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Lula e a crise de credibilidade

Reação depende de novo pacote fiscal e ajustes no ministério

Por Murillo de Aragão 5 jan 2025, 08h00

No início de 2025, o Brasil enfrenta uma grave crise de credibilidade econômica e fiscal, com a desvalorização de 27% do real frente ao dólar e uma fuga maciça de capitais nos últimos meses de 2024. A queima de reservas cambiais e a transferência de recursos por grandes investidores refletem a descrença no potencial de longo prazo do país. Se essa tendência continuar, as consequências serão juros mais altos, câmbio elevado, desinvestimento, desemprego e inflação, criando um cenário desastroso para o governo Lula 3.

A cotação de 6 reais por dólar se consolidou como o novo piso, resultado da desvalorização acumulada. O desafio imediato é impedir que o próximo patamar chegue a 7 reais. As medidas fiscais apresentadas até agora foram insuficientes, falhando em alcance, execução e comunicação, algo que o governo já reconheceu. A questão central é: como reagir rapidamente para evitar o aprofundamento da crise?

A demora em adotar medidas firmes custará caro ao país e será politicamente devastadora. Alguns setores já consideram que o governo não conseguiu começar de fato, apesar do crescimento do PIB e da redução do desemprego em 2024. O momento exige união. Enquanto os mais ricos se protegem com hedges cambiais, são os mais pobres que acabam pagando o preço da crise de credibilidade.

O governo precisa agir rapidamente para impedir que os juros futuros e a cotação do dólar subam ainda mais

Lula precisa agir imediatamente em várias frentes: negociar um novo pacote fiscal, melhorar o diálogo com o Congresso, reduzir a tensão sobre emendas parlamentares e fortalecer a comunicação com tomadores de decisão e formadores de opinião. As novas medidas devem promover cortes reais de gastos, com aprovação urgente. A inação permitirá que os juros futuros subam ainda mais e o dólar ultrapasse os 7 reais, agravando o cenário econômico.

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O governo também precisa entender que suas narrativas moldam expectativas. Em 2024, o governo falhou ao não capitalizar boas notícias e recorreu a declarações inadequadas, como “pobre não come dólar”, ou a ataques à Faria Lima e ao agronegócio, que apenas alimentaram a desconfiança. A comunicação, até agora improvisada e dependente de publicidade, precisa ser substituída por uma estratégia sólida e orientada ao diálogo com stakeholders essenciais. O anúncio de medidas como a isenção de imposto de renda para a faixa de 5 000 reais, inesperado e fora de contexto, apenas reforça a impressão de falta de planejamento.

Uma reforma ministerial também é urgente. O atual ministério, desunido e marcado por desconfianças internas, não colabora para uma narrativa de governo coesa e efetiva. Essa configuração confusa parece mais uma farta distribuição de cargos do que um plano coerente de governo. O presidente precisa de uma equipe mais integrada e capaz de enfrentar os desafios com unidade e clareza. E dar a mensagem real do que está em curso na economia do país.

Até aqui Lula 3 se apresenta como uma versão deteriorada de Lula 1, correndo o risco de se transformar em um Dilma 2 se não reconhecer a gravidade da crise de credibilidade e a fragilidade gerencial do governo. Mas o potencial do Brasil e a qualidade de suas instituições não devem ser subestimados, assim como a capacidade de Lula de se reinventar. O tempo está passando. Sem ações decisivas, 2025 pode ser pior do que está agora.

Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2025, edição nº 2925

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