloto forte numa equipe fraca. Já a oposição não tem piloto nem equipe consolidados. Popularidade pessoal convive com fragilidade institucional; força eleitoral coexiste com impotência legislativa.
O desafio de Lula não é apenas vencer em 2026, mas construir governabilidade para um eventual quarto mandato. Já o desafio da oposição é duplo: posicionar-se no meio de disputas internas fragmentadas e recuperar-se da estratégia bolsonarista equivocada de estimular punições ao Brasil pelo governo americano — tática que desgastou a direita junto ao eleitorado nacionalista e moderado.
Publicado em VEJA de 10 de outubro de 2025, edição nº 2965
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