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Murillo de Aragão

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Irmãos siameses

Lula e Bolsonaro dependem um do outro para existir

Por Murillo de Aragão Atualizado em 27 jun 2025, 10h58 - Publicado em 27 jun 2025, 06h00

O governo Lula parece trabalhar diariamente para dificultar a própria reeleição em 2026. A sequência de equívocos, recuos e declarações desastradas vem marcando negativamente a administração e criando uma imagem de instabilidade e insegurança política. Outro fator agravante é a centralidade dada à primeira-dama, Janja da Silva, cuja influência crescente faz com que ela seja percebida como uma espécie de eminência parda no Planalto. Essa dinâmica, somada às rusgas com o Congresso e à falta de arbitragem presidencial nas tensões entre a equipe econômica, demais ministros e a Casa Civil, agrava as disputas internas e torna o ambiente decisório mais conflituoso e improdutivo.

Apesar da sua inapetência para governar, o presidente Lula (PT) ainda possui três vantagens competitivas para as eleições de 2026. A primeira é o fato de deter a máquina pública, cujo poder pode ser decisivo em uma disputa apertada. Em segundo lugar, Lula tem uma reconhecida habilidade como candidato. Sua vasta experiência em palanques e na criação de narrativas ambíguas mostra que ele é mais eficaz conquistando votos do que administrando o país. A terceira vantagem reside na própria figura de Jair Bolsonaro (PL) — as constantes declarações inconvenientes e suas polêmicas transformam o ex-presidente no mais eficiente cabo eleitoral de Lula.

“Os dois líderes se tornaram reféns da polarização que eles mesmos criaram”

Bolsonaro obstruiu o debate sobre a candidatura única da oposição, querendo reter o poder de abençoar um candidato escolhido por ele. O ex-presidente, por sua vez, depende profundamente de Lula. Cada crise do governo petista — seja nas tensões com o Supremo Tribunal Federal, seja nas polêmicas envolvendo a primeira-dama, ou nos embates fiscais que geram instabilidade no mercado — fortalece automaticamente a narrativa bolsonarista de que o país precisa de uma “correção de rumos”. O ex-presidente se alimenta sistematicamente dos tropeços governamentais e explora a percepção de descontrole institucional. Essa dinâmica cria um ciclo perverso, onde os erros de um se transformam automaticamente em capital político do outro.

Paradoxalmente, quanto mais alinhado ao bolsonarismo for um eventual candidato da oposição, maiores serão as chances de Lula, pois isso mantém vivo o antibolsonarismo com postura relevante na escolha eleitoral. Por seu lado, a estratégia bolsonarista de obstruir candidaturas moderadas e insistir em nomes radicalizados demonstra como o ex-presidente também depende da manutenção da polarização radicalizada para sobreviver politicamente. As circunstâncias revelam como os dois líderes se tornaram reféns da polarização que eles mesmos criaram. Lula não consegue se mover ao centro sem decepcionar sua base mais radical, enquanto Bolsonaro não pode moderar seu discurso sem perder sua identidade política. Ambos ficam presos em uma dança política em que cada movimento de um determina a resposta do outro, criando um sistema de dependência mútua que limita as opções democráticas do país.

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No fim das contas, Lula e Bolsonaro funcionam como irmãos siameses na política brasileira: um depende do outro para existir politicamente. Eles são, ao mesmo tempo, nêmesis e complemento um do outro, alimentando uma polarização que limita as opções do eleitorado e reforça mutuamente a presença de ambos no cenário nacional.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950

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